quarta-feira, 19 de março de 2014
Sidney Silveira
SEPARAR
CRESCENTEMENTE AS RAZÕES DE ESTADO da "virtus" cristã foi a tragédia
política da modernidade — geradora dos maiores genocídios de que se tem
notícia, sobretudo a partir do momento em que a revolução francesa
guilhotinava as cabeças dos desafetos, afogava crianças e mulheres
camponesas nos rios e praticava atos de antropofagia à luz do dia, entre
outras benemerências dos novos cidadãos para com o povo. A propósito, a
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, serviu para
empilhar tantos mortos que a França naquela ocasião deixou de ser a
nação mais populosa da Europa, dando então lugar à Alemanha...
Após séculos
de luta intestina do poder material por desvencilhar-se completamente
de qualquer princípio espiritual superior (gestada desde o final da
Idade Média), a definitiva recusa da Cruz apresentada pela Igreja
militante ao mundo, ao final do século XVIII, logo levou as sociedades
ocidentais ao patíbulo do liberalismo, quimera individualista baseada
numa falsa noção de liberdade. E do liberalismo, em todas as suas
configurações, ao comunismo, ao fascismo e ao nazismo, quimeras
coletivistas totalitárias.
O liberal —
sobretudo se se diz católico — está impossibilitado de compreender a
dimensão dessa fratura nascida do laicismo que serviu como um dos
motores da revolução francesa, a qual vê com culpável benevolência. Não
por outro motivo, a sua análise da luta pelo poder global dos dias de
hoje, por sofisticada que seja, está amputada da premissa maior. Por sua
vez, comunistas, fascistas e neonazistas sequer a vêem.
Entre míopes voluntários e cegos hereditários está o destino do mundo contemporâneo.
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