BBC
Atualizado em 7 de setembro, 2014 - 12:59 (Brasília) 15:59 GMT
Estado Islâmico é inimigo comum, mas países lidam com ameaça de formas diferentes
A ascensão relâmpago do Estado Islâmico (EI), o grupo jihadista que conquistou grandes partes
da Síria e do Iraque, teve impacto não só em toda a região como também
além dela, levando aliados e rivais a ter que decidir como lidar com a ameaça.
Mas, apesar de o EI ser visto como um inimigo comum, as inimizades históricas e a complexa situação no Oriente Médio significam que elaborar uma estratégia única para diversos países enfrentarem o Estado Islâmico está longe de ser simples.
Veja como se posicionam os países-chave no conflito:
Estados Unidos
Os Estados Unidos expressaram abertamente sua preocupação sobre EI dizendo que o grupo estava "além de qualquer coisa" que tenham visto antes. Os EUA iniciaram ataques aéreos contra o EI no norte do Iraque em 9 de agosto - a pedido do governo iraquiano -, mas disseram que será necessária uma "ampla coalizão internacional" para derrotá-lo.Embora tenha se comprometido a intensificar o apoio ao Iraque se o país formar um governo unificado e inclusivo, o presidente Obama tem repetido que não vai mandar tropas terrestres.
Além de não querer repetir os erros de 2003, quando os EUA invadiram o Iraque, Obama sabe que mandar tropas terrestres poderia agravar a precária situação política do Iraque e arriscar uma piora da relação com os árabes sunitas. Muitos deles apoiaram a rebelião liderada pelo EI contra o ex-governo.
Em vez disso, os EUA têm mostrado vontade de trabalhar com o seu inimigo histórico, o Irã.
O general americano Martin Dempsey alertou que o EI não pode ser derrotado sem que suas fortalezas na Síria sejam atacadas.
Isso levou a um questionamento sobre uma possível cooperação com o presidente sírio, Bashar al-Assad, que se ofereceu para auxiliar a comunidade internacional na luta contra o EI.
Barack Obama diz que o EI só pode ser derrotado por uma coalizão internacional
Em vez disso, o presidente parece estar contando com rebeldes sírios para lutar com o EI.
Irã
O ramo dominante de fé islâmica no Irã é o xiita, e o Irã viu o EI - cujos combatentes veem os xiitas como hereges que deveriam ser mortos - avançar a 40 quilômetros de sua fronteira.Apesar de, em relação à Síria, o Irã estar do lado oposto de grande parte da comunidade internacional, ele defende a cooperação contra a EI.
O ministro das Relações Exteriores, Mohammad Javad Zarif, disse que a ameaça do EI "nos obriga a trabalhar em conjunto e buscar soluções comuns". Ele estendeu a mão a Arábia Saudita - potência sunita líder e rival regional do Irã - e fez vista grossa para as ações dos EUA no Iraque, às quais se opõe historicamente.
No Iraque, os próprios iranianos têm desempenhado um papel fundamental na luta contra o EI. Guardas Revolucionários Iranianos têm aconselhado as forças de segurança iraquianas, pilotos iranianos realizaram ataques aéreos, milícias xiitas apoiadas pelo Irã se mobilizaram e o Irã diz que tem enviado armas e conselheiros para o Curdistão iraquiano.
O rompimento do cerco de Amerli viu aviões dos EUA agindo em aparente coordenação com combatentes xiitas em solo, apesar da inimizade profunda e antiga entre os EUA e o Irã.
Teerã também se juntou a Washington em retirar o apoio ao premiê iraquiano, Nouri Maliki, em agosto, obrigando-o a se demitir e permitir que um candidato de consenso fosse nomeado para substituí-lo.
O presidente iraniano, Hassan Rouhani, já disse que o Irã "não hesitará em proteger santuários xiitas" no Iraque, que o EI ameaçou destruir, embora ele tenha dito que seria "muito improvável" que o Irã envie suas forças para o local.
Turquia
A Turquia tem sido um dos maiores críticos do presidente sírio Assad. Tornou-se a principal porta de entrada para os estrangeiros que querem ir para a Síria lutar ao lado dos rebeldes, muitos deles jihadistas. No entanto, o rápido avanço do EI no território ao longo das fronteiras turcas com a Síria e o Iraque levou Ancara a tentar conter o fluxo de jihadistas.Mais de 450 combatentes estrangeiros foram detidos ou deportados desde o início do ano e as forças de segurança turcas tentaram fechar as rotas de contrabando que permitiram que jihadistas evitassem pontos de checagem e vender petróleo a partir de territórios sob seu controle. No entanto, a capacidade da Turquia para reprimir o EI tem sido limitada pelo sequestro de 49 diplomatas turcos e suas famílias, em Mosul, em junho.
