Insatisfeitos com a coligação a que pertencem, muitos candidatos chegam a pedir que o eleitor vote na oposição.
Vandalismo, troca de insultos, panfletos apócrifos e denúncias
inverídicas invadem a corrida eleitoral na cidade. Ontem, um dos casos
foi registrado em uma delegacia. Especialista critíca ações e aponta que
vítimas podem levar vantagem...
As traições da campanha
Insatisfeitos com a coligação a que pertencem, muitos candidatos chegam a pedir que o eleitor vote na oposição.
Por ARTHUR PAGANINI e CAMILA COSTA
Quanto mais se aproxima o 5 de outubro, maiores são as cobranças e as
insatisfações em todas as campanhas. Há situações esdrúxulas, como a de
candidatos que integram uma coligação, mas pedem votos para a oposição.
Boa parte dos concorrentes a distrital da base governista estão
descontentes. Vários deles ainda não pediram votos ao candidato à
reeleição, Agnelo Queiroz (PT). Em contrapartida, há aliados de José
Roberto Arruda e Jofran Frejat, do PR, que estão no grupo do petista.
Candidata a deputada federal pelo PPS, Eliana Pedrosa era vista
constantemente com o então candidato José Roberto Arruda (PR), embora o
seu partido esteja coligado com o PSDB, que tem como cabeça de chapa
Luiz Pitiman. Ela nunca entrou de verdade na campanha do tucano porque
teve de se coligar por intervenção nacional. Nas ruas, pede voto agora
para Frejat. No grupo de Arruda e do senador Gim Argello, presidente
regional do PTB, também há casos de deslealdade.
Segundo interlocutores próximos ao PR, Cristiano Araújo e Washington
Mesquita, ambos do PTB, podem perder a legenda. Isso porque, na Câmara
Legislativa, os dois são governistas, mas, nas eleições, o PTB está ao
lado do PR. O mesmo ocorre com Bispo Renato (PR), que já ocupou a
secretaria de Trabalho do GDF e ainda tem cargos no governo.
Mesquita, que diz nunca ter pedido votos para Agnelo, também assume a
dificuldade que tinha em defender a então candidatura de Arruda. O
distrital e Cristiano Araújo fazem dobradinha com o candidato a deputado
federal Rafael Barbosa, do PT. “Resolvido o imbróglio, agora nós temos
um candidato de fato e de direito, e estarei ao lado do meu partido”,
jura. Já Araújo diz manter boas relações com o PTB. “Na semana passada,
realizei, para o candidato do meu partido ao Senado, uma atividade com
mais de mil pessoas”, diz. No PTB, no entanto, o clima é de
descontentamento.
Na base de Agnelo, houve uma baixa na última terça-feira. O presidente
do PRP, Adalberto Monteiro, anunciou a saída da base e a adesão à chapa
de Frejat. “Nossa campanha, a partir de agora, será branca. Estamos
coligados ao PT, nossas inserções na televisão e rádio continuam, mas
nas ruas pediremos votos ao Frejat. Nossos candidatos ficaram
decepcionados com a coordenação de campanha do governo, que prometeu
apoio, estrutura, mas não cumpriu nada”, reclama.
Amigo de Agnelo, Messias de Souza (PCdoB) abandonou o esforço para
ajudar o colega, segundo o relato de petistas. Nos santinhos, o
candidato a deputado federal só menciona os nomes do PT quando a
dobradinha é feita com petistas. Nos santinhos feitos com candidatos do
próprio partido, no entanto, o que se vê são apenas os números de urna
do PCdoB. “Nosso material todo menciona o PT, menos em um modelo de
santinho. Estamos juntos sempre que podemos”, nega.
Choro
O material de campanha de Dr. Michel (PP) também não faz referência ao
governador ou ao candidato ao Senado do PT, Geraldo Magela. “Se me
mandarem material, eu distribuo e peço voto, sem problema”, afirma. Esta
semana, Agnelo almoçou com a base para pedir adesão dos proporcionais
às candidaturas dos majoritários. Michel chegou a chorar, relatando uma
suposta perseguição do concorrente à Câmara Legislativa Ricardo Vale
(PT), que estaria atuando na mesma base do distrital em Sobradinho. Vale
é irmão do conselheiro Paulo Tadeu, ex-deputado federal, e tem feito
uma campanha forte na base governista.
Robério Negreiros (PMDB) também não associa seu nome ao do atual
governador e de Magela no material de campanha. Um dos motivos seria a
falta de repasse de verba do comitê majoritário. Ele nega, no entanto,
que esteja pulando fora da campanha. “Meu partido é o PMDB e estou com o
presidente do meu partido e ele também está comigo”, diz. Na mesma
legenda, também é delicada a situação de Rafael Prudente (PMDB). A
coordenação de campanha do governador reclama que Prudente não faz
qualquer menção ao governo, e o diretório regional do partido estuda
sanções ao candidato.
