sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Luciana Genro disse que seu socialismo “não é totalitário”. Que tal ligarmos a máquina do tempo?

Cuba-189
Na entrevista ao programa The Noite na última segunda, 15/09, Luciana Genro, da linha auxiliar do PT (PSOL), disse que jamais apoiaria socialismo totalitário. Somente um “socialismo com liberdade”. O espectador que caiu na conversa, evidentemente, é por que não notou estar diante de uma embusteira profissional. Já refutei todas as rotinas dela nesse sentido aqui (olhe com cuidado os quatro links anexados dentro do post citado).
Agora veremos dois textos que ela fez para o site do PSOL, em ambos endossando barbarismos socialistas.
O primeiro é Viva Chávez, o comandante da revolução bolivariana:
Era janeiro de 2003. Estava completando meu segundo mandato de deputada estadual e tinha sido eleita deputada federal pela primeira vez. Articulamos na direção do MES, ainda no PT, uma proposta de convidar Hugo Chavez para vir ao Brasil. Estávamos articulando com a embaixada da Venezuela, eu e Roberto Robaina, tratando de mostrar que no Brasil havia um setor da esquerda organizada que queria saudar e seguir o caminho da revolução bolivariana. A direção do Forum Social Mundial, influenciada pela cúpula do PT, não queria convidar Chavez para vir a Porto Alegre. Mas apesar disso ele decidiu vir e atendeu nosso convite. Fizemos um grande ato na Assembléia Legislativa. Um ato militante, emocionante, com milhares de ativistas dizendo Presente! O discurso de Chavez nao poderia ter sido melhor: indicou o caminho da luta, da libertação, da revolução. Fazia alguns meses que o povo da Venezuela havia derrotado um golpe de estado patrocinado pela burguesia da Venezuela, incentivado pelo governo dos EUA e apoiado pela mídia brasileira, em especial para Rede Globo e pela Veja. Esta atividade que logramos realizar é um dos nossos maiores orgulhos. Estivemos lado a lado com Hugo Chavez, o herdeiro de Simon Bolívar, o libertador. Seguiremos lutando para honrar esta herança.
Agora a morte de Chávez provoca tristeza e apreensão em todos os socialistas. A importância da Venezuela e de Chávez para nossa luta é enorme. Sua figura marcou todo o continente nas últimas décadas. A Venezuela tornou-se um país independente, seu projeto nacionalista e bolivariano foi de enfrentamento com o imperialismo e com os velhos partidos e a direita venezuelana. Seu exemplo foi uma inspiração para todos os lutadores.
Ao saber da morte de Chávez o filósofo esloveno Slavoj Zizek, em Porto Alegre para uma conferência promovida pela Fundação Lauro Campos e pela Boitempo Editora, disse: “ Todos amam as favelas e os marginalizados, mas poucos querem vê-los mobilizados politicamente. Hugo Chávez entendia isso, agiu nesse sentido desde o começo e, por este motivo, deve ser lembrado.”
Sem dúvida, o protagonismo político do povo pobre da Venezuela nunca foi tão grande como nos anos Chávez. Aliás, o próprio surgimento de Chávez já foi resultado deste protagonismo, que explodiu no famoso Caracazo em 1989. Chávez só manteve-se no poder por tanto tempo graças a esta mobilização popular, que inclusive derrotou um golpe das elites empresariais em12 de abril de 2002. Acusado de ditador, nenhum país teve mais processo eleitorais do que a Venezuela de Chávez. Sob permanente cerco da burguesia local e internacional, ao contrário de Cuba que fechou o regime para sobreviver, na Venezuela a oposição sempre teve todos os seus direitos políticos preservados. Esta sim, golpista, tentou derrotar Chávez no tapetão com o golpe e com lock outs, mas não levou, graças a mobilização popular.
Eu mesma estive na Venezuela como observadora internacional das eleições, e ao subir os morros de Caracas pude ver com meus próprios olhos a força de um povo ainda muito pobre mas consciente, politizado, atento aos seus direitos, pronto para lutar por eles e defender suas conquistas com unhas e dentes.
Uma das grandes diferenças entre Chávez e Lula é essa: embora ambos sejam líderes carismáticos, o primeiro usou seu carisma para mobilizar o povo, incitou-o a organizar-se, a lutar , a enfrentar o imperialismo, a protagonizar a Revolução Bolivariana. Já Lula usou seu carisma para aquietar o seu povo, para convencê-lo a aceitar a lógica burguesa da política, a corrupção e até a retirada de direitos sociais, como ocorreu na reforma da previdência comprada com o mensalão.
Este mérito de Chávez é extraordinário. É claro que existem problemas. Os burocratas e pró burgueses estão infiltrados em todos os lados, inclusive na Revolução Bolivariana. Com a morte de Chávez eles tendem a se fortalecer. A corrente política venezuelana Marea Socialista, integrante do PSUV e com a qual mantemos uma estreita relação, tem sido uma importante voz em defesa do processo, sempre apresentando propostas para aprofundá-lo.
Com certeza agora se abre uma nova etapa, muito mais difícil, para garantir que se avance no rumo socialista e se construa uma Venezuela definitivamente independente. Tenho a certeza que o povo venezuelano está apto a ser protagonista desta luta.
Para isso, como disseram os companheiros de Marea Socialista em um recente comunicado: “Estão equivocados os que crêem que os rumores, a especulação ,o desabastecimento e a carestia se resolve deixando quieto aos que tem que se mover. Para cumprir o Golpe de Timão que pediu Chávez, é preciso ativar de maneira urgente ao povo bolivariano para que como em abril de 2002 e na luta contra a sabotagem, se faça sentir a fúria da Revolução”.
