Direita já!
Folha de São Paulo
O autor destas mal traçadas ficará feliz se estiver errado. Avalia que a presidente Dilma Rousseff vai se reeleger no ano que vem. Como não vê vantagem em confundir seu gosto pessoal (não votará nela de jeito nenhum!) com os fatos, escreve o que acha. A razão de seu realismo, nunca de seu desencanto, é que não acredita em candidatura de oposição sem valores de oposição.
Segundo pesquisa Datafolha, publicada por esta Folha no domingo, no cenário mais provável, se a disputa fosse hoje, Dilma seria reeleita no primeiro turno, com 47% dos votos. Aécio Neves ficaria em segundo, com 19%. Em terceiro, viria Eduardo Campos, com 11%. Há, como sempre, tempo o bastante para o inesperado, mas ele é insuficiente para plasmar uma nova esperança.
O Brasil insiste em ser a exceção. A elite intelectual e a imprensa não sabem ou fingem não saber --pouco importa se é burrice ou má-fé-- a diferença entre direita democrática e extrema direita.
Sufocam o debate com sua ignorância bem-intencionada, com sua má-fé ignorante e, às vezes, até com seu humor iletrado.
Extrema-esquerda e esquerda divergem nos métodos, não na ambição de subordinar a sociedade a um ente de razão que, num primeiro momento, a domine e, depois, a substitua, pouco importando se pensam num partido ou num conselho de sábios.
Já a extrema direita é o avesso da direita democrática; a diferença é de essência, não de grau, como já demonstrou Olavo de Carvalho.
Isso é história, não opinião. Procurem os respectivos manifestos dos vários fascismos do século passado. Seu verdadeiro inimigo é o liberalismo, não o comunismo, no qual os fascistas sempre reconheceram o queixo de papai... "Direita", no entanto, virou palavrão no Brasil. Na academia, o liberalismo é tratado como sinônimo de exclusão social.
Mas inexistem por aqui os republicanos, os conservadores ou os democratas-cristãos. As referências de progresso social e político de alguns dos nossos intelectuais não são os EUA, a Grã-Bretanha ou a Alemanha, mas a Venezuela, o Equador e Cuba.
Há muito tempo a oposição é prisioneira dessa falácia e não só evita o
confronto de valores como aceita que o PT seja o seu juiz ideológico. Ao
disputar o poder, perde-se num administrativismo etéreo. Alguns
cronistas, achando que a rendição é insuficiente, recomendam-lhe que vá
ainda mais para a esquerda e tente tomar do PT a bandeira do
distributivismo da pobreza. Seria seu último suspiro.
Direita já! Em nome do futuro.
twitter.com/reinaldoazevedo
Reinaldo Azevedo, jornalista, é colunista da Folha e
autor de um blog na revista "Veja". Escreveu, entre outros livros,
"Contra o Consenso" (ed. Barracuda), "O País dos Petralhas" (ed. Record)
e "Máximas de um País Mínimo" (ed. Record). Escreve às sextas-feiras.
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