Política: O fato novo
Não podia ter chegado em pior
momento para a presidente Dilma a bomba sobre o esquema de corrupção de
políticos montado na Petrobras durante 8 anos em governos petistas. A
presidente esboçava uma reação para resistir à investida de Marina, e
agora está novamente travada pelos fatos...
Marina tem no episódio a prova material de que a “velha política” transformou o Congresso em um balcão de negócios,
mas a confirmação de suas denúncias veio junto com a inclusão do
ex-governador Eduardo Campos na lista dos beneficiários das negociações
do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa.
Esse é um empecilho e tanto para a exploração do caso, mesmo que esteja implícito que a candidata não tem nada a ver com
os fatos acontecidos antes de ela, por constrangimentos políticos que
lhe foram impostos, aderir ao PSB, inclusive o jato que veio junto, ao
que tudo indica, nesse mesmo pacote.
Se fosse a candidata da Rede Sustentabilidade, Marina estaria hoje livre, leve e solta para empunhar a bandeira da nova política em contraponto às nebulosas transações que seus adversários comandam nos bastidores
políticos de Brasília. Mas terá que pisar em ovos para usar a
artilharia pesada que lhe caiu no colo sem que o fogo amigo a atinja.
Quem poderá se beneficiar da situação é o candidato do PSDB Aécio Neves, que precisava de um fato novo
para turbinar sua campanha, e ele chegou pela delação premiada do
ex-diretor da Petrobras. Não é possível dizer agora se mais essa
denúncia de roubalheira institucional será suficiente para recolocá-lo
na disputa, mas ele tem a vantagem no momento de poder atacar tanto
Marina quanto Dilma, reforçando a ideia central de sua campanha de que
ele é a mudança segura.
A presidente Dilma dificilmente perderá votos do núcleo duro petista,
que vota nela mesmo de olhos e narizes fechados, e considera normais
esses esquemas corruptos. Veremos agora de que tamanho é o apoio da
candidata Marina Silva, e qual a intensidade da revolta de eleitores que
estavam fora da eleição por vontade própria e retornaram devido à sua
presença.
Aécio poderá tentar retomar eleitores que foram para Marina, que também
receberá eleitores que voltaram para Dilma e poderão ficar sensíveis a
mais esses escândalo. Tudo dependerá de como Marina usará esse
episódio.
Quem é Marina de fato, desde a eleição de 2010, já estará convencido de
que ela foi apanhada em uma armadilha montada pela “velha política” de
que Eduardo Campos se utilizava antes de romper com
o governo petista. E a perdoará por isso, entendendo que não tem
condições de romper agora com o esquema político que a acolheu em
momento difícil.
Ainda mais tendo como vice um político orgânico do PSB. Muitos que
foram para ela em busca de um refúgio poderão se convencer de que Aécio
Neves é a melhor oposição, e muitos outros podem desistir mais uma vez
de votar, convencidos pelos fatos de que são todos farinha do mesmo
saco.
O certo é que a presidente Dilma, que ensaiava uma reação levada pela
máquina partidária e pelos militantes petistas, está novamente enredada
em um esquema político deletério. Se é verdade que ensaiava retirar do fundo da gaveta a imagem da faxineira ética do início de seu governo para reforçar o combate à corrupção, agora vai ter que desistir da ideia.
Já era uma proposta desesperada, pois as contradições são evidentes
entre a faxineira e a atual presidente que colocou de volta no
ministério praticamente todos os que enxotara, e agora é inviável.
Também fica sem sentido a tentativa do presidente do PT Rui Falcão de
insinuar que Marina pretende privatizar a Petrobras e os bancos
públicos, uma acusação reciclada que por si só mostra a falta de argumentos do partido na disputa política com Marina.
O novo escândalo da Petrobras vai reviver a ideia de Aécio Neves de
reestatizar a Petrobras, que foi tomada de assalto por forças políticas
da base aliada governista, sob o comando do PT.
Como disse muito bem o presidente da Câmara Henrique Eduardo Alves,
aliás um dos acusados de estar envolvido no esquema de corrupção, “a
Petrobras é petista”.
Fonte: Por MERVAL PEREIRA, O Globo / blog do RICARDO NOBLAT - 07/09/2014 - -
Nenhum comentário:
Postar um comentário