sábado, 8 de março de 2014

Perdemos o controle de Brasília e seremos condenados por isso

   

 


Por Renato Riella, publicado originalmente no Blog do Riella


A geração dos brasilienses que têm entre 30 e 70 anos hoje entrará na história como aquela que fez Brasília e as demais áreas urbanas se perderem. São tantos os abusos praticados na estrutura urbana do Distrito Federal que podemos considerar o sonho de JK perdido.

A Capital Federal será um caos.

Não adianta dizer que a Câmara Legislativa adiou para o próximo ano a votação do Plano de Preservação do Conjunto Urbanístico de Brasília (PPCUB). Este documento é complexo e discutível, mas antes dele todos os estragos já foram feitos. Acabará aprovado de forma trágica, como sempre.


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Um dos maiores absurdos em Brasília é o adensamento criminoso permitido para a área próxima ao Parkshopping. Governos futuros gastarão bilhões de reais e não conseguirão dar condições razoáveis de uso para as vias que passam naquela área.


Lembremos nós, os mais velhos, da venda do antigo Pelezão, feita pela Confederação Brasiliense de Futebol ao empresário Paulo Octávio. Na época, alegou-se que o enorme terreno ocupado por um velho estádio tinha destinação específica, não podendo ser usado para especulação imobiliária.


Vimos que a negociação foi mantida e o setor acabou repassado a outros empresários, resultando na construção de enormes prédios numa região que já vivia entalada.


O mesmo vale para muitas outras áreas, como Águas Claras, onde o planejamento original previa prédios de até 12 andares, mas hoje há construções com quase 30 andares. Águas Claras, sabemos bem, é um caos crescente, agravado pela falta de investimento no Metrô, que seria o principal meio de transporte da região.


Houve construções complicadas no Guará e em muitas outras cidades, inclusive no Sudoeste, que revelou-se uma área problemática, onde engarrafamentos infernizam os moradores.


Na beira do Lago Paranoá, surgiram condomínios residenciais como Ilhas do Lago, vetados originariamente no DF, mas implantados como se fossem hoteis.


Temos agora a perspectiva da criação de uma monstruosa cidade (monstruosa de monstro, mesmo), abrangendo parte de São Sebastião e Santa Maria, que poderá estourar o trânsito na Ponte JK, entre outros graves problemas.


Tivemos em 2009 a aprovação do Plano Diretor de Ordenamento Territorial do DF (PDOT), quando se sabe que o lobby imobiliário da cidade comprou o voto de pelo menos 19 deputados distritais.


Com isso, enormes áreas do DF que eram definidas como rurais foram transformadas em urbanas. Houve o caso da valorização por dez ou vinte vezes de lotes, com a simples mudança de destinação.


Tudo isso em meio ao escândalo da Caixa de Pandora, mas ainda assim as principais aberrações permaneceram, condenando as gerações futuras do DF a viver uma vida infernal, como cidades problemáticas que proliferam pelo Brasil.

Assim, teremos agora o PPCUB. Mantidas as condições vigentes nos últimos tempos, será mais um instrumento de condenação para a Brasília feita (mal feita) pelas nossas gerações.

 

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