Lula acha que ela deu ‘tiro no pé’ ao falar sobre refinaria superfaturada
21 de março de 2014 às 8:15
O ex-presidente Lula, cujo governo pagou US$ 1,1 bilhão por uma
refinaria que valia US$ 42,5 milhões nos Estados Unidos, acha que a
presidenta Dilma Rousseff deveria ter ficado calada, e que deu “tiro no
pé” ao divulgar nota tentando esclarecer seu papel na negociata, como
ministra da Casa Civil e presidente do conselho de administração da
Petrobrás.
Lula criticou a estratégia de Dilma de jogar dúvidas sobre o
embasamento técnico e jurídico apresentado para a compra pela Petrobras
da refinaria em Pasadena (EUA).
O jornal Folha de S. Paulo informou que o
ex-presidente, em conversas reservadas, criticou sua sucessora por
“agir por impulso”, na tentativa de tirar o foco das investigações do
negócio sobre ela, temendo desgaste político em ano eleitoral.
Mas
acabou levando para o Planalto uma crise que era só da Petrobras.
Em 2006, quando presidia o Conselho de Administração da petroleira,
Dilma votou a favor da compra de 50% da refinaria de Pasadena, pelo
valor total de US$ 360 milhões. Esse preço pago à empresa belga Astra
Oil por 50% da refinaria foi oito vezes maior do que o valor pago pela
empresa pela unidade inteira, no ano anterior.
A Petrobras também teve
de desembolsar mais US$ 820,5 milhões para concluir o negócio, pois foi
obrigada a comprar os outros 50% da refinaria, em função de uma cláusula
no contrato, que se acredita parte do esquema, estabelecendo que, em
caso de desacordo, um sócio deveria comprar a parte do outro.
A compra é
investigada pelo Tribunal de Contas da União, Ministério Público do Rio
e pela Polícia Federal.
Blog CoroneLeaks
No entanto, segundo coluna de Eliane Catanhede, na Folha de São Paulo, há várias perguntas a responder:
1 - Como a tão centralizadora e
detalhista Dilma, então chefe da Casa Civil e presidente do Conselho de
Administração da Petrobras, votou a favor de uma operação tão esquisita?
2 - Se havia todo um detalhamento
da proposta, por que Dilma e os conselheiros, que são bem remunerados,
contentaram-se com um mero resumo agora criticado como "técnica e
juridicamente falho"?
3 - Como, à época, o diretor
internacional da Petrobras, Nestor Cerveró, pivô da crise, acabou diretor
financeiro da BR Distribuidora?
4 - E como o presidente Gabrielli
virou secretário do governo da Bahia, subordinado ao governador petista Jaques
Wagner, e até é um dos pré-candidatos à sua sucessão?
5 - Mas a mais importante questão
de todas, no caso Pasadena, é aritmética: como, quando e por que pagar US$ 360
milhões pela metade de uma refinaria que acabara de ser vendida um ano antes,
integralmente, por US$ 42,5 milhões?
6 - E a cláusula que obrigava uma
das partes a comprar 100% da refinaria em caso de divergências não acendeu
nenhum sinal amarelo?
7 - É comum uma refinaria de US$
42,5 milhões passar a valer mais de US$ 1 bilhão num passe de mágica?
8 - Por que Dilma ficou esses
anos todos calada e agora resolveu soltar uma nota jogando o escândalo dentro
do Palácio do Planalto? Ela quis se antecipar a outros dados que estão para
pipocar?
9 - Nessa nota, Dilma disse que,
se todas as cláusulas fossem conhecidas, "seguramente" a compra da
refinaria de Pasadena não seria aprovada. Admitiu, assim, que o negócio foi um
verdadeiro escândalo?
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