No PPL, o candidato Pedro do Ovo é outro que foi vítima das
insatisfações de campanha. Ele perdeu a legenda por apoiar a candidatura
de Rafael Barbosa (PT) à Câmara dos Deputados. O partido, que está
coligado ao PT, argumenta que os candidatos a deputado distrital do PPL
deveriam pedir votos para aos dois correligionários que disputam a
Câmara dos Deputados, Léo Moura e Campanella. Pedro do Ovo pretende
recorrer da decisão.
Nível da campanha despenca no DF
Vandalismo, troca de insultos, panfletos apócrifos e denúncias
inverídicas invadem a corrida eleitoral na cidade. Ontem, um dos casos
foi registrado em uma delegacia. Especialista critíca ações e aponta que
vítimas podem levar vantagem
Por HELENA MADER e MATHEUS TEIXEIRA
Cavaletes roubados e queimados, ameaças, carros arranhados por rivais,
distribuição de panfletos apócrifos e programas caluniosos na televisão.
A quase duas semanas das eleições, a disputa por um mandato no Distrito
Federal descambou para a baixaria. Nos últimos dias, houve prisões,
registro de ocorrências policiais e ações na Justiça Eleitoral.
Especialista critica a prática e defende que propagandas voltadas a
macular a imagem de rivais podem se voltar contra os próprios autores de
denúncias caluniosas.
Na reta final da campanha, o candidato ao Senado pelo PT, Geraldo
Magela, decidiu focar os ataques contra o principal rival, o pedetista
Reguffe, à frente nas pesquisas. O petista passou a dedicar praticamente
todas as inserções e programas eleitorais na tevê e no rádio para fazer
denúncias contra Reguffe. Apoiadores de Magela também usam as redes
sociais e distribuem panfletos com acusações — muitas delas consideradas
caluniosas pelo Tribunal Regional Eleitoral. O TRE já recebeu 16
representações relativas ao material de Magela contra Reguffe, das quais
11 foram julgadas favoravelmente ao pedetista.
Na sessão da última quarta-feira, o TRE concedeu o primeiro direito de
resposta a Reguffe na propaganda eleitoral do rival. Os desembargadores
também aplicaram multa de R$ 5 mil à coligação de Magela. Além da
propaganda que ligava Reguffe a Arruda, retirada do ar por determinação
judicial, apoiadores de Magela têm distribuído panfletos que afirmam que
Reguffe recebeu dinheiro do governo Roriz, em 2006, quando era âncora
de um programa de tevê. O material teve tiragem de 100 mil exemplares e
leva a assinatura da coligação.
“Querem dar a entender que virei servidor efetivo do Senado sem
concurso público e que fui funcionário fantasma. A realidade é que
trabalhei em um cargo em comissão no fim da década de 1990. Só isso”,
explica Reguffe. Sobre o repasse de verbas no governo Roriz, Reguffe
conta que era apresentador de um programa de televisão que, na época,
veiculava publicidade do GDF. “O programa veiculava anúncios do governo,
da Câmara e de várias empresas privadas. Eu nem era político na época.
Não acharam nada nos meus mandatos e agora tentam denegrir minha imagem
com mentiras”, reclama Reguffe.
Geraldo Magela nega que esteja recorrendo a baixarias contra o rival.
“A eleição é um momento de confrontar currículos e propostas. Temos
compromisso com a verdade. Tudo o que for verdadeiro tem que ser exposto
para que o eleitor possa conhecer todas as facetas de seus candidatos”,
justifica o candidato ao Senado pelo PT. “O Reguffe também ataca, mas
sem aparecer. A atuação dele é muito na área de mídias sociais, e o
pessoal de campanha dele tem um grande número de perfis fakes (falsos)
que nos atacam nas redes sociais”, acusa Magela.
Rodoviária
O bate-boca entre militantes, em alguns casos, quase chega à agressão
física. Ontem à tarde, o ex-governador José Roberto Arruda (PR)
participava de caminhada ao lado de Jofran Frejat (PR), na Rodoviária do
Plano Piloto, quando houve confronto com petistas. “A campanha do
Rollemberg, do Pitiman e do Toninho também estava na Rodoviária, mas
tudo transcorria com respeito e civilidade, até chegarem os brutamontes
do PT”, reclamou Arruda. O ex-governador quase partiu para cima de
petistas, mas foi segurado por Frejat. O presidente do PT no DF, Roberto
Policarpo, informou não saber do confronto.
