sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Os tres neuronios de Dilma

19/12/2013
às 17:59 \ Direto ao Ponto

O vídeo com as três lições de Dilma: a porta de saída é uma porta de entrada, pintar a unha acelera a inclusão social e a crise é um W com uma perna mais profunda

ATUALIZADO ÀS 17H59


Nesta quarta-feira, os jornalistas que dão plantão no Palácio do Planalto ganharam de Dilma Rousseff um café da manhã e uma entrevista coletiva. Durante mais de uma hora e meia, a presidente despejou sucessivas provas de que o Brasil é governado por alguém capaz de não dizer coisa com coisa sobre tudo. 

 Seguem-se três dos melhores-piores momentos do falatório. Como parece mentira, quem duvidar pode conferir o vídeo, que reúne a trinca de declarações amalucadas, ou consultar a transcrição da conversa no Blog do Planalto. Breves observações do colunista aparecem entre parênteses:

NEURÔNIO LETRADO

“Então, do meu ponto de vista acho que 2013 foi o momento em que a chamada crise, que muitos… muitos economistas internacionais discutiam se era em U, se era em V, se era em W, né? Ela é, eu acho, que num W mais profundo para esse momento, se você olhar do ponto de vista da economia internacional como um todo. De alguma economia pode até dizer: olha, foi pior no primeiro momento, lá em 2009. Eu acho que foi pior quando se aprofunda a crise da Europa que se combina com a crise americana, e além disso, com uma redefinição da economia chinesa. E isso indica uma perna para baixo do W mais profunda”.


(Primeiro, Dilma esclarece que 2013 não foi um ano, mas o momento em que a “chamada crise” decidiu virar letra. Depois, avisa que estudou suficientemente o tema para garantir que a crise não é um U nem um V. É um W, só que diferente. Os interessados em conhecer a letra com cara nova precisam olhar ao mesmo tempo a confusão europeia, a crise americana e a economia chinesa. Quem faz isso enxerga nitidamente um W com uma perna para baixo e mais profunda. A doutora em nada não contou se a perna é a esquerda ou a direita).

NEURÔNIO EDUCATIVO

“A questão da educação é uma questão fortíssima no Brasil. Acho que ela é, o Brasil hoje é um país, do meu ponto de vista, que tem na educação o seu grande caminho, porque, através da educação eu estabilizo a saída da miséria e a ida pra classe média. Só através da educação que nós vamos estabilizar, e educação de qualidade, senão você não estabiliza, ou então a pessoa fica lá. Então, discutiam muito porta de sauída (sic). A grande porta de saída é uma porta de entrada: é a educação”.

(Segundo Dilma, a estrada que leva da miséria para a classe média, ou vice-versa, passa por uma porta que abre, fecha, ameaça cair ou esbanja estabilidade conforme os humores do sistema educacional. O Celso Arnaldo talvez saiba que lugar é esse onde “a pessoa fica lá”. Mas mesmo o nosso grande especialista em dilmês terá dificuldades para resolver a complexa charada exposta pelo neurônio solitário: se a porta de saída é uma porta de entrada, como alguém vai saber se entrou ou saiu?)

NEURÔNIO INCLUSIVO

“Nesse Pronatec do Brasil Sem Miséria nós já formamos 850 mil pessoas. E formar 850 mil pessoas é dar a eles condição de ter uma profissão. Você forma de ajudante para tratamento de idoso até a quantidade imensa de cabeleireira que tem nesse país, né meninas? Vocês sabem que nós somos um dos países com maior consumo na área de indústrias da beleza. E, não… e prolifera essa questão. É uma… é uma… Faz parte da inserção, eu acho, da mulher no mercado de trabalho. Não sei se vocês viram essa mulher formada no Pronatec, era engraçadíssima, a unha era desse tamanho assim, pintada assim, toda bonita pintada, e ela era torneira mecânica. Estava formando em torneira mecânica. Mulher vai para torneira mecânica de unha pintada. Acho que esse é um processo inclusivo”.

(“Estava formando em torneira-mecânica” tem jeito de enigma a ser desvendado por Celso Arnaldo, mas é só um besteirol à procura do “se” que sumiu. Também não deve perder tempo tentando descobrir o que significa “E prolifera essa questão”. É só outro desfile de vogais e consoantes sem começo, sem meio e sem fim. Mora na última frase o espesso mistério a decifrar: como é que se faz para transformar em “processo de inclusã”o uma unha pintada? E qual é a cor ideal para a unha de quem caça algum emprego que lhe permita trabalhar menos e ganhar mais?)

Não é fácil entender como alguém assim ganha uma eleição presidencial. Mais difícil ainda é entender como é que se consegue ser derrotado numa eleição por alguém assim.
 
Augusto Nunes

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