Como sempre, todo discurso socialista reduz as barbáries que eles cometem a “alguns problemas”. Na verdade, o que passa o povo venezuelano na atualidade só tem paralelo com o que ocorre em Cuba. Mas também sobre Cuba, Luciana escreveu um texto repleto de atenuações, intitulado Um olhar sobre Havana:
Cuba é um país complexo. Não é fácil, portanto, emitir uma opinião equilibrada, não  maniqueísta. Em geral as paixões  nos cegam. Quem é socialista, como eu, fica com o estômago virado ao ouvir os profetas do capitalismo, aqueles que endeusam  a sociedade consumista, abissalmente desigual e  superficial, atacarem Cuba. Eles criticam a falta de democracia em Cuba, mas nunca criticam a democracia dos ricos, onde as eleições são a festa dos endinheirados. Enchem a boca para falar que os cubanos “não podem nem comprar um tênis Nike”, mas não falam dos meninos que matam e morrem  por um tênis Nike nas terras da democracia do capital. Se horrorizam com a pena de morte em Cuba, mas não se importam com as execuções sumárias protagonizadas pelas milícias e pelas polícias nos países onde impera o “devido processo legal”.
Começo, então, dizendo que  ao falar de Cuba não tolero o fanatismo, nem um nem outro. Aqui quero apenas dividir as impressões que tenho sobre esta pequena ilha,  onde há pouco mais de 50 anos aconteceu uma revolução que até hoje mobiliza corações e mentes.
Cuba  conquistou sua soberania pela força da mobilização do seu povo. Os que acham que foi um “bando de barbudos” que pegaram em armas  e tomaram o poder não conhecem a história. A vitória da guerrilha de Fidel e Che Guevara foi o coroamento de uma luta de massas que derrubou uma ditadura sangrenta que fazia do país o quintal de recreação da burguesia americana, à custa da pobreza extrema dos cubanos. Por isso esta revolução ainda é reivindicada pelo povo. Mesmo quem critica o regime  sabe que a revolução cumpriu um papel fundamental para a libertação do país.
Uma pequena ilha desafiou o império americano a poucos quilômetros da sua Costa e até hoje ele não conseguiu subjugá-la. Além do bloqueio econômico dos EUA, que Obama mantém, até os anos 90 Cuba ainda sofria  atentados terroristas promovidos por organizações  de ultradireita de cubanos que vivem em Miami, com a complacência de todos os presidentes que passaram pela Casa Branca. Sobre isso, leitura obrigatória é o livro de Fernando Morais, “Os últimos soldados da guerra fria”, que conta esta história de forma magistral.
Depois do fim da URSS a situação econômica de Cuba piorou terrivelmente. Não conheci a Cuba de antes, mas hoje a miséria anda nas ruas e contrasta com a opulência ostentada pelos turistas, que inclusive utilizam  outra moeda para consumir o que é inacessível ao cidadão nacional. O que um turista paga por uma refeição em um restaurante médio equivale ao salário de um mês inteiro de um cubano, ou mais, dependendo da profissão.   É verdade que  o abismo entre ricos e pobres que vivemos no capitalismo não existe entre os cubanos, mas ele revela-se de forma cruel no contraste entre a capacidade de consumo dos  cubanos versus  a dos turistas.
O governo ensaia medidas de “abertura”  capitalista  que só farão piorar a situação. O plano é demitir 500 mil funcionários públicos, permitindo que eles abram pequenos negócios por conta própria, que hoje já são autorizados. Um PDV piorado, pois não há notícia sequer de uma indenização a ser recebida na demissão.
As glórias da revolução não anulam um fato que é claro como o dia: a população não tem canais de expressão. A direção do Partido Comunista Cubano é uma burocracia fossilizada que mantém a política interditada no país. Quem diverge é tratado como traidor e enquadrado como agente imperialista. Se eles lessem este meu relato eu possivelmente  seria assim qualificada.
Pois finalizo reiterando as minhas convicções socialistas, reivindicando a revolução russa, chinesa, cubana… e a minha aversão aos burocratas ditos comunistas que desfiguraram o projeto comunista, que na tradição marxista registrada  no Manifesto escrito por Marx e Engels é um projeto de igualdade, solidariedade e libertação de toda a exploração e opressão, seja ela exercida pela burguesia ou pela burocracia.
Assim como no texto endossando Chavez, a quantidade de distorções é enorme. Por exemplo, ela diz que há “fanáticos” de ambos os lados na defesa e no ataque à Cuba, ou seja, usando o recurso da relativização em situações onde temos dilemas, como o fato de Cuba ter matado 100.000 habitantes por pura opressão totalitária. Tema que ela não toca, evidentemente. Aí é fácil se fingir de “moderada” diante de atrocidades, não é?
Não podemos deixar de lembrar que ela continua “reinvindicando a revolução russa, chinesa, cubana…”. Quer dizer, no momento que ela afirmou ao Danilo Gentili que o “socialismo dela é diferente”, é claro que enrolava o espectador apenas na busca de um frame positivo. Na mente dela, os projetos de “revolução” sempre estão certos, e jamais podem retroagir. Mas e as barbáries geradas? Basta dar de ombros e dizer que “são meros probleminhas” que tudo está resolvido.
Claro que ela diz que o projeto original de Marx é um “projeto de igualdade, solidariedade e libertação de toda a exploração e opressão”, mas aí é o truque do socialismo ideal X socialismo real, usado para engambelar trouxas.
No fim, o verdadeiro projeto socialista sempre se conclui com a riqueza dos donos do poder e a miséria do povo, como vemos no vídeo abaixo, onde se percebe que a filha de Hugo Chavez tem uma fortuna de mais de 700 milhões de dólares. Como eu sempre digo, tontos são os funcionais do socialismo. Espertos são os donos do estado. Chavez era muito esperto. E com o endosso de Luciana Genro.

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