by Davi Caldas |
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Quanto mais eu observo a esquerda política e procuro entender o seu modo de pensar, mais eu descubro contradições em seus discursos. E eu não sou o tipo de pessoa que procura ridicularizar aquilo que não conhece. Um bom argumento realmente tem poder para me fazer parar, refletir e cogitar a hipótese de que ele esteja correto. Diversas vezes já fiz isso. Contudo, a esquerda política se supera na formulação de discursos contraditórios, o que torna a cada dia mais remota a possibilidade de eu me tornar esquerdista. Resolvi fazer um apanhado dos principais deles.
Quanto mais eu observo a esquerda política e procuro entender o seu modo de pensar, mais eu descubro contradições em seus discursos. E eu não sou o tipo de pessoa que procura ridicularizar aquilo que não conhece. Um bom argumento realmente tem poder para me fazer parar, refletir e cogitar a hipótese de que ele esteja correto. Diversas vezes já fiz isso. Contudo, a esquerda política se supera na formulação de discursos contraditórios, o que torna a cada dia mais remota a possibilidade de eu me tornar esquerdista. Resolvi fazer um apanhado dos principais deles.
Um
dos discursos mais importantes para a esquerda é o de que a
desigualdade política e econômica, a discriminação, os assaltos, os
roubos, enfim, a maldade, tem suas causas em fatores externos ao ser
humano. A esquerda surgiu com este pressuposto. Para ela, não é o homem
que é ruim em sua essência, mas é a sociedade que está desestruturada e
que, por isso, corrompe a essência do homem. É claro que vão existir
esquerdistas mais moderados ou de viés religioso, que não compram
totalmente esta ideia.
Eles vão entender que há certa inclinação do ser humano à maldade, mas que a sociedade tem mais culpa na maldade do que o tem a natureza humana. Também crerão que uma mudança na sociedade pode reverter este quadro, a ponto de praticamente anular essa natureza humana falha. Em resumo, para a esquerda, somos fruto do meio. O meio nos molda, tanto para o bem, quanto para o mal. O meio tem influencia praticamente total em nossa personalidade, nossas tomadas de decisões e nossas escolhas.
Eles vão entender que há certa inclinação do ser humano à maldade, mas que a sociedade tem mais culpa na maldade do que o tem a natureza humana. Também crerão que uma mudança na sociedade pode reverter este quadro, a ponto de praticamente anular essa natureza humana falha. Em resumo, para a esquerda, somos fruto do meio. O meio nos molda, tanto para o bem, quanto para o mal. O meio tem influencia praticamente total em nossa personalidade, nossas tomadas de decisões e nossas escolhas.
Entretanto,
a mesma esquerda apresenta um discurso totalmente contrário quando se
coloca a defender a concepção de homossexualismo como uma inerência
biológica de certas pessoas. Neste discurso, o esquerdista dirá que o
homossexualismo não é uma escolha. “Ninguém escolhe ser homossexual.
Você nasce assim”, dirá a esquerda.
A ideia deste discurso é impedir que homossexualismo possa ser tão criticável como é qualquer escolha (como a de ser cristão, de ser budista, de fazer tricô, ou de jogar bola aos domingos). Ao colocar o homossexualismo como uma inerência biológica de um ser, qualquer um que o critique será comparado a alguém que critica um negro por ser negro, ou um cego por ter nascido cego.
A ideia deste discurso é impedir que homossexualismo possa ser tão criticável como é qualquer escolha (como a de ser cristão, de ser budista, de fazer tricô, ou de jogar bola aos domingos). Ao colocar o homossexualismo como uma inerência biológica de um ser, qualquer um que o critique será comparado a alguém que critica um negro por ser negro, ou um cego por ter nascido cego.
O
leitor percebe a contradição? Para defender reformas sociais, a
esquerda interpreta o homem como fruto do meio, o que o possibilita
mudar o destino do mundo. Mas para transformar o homossexualismo em algo
incriticável, ela interpreta o homem como escravo de sua natureza, o
que o impossibilita de mudar a si próprio. Uma ideia refuta a outra. Se o
homem é fruto do meio, o homossexualismo é uma escolha influenciada por
fatores externos e que pode ser mudada mediante uma reforma na
sociedade. Se o homem é escravo de sua natureza, então não é possível
reformar a sociedade, pois sempre haverá homens maus.
