Quase três anos depois do maior desastre ambiental do Brasil, só agora é fechado acordo de indenização das vítimas
Em poucos minutos tudo foi destruído. Dezenove pessoas estavam mortas, o vale do Rio Doce sem vida e o pequeno vilarejo de Bento Rodrigues em ruínas, sob a lama.
A maior tragédia ambiental do Brasil aconteceu no dia 5 de novembro de 2015, quando houve o rompimento da barragem de Fundão, da mineradora Samarco, que despejou um mar de resíduos tóxicos na bacia do Rio Doce, próximo à Mariana, em Minas Gerais.
Nenhuma sirene de alerta foi soada. Os moradores simplesmente viram uma mar de lama chegando em sua direção e carregando tudo pela frente.
E apenas esta semana – quase três anos após o desastre – finalmente foi fechado o acordo com a empresa para a indenização das vítimas.
O documento foi assinado pelo Ministério Público Federal de Minas Gerais, a Defensoria Pública, a Samarco e os atingidos, acompanhados da Assessoria Técnica Cáritas, escolhida por parte deles para representá-los.
A Fundação Renova, formada por membros da Samarco, fruto da sociedade de duas gigantes do setor petrolífero – a brasileira Vale e a anglo-australiana BHP Billiton -, e entidades do setor público, além de organizações não governamentais, foi criada para administrar a crise e ajudar a população que ficou desamparada.
Pelo termo ficou decidido que cada morador – individualmente – terá que negociar diretamente com a Renova o valor de sua indenização. Apesar da decisão parecer bastante desfavorável para as vítimas, em entrevista ao jornal Estadão, o promotor Guilherme de Sá Meneghin, responsável pelo acordo, afirmou que “asseguramos assessoria jurídica a todas as vítimas. Não há problema. Tudo vai ser acompanhado. As famílias serão orientadas”, garantiu.
Ainda segundo Meneghin, o custo total das indenizações chegará a R$ 2 bilhões.
Durante o processo de levantamento de danos, feito pela Fundação Renova, foram feitas diversas reuniões com as vítimas e a entrega de um cadastro de indenização. Todavia, os moradores de Bento Rodrigues e região (que tiveram tudo destruído) não aceitaram o modelo e pediram alterações, por isso, neste caso, o cadastro será conduzido pela Cáritas.
De acordo com a Fundação Renova, entre os municípios de Barra Longa até a Foz, mais de 7.000 famílias já teriam recebido suas indenizações finais.
Mas ainda faltam os 3 mil atingidos de Bento Rodrigues e municípios vizinhos que, na verdade, podem chegar a ser até 4 mil, afirma Guilherme de Sá Meneghin.
O que mais causa estranheza no documento é o prazo – pra lá de longo – para o pagamento das indenizações que ainda faltam. Algo que parece inaceitável. O “calendário” tem previsão para que os cadastros para as futuras negociações sejam entregues até fevereiro do ano que vem. Isso mesmo, 2019!
Depois disso, são mais três meses para que a Fundação Renova apresente uma proposta e a partir daí, tenha ainda UM ANO para concluir todo o processo. Ou seja, somente em 2020, cinco anos após o acidente.
É muito tempo para reparar um crime social e ambiental de tão grandes proporções.
Procurada pelo Conexão Planeta para confirmar as datas do calendário divulgadas pelo Estadão, a assessoria de imprensa da Fundação Renova enviou a seguinte resposta: “Desde que concluídas as etapas do cadastro (formulário e vistoria), os atingidos, se assim desejarem, já podem procurar a Fundação Renova para negociar e dar sequência ao seu processo de indenização final. Caso queriam, poderão também aguardar o relatório elaborado pela Caritas para então negociar a indenização“.
Em março deste ano, mostramos aqui, neste outro post, uma denúncia publicada pelo jornal britânico The Guardian, o procurador da República José Adércio Leite Sampaio, coordenador da força-tarefa criada pelo Ministério Público Federal (MPF) para investigar o inquérito sobre o desastre ambiental, afirmou que seis meses antes do colapso da barragem, a Samarco recebeu uma avaliação de risco sobre os impactos do possível acidente.
Mas segundo Sampaio, mesmo tendo conhecimento da tragédia iminente, a companhia não fez nada. Pelo contrário, aumentou o ritmo da produção e decidiu cortar custos.
“Eles priorizaram lucros e deixaram a segurança em segundo lugar”, disse o procurador em seu parecer sobre o caso na época.
O resultado deste crime ambiental que jamais será esquecido pode ser visto nas fotos comoventes, feitas na época, pelo fotógrafo Leonardo Merçon:
*Com informações do jornal Estadão
Fotos: Antonio Cruz/Fotos Públicas (abertura) e demais Leonardo Merçon/Instituto Últimos Refúgios
Jornalista,
já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo
da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante seis anos. Entre 2007
e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para várias publicações
brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e
Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças
climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e
meio em Londres, acaba de mudar para os Estados Unidos
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