Enquanto isso, os membros do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), reconhecidos como um grupo terrorista por Ancara, a OTAN e a UE, devido à sua história de ataques contra a Turquia, têm lutado contra o EI no Iraque.
Arábia Saudita
Poder sunita regional, a Arábia Saudita tem sido uma das principais apoiadoras de forças rebeldes sírias, incluindo grupos islâmicos de linha dura, mas rejeitou a acusação iraniana de que tenha apoiado diretamente o EI. No entanto, sauditas ricos enviaram doações para o grupo e cerca de 2.500 homens sauditas viajaram para a Síria para lutar.
A Arábia Saudita mandou milhares de tropas para suas fronterias com o Iraque
Em julho, Riad usou 30 mil tropas para reforçar a segurança ao longo da fronteira com o Iraque, e no mês seguinte recebeu o vice-chanceler do Irã quando os dois rivais regionais concordaram em cooperar.
Jordânia
A Jordânia, aliada dos EUA, tem serviços de segurança e militares que poderiam apoiar os esforços para combater a EI. O grupo ameaçou "romper" as fronteiras da Jordânia, embora não seja provável que lancem um ataque tão cedo.As forças militares jordanianas duplicaram, porém, sua presença militar ao longo da fronteira com o Iraque. O rei Abdullah 2 participou do encontro da OTAN no País de Gales, em setembro, onde a aliança discutiu como lidar com o EI.
Dentro da própria Jordânia, o EI conta com o apoio de um número crescente de pessoas -algumas organizaram manifestações na cidade de Maan, em junho, e acredita-se que mais de 2.000 cidadãos jordanianos viajaram para a Síria para lutar.
O rei há muito tempo pede que o presidente da Síria, Assad, deixe o governo, e já teria permitido que a Jordânia se tornasse uma plataforma para os rebeldes e seus apoiadores estrangeiros.
Líbano
O Líbano ficou profundamente dividida pelo conflito na Síria, e teve de lidar com um transbordamento da violência e um enorme afluxo de refugiados.
Mais de 20 membros das forças de segurança libanesas foram sequestrados pelo EI
Militantes jihadistas também realizaram uma série de atentados mortais em Beirute e em outros lugares, principalmente visando o Hezbollah e as instalações iranianas.
O primeiro-ministro libanês, Tammam Salam, alertou que a propagação do EI representa "um grande teste do qual depende o nosso destino". Facções religiosas e políticas de seu país foram aconselhadas a deixar de lado suas diferenças para garantir que o grupo não estabelecerá um ponto de apoio no local.
Catar
O Catar rejeitou acusações de líderes xiitas do Iraque de que tenha fornecido apoio financeiro ao EI. No entanto, acredita-se que indivíduos ricos do emirado tenham feito doações e que o governo tenha dado dinheiro e armas para grupos islâmicos radicais na Síria.Também acredita-se que Doha tenha ligações com a Frente al-Nusra, afiliada da Al-Qaeda.
Desde que o EI lançou sua ofensiva no norte do Iraque em junho, há relatos de que autoridades do Catar restabeleceram relações com outros países do Golfo que acusavam o país de ter se intrometido em seus assuntos.
Rússia
A Rússia é um dos mais importantes aliados do presidente Assad, dando-lhe apoio diplomático e militar. Vetou várias resoluções do Conselho de Segurança da ONU condenando a repressão mortal à dissidência pacífica e continua a fornecer armas e aeronaves para militares sírios.Ações de Moscou levaram lutadores do EI a prometem derrubar o presidente Vladimir Putin e "libertar" o norte do Cáucaso. Serviços de segurança russos acreditam que centenas de militantes da Chechênia e de outras repúblicas do Cáucaso se uniram ao EI, incluindo o proeminente comandante Omar al-Shishani.
Em julho, a Rússia entregou o primeiro lote de 25 caças Sukhoi para o Iraque para ajudar a aumentar o poder de fogo de sua força aérea.
União Europeia
Reino Unido, França, Alemanha e Itália têm enviado armas para as forças curdas Peshmerga, bem como ajuda para as centenas de milhares de pessoas deslocadas no norte do Iraque.
A França é um dos países que envia armas para que curdos do Iraque lutem contra o EI
O presidente francês, François Hollande, apelou pela união das potências do mundo frente à ameaça do EI e sugeriu que uma ação militar na Síria pode ser necessária.
O primeiro-ministro britânico, David Cameron, disse que não descarta ataques aéreos contra o EI, que está com um refém britânico, mas disse que qualquer ação não deve ser "a intervenção ocidental passando por cima dos Estados vizinhos".
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