Vamos
ver outra contradição. Recentemente uma onda de protestos feministas se
iniciou na internet por conta de uma pesquisa feita pelo IPEA. A
pesquisa “revelou” que a maioria dos brasileiros acredita que uma mulher
que se veste indecentemente merece ser estuprada. A pesquisa foi uma
verdadeira vergonha por conter grotescos erros metodológicos (como a
formulação de perguntas ambíguas e tendenciosas) e por ter confundido os
gráficos, errando as porcentagens da pesquisa. No entanto, ela serviu
mesmo assim para levar as feministas a postarem fotos nas redes sociais
(muitas vezes seminuas) com as palavras “Eu não mereço ser estuprada” e
bradando que a culpa do estupro não é da roupa que a mulher usa, mas do
estuprador.
Eu concordo perfeitamente que a culpa do estupro é do estuprador. Mas
perceba que esse discurso, que é um discurso de esquerda (que pretende
fortalecer o feminismo e apontar para os conservadores e religiosos como
os defensores da ideia de que “a mulher indecente merece ser
estuprada”, a fim de minar o conservadorismo, a religião e a família
tradicional), contradiz o discurso esquerdista de que um homem e,
sobretudo, um menor de idade, se torna marginal por causa das mazelas
sociais. Esse discurso surge diretamente da ideia do homem bom por
natureza, mas corrompido pelo meio. Se o homem é bom por natureza, mas
corrompido pelo meio, a culpa de ter se tornado marginal é do meio e não
dele. Isso inclui principalmente o menor de idade, que ainda está se
desenvolvendo.
É
por isso que a esquerda não defende a prisão de menores que cometem
crimes (mesmo crimes hediondos) e deseja o abrandamento máximo das
punições para criminosos já maiores de idade. Em outras palavras, quando
você é assaltado ou agredido por um marginal que nasceu em lugar pobre e
repleto de crimes, a culpa do assalto não é dele; tampouco é culpa dele
o fato de ele ter se tornado criminoso. Logo, proteger o cidadão desse
criminoso (o que, na prática, significa puni-lo com o isolamento da
sociedade) é algo desnecessário e ultrajante. Não é o cidadão que
precisa ser protegido. É o criminoso que precisa ser reeducado, amado,
tratado, recuperado. A prioridade é o criminoso, pois ele não é o
culpado, mas sim a sociedade, o meio em que ele cresceu. E se a vítima
se opõe a este pensamento de priorizar o criminoso, ela automaticamente
se torna culpada pelo crime que sofreu, pois ela é uma das pessoas que
não prioriza a reeducação do criminoso e que ainda coloca em suas costas
a culpa de um crime que, na verdade, é da sociedade.
O
leitor percebeu a contradição? Em um discurso, o estuprador é o culpado
pelo crime que cometeu e não a vítima. Em outro discurso, o criminoso
que nasceu pobre e em lugar violento, não é culpado pelos crimes que
cometeu – a culpa é da sociedade, o que inclui todas as vítimas que
discordam disso. Um discurso anula o outro. Se a culpa é individual,
então tanto o estuprador quanto qualquer criminoso que nasceu em lugar
ruim são igualmente culpados por seus crimes. Se a culpa é da sociedade,
então tanto o estuprador quanto o criminoso que nasceu em lugar ruim
são inocentes. Neste segundo caso, as vítimas podem ter sua parcela de
culpa no crime por contribuírem, de alguma forma, para chamar a atenção
do “criminoso” ou para moldar o pensamento do meio em que ele nasceu.
Ainda
falando sobre estupro, outra contradição: Foi até o programa “Altas
Horas”, do apresentador Serginho Grosman, uma das líderes do movimento
nas redes sociais “Eu não mereço ser estuprada”. Em dado momento ela
disse que, por causa do movimento que iniciou, tem recebido várias
ameaças de estupro. Ela disse ainda que achava impressionante que a
maioria dos que faziam ameaças eram adolescentes. Em suas palavras:
“Eles acham o estupro algo engraçado e ficam brincando com isso. Mas
isso não é engraçado”.
