RENATO GRANDELLE E SÉRGIO MATSUURA
Pouco tempo atrás, os climatologistas acreditavam que, se a temperatura global avançasse menos de 2 graus Celsius, boa parte do caos ambiental previsto para as próximas décadas poderia ser domado.
Agora, um relatório lançado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) exige metas mais ambiciosas, “rápidas” e “sem precedentes”, que restrinjam o aumento dos termômetros a 1,5 grau Celsius em relação aos níveis pré-industriais. Se políticas adequadas não forem estabelecidas, no entanto, esse marco pode ser atingido entre 2030 e 2052.
Se o aquecimento global ultrapassar esse patamar, haverá consequências para a saúde humana e a biodiversidade. As emissões de dióxido de carbono( CO 2) precisam ser zeradas até 2050, oque exigirá o desenvolvimento de tecnologias capazes de remover o gás da atmosfera. Essas iniciativas, assim como o crescimento das fontes renováveis de energia e a produção de biocombustíveis, exigirão um investimento médio anual no sistema energético de aproximadamente US$ 2,4 trilhões entre 2016 e 2035.
O documento “Aquecimento global de 1,5° C” foi encomendado pelos 195 países signatários do Acordo de Paris durante a Conferência do Clima na capital francesa, em 2015. Segundo o relatório, se o planeta aquecer 1,5° C, a elevação do nível domar será dez centímetros menor do que a constatada caso os termômetros aumentem 2° C.
Com isso, dez milhões de pessoas que vivem em regiões baixas e vulneráveis a alongamentos não precisariam ser deslocadas.
A probabilidade de o Oceano Ártico descongelar completamente durante o verão seria de uma vez por século, contra pelo menos uma vez a cada década com o mundo 2° C mais quente. Se a temperatura atingir esse marco, é possível que todos os recifes de coral desapareçam, impactando profundamente a biodiversidade marinha. Com um aumento de 1,5° C, seria possível salvar entre 10% e 30% desse ecossistema.
— Cada pequeno acréscimo no aquecimento importa, especialmente porque superar 1,5° C aumenta os riscos associados de mudanças de longo prazo ou irreversíveis, como a perda de alguns ecossistemas — alerta Hans-Otto Pörtner, coautor do relatório, elaborado por cientistas de 40 países com base em mais de 6 mil estudos sobre o tema.
A perda de territórios irá gerar uma onda de refugiados climáticos. Secas e enchentes mais frequentes levarão destruição a regiões do planeta antes não afetadas por esses fenômenos. Com temperaturas mais altas, vetores de doenças tropicais vão avançar para regiões de clima mais ameno, com impacto direto na saúde pública. Hoje, segundo o relatório, o mundo já superou a barreira de 1° C, e eventos extremos são cada vez mais comuns.
— Os cientistas queriam escrever em letras garrafais: “AJAM AGORA, IDIOTAS”, mas eles precisavam dizer isso com fatos e números — comenta Kaisa Kosonen, que participou das negociações pelo Greenpeace.
Os cientistas reivindicam mudanças rápidas nas fontes de energia e no uso da terra e transformações nas cidades e nas indústrias. Mas acrescentam que o mundo não alcançará essas metas sem mudanças no estilo de vida das populações. Todos somos responsáveis pelo futuro do planeta, ao tomar medidas como usar carros, em vez de bicicletas e transporte coletivo.
— O relatório fornece aos formuladores de políticas as informações necessárias para que tomem as decisões que barrem a mudança climática, enquanto considera contextos locais e as necessidades das pessoas—explicou Debr aR oberts, também participante do estudo. — Os próximos anos serão provavelmente os mais importantes na História.
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