O cientista político e professor da Universidade de Brasília João Paulo
Peixoto critica a tática de atacar rivais e garante que o eleitor sabe
identificar as apelações. “Quando um candidato se dedica unicamente a
manchar a imagem do adversário em vez de discutir programas, o eleitor
identifica como apelação. Isso não pega bem na cultura política
brasileira. Pelo que temos visto, as vítimas dos ataques levam
vantagem”, diz.
O que diz a lei
O artigo 58 da Lei nº 9.504/97 estabelece que, a partir da escolha de
candidatos em convenção, é assegurado o direito de resposta a candidato,
partido ou coligação atingidos por conceito, imagem ou afirmação
caluniosa, difamatória, injuriosa ou sabidamente inverídica, difundidos
por qualquer veículo de comunicação social. O ofendido poderá pedir o
exercício do direito de resposta à Justiça Eleitoral no prazo de 24
horas, quando se tratar do horário eleitoral gratuito e de 48 horas
quando a ofensa ocorrer na programação normal das emissoras de rádio e
televisão. Se o pedido for concedido, a divulgação da resposta deverá
ocorrer no mesmo veículo, espaço, local, página, tamanho, caracteres e
outros elementos de realce usados na ofensa, em até 48 horas após a
decisão. Os pedidos de direito de resposta e as representações por
propaganda eleitoral irregular em rádio, televisão e internet tramitarão
preferencialmente em relação aos demais processos em curso na Justiça
Eleitoral.
Senadores na TV Brasília
A TV Brasília e o Correio Braziliense vão oferecer uma nova chance para
os eleitores do Distrito Federal conhecerem os candidatos da eleição
deste ano. Os dois veículos de comunicação farão uma série de
entrevistas com os principais concorrentes ao Senado, que serão
televisionadas, ao vivo, na semana que vem. De 22 a 26 de setembro, os
concorrentes terão oito minutos para falar durante o Jornal Local 2ª
edição, que começa às 19h. Um jornalista da tevê e outro do jornal serão
os responsáveis por questionar os cinco escolhidos. Ontem, na sede da
TV Brasília, foi realizado do sorteio da ordem em que os postulantes vão
aparecer no programa: Gim Argello, do PTB, é o convidado em 22/9;
Aldemário, do PSol, responderá em 23/9; Sandra Quezado, do PSDB, será
questionada em 24/9; Magela, do PT, terá a oportunidade em 25/9; e
Reguffe, do PDT, encerra a iniciativa em 26/9.
Cavaletes são roubados
Um dos casos foi parar na polícia ontem. Funcionários da campanha do
candidato do PSDB ao governo, Luiz Pitiman, flagraram homens que
roubavam cavaletes do tucano nas ruas e os seguiram. As equipes chegaram
até um comitê da candidata a federal Eliana Pedrosa (PPS) e do
concorrente a distrital Eduardo Pedrosa (PPS), no Setor de Armazenagem e
Abastecimento Norte (SAAN). Ontem, por volta das 8h, um cabo eleitoral
contou ter visto pessoas retirando as placas e colocando em uma van.
“Nossos apoiadores seguiram o carro e viram que as placas tinham sido
levadas para o comitê dos Pedrosa”, diz Vanios Mafissoni, coordenador da
campanha de Pitiman.
Mafissoni chegou ao comitê logo em seguida e chamou a polícia. “Eles
queriam esconder os cavaletes. Quando viram que não deixaríamos, atearam
fogo às placas”, relata. A coligação fez um boletim de ocorrência na 2ª
DP, na Asa Norte, e vai recorrer também à Justiça Eleitoral. Segundo a
Polícia Civil, cinco pessoas foram presas e, em seguida, liberadas. A
delegacia vai investigar o caso.
Em nota, a candidata a deputada federal pelo PPS Eliana Pedrosa disse
estar “perplexa com a notícia”. “Sobre o episódio, Eliana Pedrosa
esclarece que não ordenou a nenhuma equipe de sua campanha a retirar das
ruas material de campanha de nenhum outro candidato, muito menos de um
candidato ao Poder Executivo da coligação do seu partido”, alegou a
deputada distrital. “Eliana Pedrosa espera que a apuração do fato
esclareça a real motivação para o que considera um ataque à sua
campanha.”
Rodoviária
O tribunal também proibiu, ontem, que o candidato Pitiman (PSDB) use o
nome de José Roberto Arruda como se o ex-governador do DF tivesse
apoiando o representante tucano.
Fonte: Por HELENA MADER, MATHEUS TEIXEIRA, ARTHUR PAGANINI e CAMILA COSTA, Correio Braziliense - 19/09/2014 - - 07:39:32
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