Aqui,
mais uma vez, há uma contradição de discursos esquerdistas. Porque a
mesma esquerda que dá uma de moralista, dizendo que o assunto estupro
não deve ser tratado com irreverência, displicência e leviandade (como
se fosse algo normal e engraçado) incentiva os adolescentes a encararem o
sexo como irreverência, displicência e leviandade, fazendo a relação
sexual se tornar mero passatempo de criança, que pode ser feito com quem
quiser, em qualquer lugar, e que não há problema em se fazer piadas
pesadas e sujas com o assunto.
A
mesma esquerda quer que a educação sexual seja ensinada nas escolas
para crianças pequenas. A mesma esquerda não vê problema algum em que
crianças vejam pornografia e sejam estimuladas a pensar, falar e fazer
sexo desde a mais tenra idade. É ela que fala sobre revolução sexual,
sobre quebrar todos os tabus (o que significa, na prática, “dar pra todo
mundo” e incentivar isso) e quer destruir a ideia de sexo como o selo
de um matrimônio, como a união mais intensa entre o homem e uma mulher e
que, por isso, precisa estar acompanhada de uma união igualmente
intensa nas áreas mental, emocional e espiritual. É ela que faz do sexo
algo tão corriqueiro como apertar a mão de um conhecido, por exemplo. É
ela que vê com bons olhos os chamados “funks proibidões”, que são funks
que exaltam a imoralidade sexual (o adultério, a poligamia, o bacanal, a
sedução de menores, volubilidade) e tratam o assunto como algo
engraçado. Para a esquerda, isso é expressão cultural. É a expressão da
realidade do morro e das periferias. É bom. É bonito. É saudável.
Eu
me pergunto: como é que essa esquerda imoral, que quer criar uma
cultura de perversão sexual, pode reclamar que os adolescentes tratam a
questão do estupro como algo engraçado e normal? Isso contraditório! É
contraditório incentivar imoralidade e depois vir com um discurso
moralista desses.
Mais
uma contradição envolvendo a questão do estupro: se a culpa do estupro é
do estuprador, por que não se pune esses desgraçados com rigor? Por que
a esquerda não cria leis que inviabilizem a vida de estupradores e
pedófilos? É por que a mesma esquerda que coloca a culpa no estuprador,
não quer tornar as leis mais rígidas. E não quer fazer isso porque
considera que o criminoso comete crimes por causa do meio. Mas se o
criminoso comete crimes por culpa do meio, como o estuprador pode ser
culpado pelo estupro? E se ele é culpado pelo estupro, como se pode
defender leis brandas para criminosos?
As contradições não param por aí. Vamos falar sobre filhos. A esquerda
gosta de acusar a direita de dar aos seus filhos uma educação bruta, sem
amor, retrógrada. Por isso, gosta de enfatizar que nunca, jamais,
devemos bater em nossos filhos quando eles nos desobedecem, mas apenas
conversar com eles. Para a esquerda, isso é educar com amor. No entanto,
a mesma esquerda discursa a favor do aborto, argumentando que “a mulher
é dona do seu próprio corpo” (mais uma vez o maldito feminismo). Em
outras palavras, ela não leva em consideração que existe um ser vivo
dentro do corpo da mulher grávida, um ser humano, uma criança, um filho.
A vida da criança não interessa, mas apenas a vontade da mãe de
abortar. É esse o amor que os esquerdistas pregam?
Liberdades
individuais. A esquerda gosta de se colocar como a verdadeira defensora
das liberdades individuais. Por isso, é favorável a ideias como a
liberalização das drogas e a liberalização do aborto. Essas ideias
trazem, evidentemente, prejuízos diretos para terceiros, mas a esquerda
vê como direitos individuais. No entanto, a mesma esquerda não acha que
um homem tenha o direito de ter suas terras (a defesa das invasões do
MST e da reforma agrária nada mais é do que dizer: “Você não tem direito
a essas terras e nós vamos tomá-las contra sua vontade), de comprar uma
arma para se defender, de abrir e gerir uma empresa sem imensas
dificuldades burocráticas ou de não financiar, com seus impostos,
empresas e serviços públicos ineficientes. Aliás, para a esquerda, um
homem também não tem direito de educar seu filho como deseja. Ele
precisa rezar a cartilha do politicamente correto.
