O GLOBO - 27/04
O governador Pezão está disposto a ser criativo no combate
ao tráfico, que desafia as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) na tentativa
de inviabilizar o principal projeto de segurança pública do governo do Rio.
Enquanto discute projeto que permitiria uma reurbanização mais rápida de locais
estratégicos nas comunidades onde atuam as UPPs, sem a necessidade de remoção
dos moradores, pretende fazer convênios com o programa do governo federal Minha
Casa Minha Vida para os casos em que a remoção seja necessária para os projetos
de urbanização, como ampliação de ruas e aberturas de passagens em becos e
ruelas das favelas.
Temos que ser criativos. Aqui no Rio, é um campo imenso para a gente inovar , diz o governador. Transformar as favelas em bairros é uma maneira mais ampla de tratar as ações sociais, tão necessárias para a consolidação da pacificação nos territórios anteriormente dominados pelo tráfico de drogas. Um enfoque diferente de serviço público, com efeito importante de mobilidade. Com o modelo urbano das favelas é muito difícil a solução, analisa Pezão.
É difícil fazer patrulhamento em becos, vielas, em que as
pessoas têm que andar até de lado. Quando você vê, de cima, do helicóptero,
esses becos, é impressionante. E quando se anda nesses locais na Rocinha, no
Jacarezinho, é uma coisa assustadora , comenta. O projeto prevê a abertura de
avenidas em certas comunidades, onde não entra carro da polícia, não entra
ambulância, do que se aproveita o tráfico para predominar.
Temos que ter planos de remoção, usar o Minha Casa Minha
Vida para esse trabalho social mais amplo , enfatiza Pezão, que pretende ir a
Brasília discutir diretamente com a presidente Dilma Rousseff essa questão
específica. Mas Pezão também procurará o ministro da Justiça, José
Eduardo Cardoso, para lançar uma discussão mais ampla: ele acha que é preciso
maior autonomia federativa para certas legislações, desde o Código Ambiental
até o Penal. Isso é guerra, é o tráfico internacional que está aqui.
Tem gente poderosa atuando aqui , ressalta Pezão, que lembra
que também é preciso mais ação do governo federal para ajudar o Estado do Rio
que, destaca, é cercado de estradas federais: Rio-Santos; Rio-Petrópolis. É
preciso ter um patrulhamento forte nas rodovias, na Baía da Guanabara. Não é um
problema só do Rio. É do país . A antiga reivindicação de que a Polícia Federal
aumente a fiscalização de armamentos e drogas que chegam aqui pelas fronteiras
continua de pé, mas as ações mais próximas das entradas do Estado do Rio são
urgentes neste momento de confronto. Se houve um Estado que fez esse
enfrentamento foi o nosso , frisa Pezão, desfiando números: Quando nós
entramos, havia 33 mil policiais.
Hoje são 48 mil. E dão baixa cerca de mil por ano, por
aposentadoria ou morte. Vamos abrir concurso agora para mais 6 ou 7 mil
policiais militares e mais outro tanto de civis. Eram 21 mil presos; hoje são
37 mil .
Ele pretende começar uma discussão nacional, convocar
líderes da bancada federal do Rio para debater no Congresso mudanças no pacto
federativo que permitam que os estados tenham legislações próprias, como
acontece nos Estados Unidos, por exemplo. Não dá para a gente ter um Código
Penal nem um Ambiental igual ao do Acre, as prioridades são distintas .A
necessidade de revisão da legislação penal tem na liberação do traficante
Pitbull, líder do tráfico no Pavão-Pavãozinho, um exemplo chocante: cinco meses
depois de ter sido preso, foi autorizado a ver a família, e nunca mais voltou
para a cadeia, estando neste momento comandando as ações naquela favela,
enfrentando a UPP lá instalada.
Cada um desses que é solto, desestabiliza , lamenta Pezão.
Não é que não estejamos equipados para enfrentar, mas fazemos um grande esforço
para prender um chefão do tráfico, e, depois de cinco, seis meses, ele é solto
e volta. Isso cria uma instabilidade dentro dessas comunidades violenta .
Nenhum comentário:
Postar um comentário