Josias de Souza
Vivo, Eduardo Campos dizia que queria virar presidente para enviar à oposição “velhas raposas” como Renan Calheiros.
Morto, Campos passou a coabitar com Renan uma lista de supostos beneficiários de propinas delatadas pelo ex-diretor preso da Petrobras Paulo Roberto Costa. O que deu à “nova política” de Marina Silva uma incômoda aparência de pão dormido.
Em campanha no interior da Bahia, Marina foi instada a comentar a novidade neste sábado (6). Saiu em defesa do ex-companheiro de chapa. Atribuiu a citação a uma “ilação” do delator. Disse que o fato de a Petrobras construir uma refinaria (Abreu e Lima) em Pernambuco, Estado que Campos governou, “não dá o direito a quem quer que seja de incluí-lo na lista dos que cometeram qualquer irregularidade.''
Em nota, o presidente do PSB, Roberto Amaral, ecoaria a defesa de Marina. “Não há acusação digna de honesta consideração”, escreveu. “Há, apenas, malícia.”
Acrescentou: “Morto, Eduardo não pode se defender. Mas seu partido o fará, em todos os níveis, políticos e judiciais, no cível e no criminal, e para esse efeito já está requerendo acesso ao conteúdo integral do depoimento do administrador da corrupção na Petrobras.”
Esta foi a segunda vez que Marina teve de socorrer a memória de Campos desde a morte dele, em 13 de agosto.
Na primeira, falou sobre o jato que transportou o ex-presidenciável do PSB para a morte. Uma aeronave adquirida em transação milionária, feita por meio de laranjas.
“Há uma investigação que está sendo feita pela Polícia Federal”, disse. “Nosso interesse é que essas investigações sejam feitas com todo o rigor, para que a sociedade possa ter os esclarecimentos e para que não se cometa uma injustiça com a memória de Eduardo.”
Aos pouquinhos Eduardo Campos vai se transformando numa “bola de ferro” que Marina Silva arrasta na campanha presidencial. Nos lábios dele, a mensagem do novo, que ela personifica, sempre soou artificial. Governara Pernambuco apoiado numa coligação de 14 siglas —um mato do qual não saía coelho; só saía cobra, Inocêncio Oliveira (PR), jacaré, Severino Cavalcanti (PP)…
Em setembro de 2012, quando ainda apoiava Dilma e era adulado pelo petismo, Eduardo Campos assinou um manifesto no qual o PT acusava a oposição de transformar o mensalão num “julgamento político, golpear a democracia e reverter as conquistas que marcaram a gestão do presidente Lula''.
Na campanha, ao lado de Marina, Campos enrolou-se na bandeira da decência na política e passou a dizer que o PT, com a cúpula na cadeia, precisava se atualizar.
Agora, acomodada na cabeça da chapa da coligação liderada pelo PSB, Marina assiste ao pretérito de Campos passando sem ter condições políticas de tomar distância.
Mantido o discurso da “ilação” e do “vamos aguardar os esclarecimentos”, a viúva política de Eduardo Campos logo, logo será acusada de plágio por Dilma Rousseff.
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