Corrupção
cristã. A esquerda brada contra corrupções no cristianismo. Ela deseja
ensinar que o cristianismo é um comércio e que os pastores são ladrões, e
faz pressão para que as igrejas paguem impostos. O roubo de dízimos e
ofertas é um ultraje para a esquerda e precisa ser evitado. No entanto,
dízimos e ofertas dão quem quer. Nenhum esquerdista é obrigado a dizimar
ou ofertar. Na verdade, dentro da lei civil, ninguém é obrigado a dar
dízimo ou oferta a igrejas. Isso é uma prática que se restringe a quem
quer seguir a religião. Então, a esquerda não tem absolutamente nada a
ver com isso.
Agora,
todos os cidadãos são obrigados a pagar impostos. Altos impostos.
Muitos impostos. E impostos que não são bem utilizados pelo governo.
Isso sim é um problema que afeta a todos. Mas a mesma esquerda que brada
contra o roubo de dízimos e ofertas que ela nem sequer tem obrigação de
dar, apóia o aumento de impostos sobre todos os cidadãos para financiar
mais empresas e serviços ineficientes do governo e permitir que mais
verbas sejam roubadas por governantes. Isso não só é contraditório como
desonesto. Aliás, o imposto que a esquerda quer que a igreja pague
também será roubado por governantes. Em outras palavras, a esquerda não
está interessada em ajudar os cristãos a não serem roubados. Ela está
interessada em passar a riqueza dos pastores ladrões para os políticos
ladrões.
Opressão
cristã. A esquerda adora falar sobre a opressão cristã. Ela afirma que o
cristianismo é uma religião que cria preconceitos contra a mulher e o
homossexual, que nos reprime sexualmente, que cria uma moral burguesa
hipócrita e etc. É claro que o esquerdista que é cristão ameniza essa
ideia para poder conciliar sua religião e sua posição política. Mas a
esquerda surgiu do pensamento iluminista anticristão e sempre se
destacou por criticar o cristianismo. Por isso, os países de maioria
cristã são severamente criticados pela esquerda, por seu moralismo, sua
defesa das tradições e sua “opressão” religiosa. Curiosamente, a mesma
esquerda costuma a adotar um discurso favorável aos países de maioria
islâmica ou, no mínimo, um discurso com críticas muito brandas e raras. A
impressão que fica é que o cristianismo e os países de maioria cristã
são mais opressores que o islamismo e os países de maioria islâmica. Mas
são justamente nos países islâmicos que mais vemos abuso dos direitos
humanos, como agressões à mulher e aos homossexuais (e dentro da lei,
aliás).
Guerras.
A esquerda adora posar de defensora da paz. Ela brada contra as guerras
feitas a países islâmicos e países comunistas, ao longo da história.
Também não gosto de guerras. E acho que muitas delas poderiam ter sido
evitadas. Mas a mesma esquerda que condena as guerras contra os países
que ela defende, não vê problema algum em guerras, violência e
assassinatos contra aqueles que ela entende como inimigos.
No Brasil,
por exemplo, algumas dezenas de pessoas foram mortas por ataques de
terroristas de extrema-esquerda na época do regime militar. Em todos os
países comunistas somados, milhões de pessoas morreram por inanição
forçada e por repressão do regime. Milhares de pessoas morrem todos os
anos em países islâmicos também por causa do autoritarismo dos mesmos.
As FARC, da Colômbia (que é criação da esquerda), e todas as facções
criminosas do Brasil, como CV, ADA e PCC (cujos integrantes não tem
culpa de seus crimes, mas são vítimas da sociedade, segundo a esquerda)
matam centenas de pessoas todos os anos. Esses assassinatos, porém, não
são considerados nos discursos da esquerda.
O
leitor pode estar pensando que eu sou um daqueles idealistas que joga a
culpa de todo o mal do mundo na esquerda e que acha que a direita é
perfeita. Mas não é verdade. Eu reconheço que a direita cometeu muitos
erros ao longo da história e que continuará cometendo. Também não acho
que a esquerda deve ser retirada do jogo democrático.
Uma democracia,
para funcionar, precisa ter tanto esquerda como direita. E eu sou capaz
de dizer que ambas podem contribuir para a melhora de problemas sociais.
Agora, que a esquerda tem discursos contraditórios, isso é fato
incontestável. Um esquerdista não é obrigado a comprar essas
contradições. Ele pode escolher apenas os discursos de esquerda que se
complementam, a fim de ter coerência. Mas isso dificilmente acontece. E
esse mais um dos motivos que me fazem não querer ser um esquerdista.
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