sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

É como colocar alcoólatra em bar, diz médico sobre programa na cracolândia.





Prefeitura se antecipa e inicia retirada da 'favelinha' da cracolândia.

 


A Prefeitura de São Paulo antecipou para a tarde desta terça-feira (14) o início da retirada da "favelinha" da cracolândia, na região central.

Cerca de 40 barracos foram retirados da calçada da rua Helvétia, entre a alameda Dino Bueno e a rua Cleveland.

Os sem-teto deixaram o local pacificamente e estão sendo levados para hotéis do entorno.
A operação estava marcada para amanhã, mas foi antecipada porque, sabendo que seriam removidos, os próprios sem-teto iniciaram o desmonte dos barracos nesta manhã.

Por causa disso, a prefeitura enviou equipes das secretarias de Saúde, Assistência Social e de Segurança Urbana, dando início à retirada.

Também participam da operação a Polícia Militar, a Guarda Civil Metropolitana e a ONG União Social Brasil Gigante –que assinou convênio emergencial com a prefeitura para gerir as ações na cracolândia.

Amanhã, segundo a prefeitura, será desmontado o restante dos barracos localizados nos dois lados da Dino Bueno. Estima-se que a "favelinha" chegou a ter 180 barracos.

O tenente da PM Willian Thomaz, responsável pela área, afirmou que a ação antecipada serviu como um teste para a quarta-feira. Como a remoção de hoje foi pacífica, ele espera que isso seja um indicativo do que ocorrerá amanhã.

De acordo com o projeto da prefeitura, cada usuário deverá desmontar seu próprio barraco, conforme for indicado para uma das 400 vagas em quatro hotéis da região.

O programa municipal prevê ainda o pagamento de R$ 15 por dia aos usuários em troca de quatro horas de trabalho, mais duas horas de requalificação profissional. Poderão participar do programa de trabalho apenas aqueles em tratamento médico.
Apu Gomes - 15.jan.14/Folhapress
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Garis recolhem entulho após a retirada de barracos da 'favelinha' da cracolândia, em SP

É como colocar alcoólatra em bar, diz médico sobre programa na cracolândia


O psiquiatra Ronaldo Laranjeira, coordenador do Programa Recomeço, do governo do Estado, defende que o viciado seja afastado do ambiente em que está acostumado a consumir drogas. Por isso, acha pouco provável o sucesso da iniciativa da prefeitura. 

O programa que ele coordena está baseado no resgate dos dependentes químicos para serviços de saúde, oferecendo vagas em clínicas especializadas e nas chamadas comunidades terapêuticas.
Para Laranjeira, só depois de ter o vício e suas consequências estabilizadas é que o dependente deve começar a trabalhar. "Em alguns casos, leva-se meses", afirma.

Desmontagem da 'favelinha' na cracolândia



Apu Gomes - 15.jan.14/Folhapress
 
Garis recolhem entulho após a retirada de barracos da 'favelinha' da cracolândia, em SP

Folha - O senhor acredita na abordagem feita pela prefeitura?
 
Ronaldo Laranjeira - Torço muito para que dê certo, mas acho pouco provável.
O mais crível é que essas pessoas façam dos hotéis novos locais de uso. Os usuários foram colocados todos juntos, assim, manteve-se a lógica da rua, uma lógica que não tem muita ética.

Seria preciso retirá-los de vez da cracolândia?
 
É preciso ter um componente social terapêutico.
Quando ele vai para uma comunidade terapêutica, ele precisa reaprender a viver em sociedade.
Deixá-los na cracolândia é o equivalente a colocar um alcoólatra para trabalhar dentro de um bar.

Qual seria o melhor protocolo para o tratamento, em sua opinião?
 
Conceitualmente, deve-se estabilizar a pessoa e retirá-la do ambiente de trabalho.
Na sequência, se faz o tratamento e só depois vem o trabalho. Em alguns casos, leva-se meses até que a pessoa consiga se estabilizar minimamente para trabalhar.


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