Os países que assinaram o Acordo de Paris, em 2015, apresentaram metas que, se cumpridas, provocarão um aumento da temperatura global de 3 graus Celsius. É possível adotar compromissos mais ambiciosos?
Sim, e também é necessário, porque o novo relatório mostra os possíveis impactos à agricultura e à integridade dos oceanos. E as ações devem ser imediatas —quanto mais demorarmos, mais difícil e custosa será qualquer operação. O ideal é adotarmos as políticas necessárias, como nos desvencilhar de térmicas a carvão, entre 2020 e 2025.
Este é o primeiro grande relatório climático sem a presença dos EUA, já que o presidente Donald Trump afirmou que quer se retirar do Acordo de Paris. Como garantir o seu sucesso?
Mesmo sem Trump, diversas cidades e estados americanos, como Nova York e Califórnia, estão interessados em cumprir metas contra o aquecimento global. Juntos, eles têm mais poder do que o governo federal.
Ainda assim, a saída dos EUA não desanima outros países?
Não. A União Europeia já reafirmou seu compromisso com o combate às mudanças climáticas. A China também investe pesadamente no setor, com medidas como a promoção de energia solar e o incentivo aos carros elétricos. Também há outros aspectos importantes que podem inibir a adoção de combustíveis fósseis: o Banco Mundial, por exemplo, cortou o financiamento da construção de térmicas a carvão. E países que dependem muito de petróleo terão seus campos envelhecidos nas próximas décadas. É o caso do Oriente Médio.
O senhor acredita que o novo relatório despertará a comunidade internacional sobre a importância de estabelecer novas metas contra as emissões?
Tenho de fingir que estou otimista. Foi bom saber que ainda dá tempo de fazer um avanço expressivo. O ponto negativo é que temos pouco tempo. Adotar medidas sai caro. Mas será ainda mais custoso se nada for feito.
A bancada ruralista do Congresso brasileiro, tradicionalmente oposta a políticas ambientais, aumentou nesta eleição. Será um problema?
Vimos declarações assustadoras sobre a questão ambiental. Mas já provamos que lutar contra a mudança climática não impede o crescimento da agropecuária. Vamos esperar a eleição do presidente para ter mais definições. Vale lembrar que o Brasil é um dos países mais vulneráveis do mundo ao aumento da temperatura global.
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