domingo, 7 de dezembro de 2014
Que o Brasil é o "País da Piada Pronta" o imortal
José Simão já cansou de nos ensinar em seu sério trabalho de jornalismo
humorístico. A novidade negativa é que, além de sermos ridicularizados por
nossa falta de seriedade nacional, agora nos tornamos alvo de provocação por
nossa má fama transnacional como nação altamente corrupta.
No embalo de tal desgraça, assombrados com os escândalos
vomitados pelos delatores premiados da Operação Lava Jato, lusitanos e
africanos que acompanham este Alerta Total resolveram nos formular o que
chamam, genial e ironicamente, de perguntinha-piada básica: Será que negócio de
brasileiro em Moçambique rima com trambique?
A provocação contra nós, que cometemos o pecado de fazer
graça com os outros sem antes olhar para a desgraça do próprio rabo, foi
motivada pela notícia de que, sábado que vem, 13 de dezembro, a Odebrecht vai
inaugurar o novo aeroporto de Moçambique - uma daquelas obras que recebeu
financiamento de R$ 144 milhões do BNDES brasileiro.
O motivo da piada é fornecido por uma informação dada pela
leitora Loumari, em nossa área de comentários: "Senhor Serrão, li aqui na
sua página uma informação sobre a inauguração do Aeroporto de Nacala na
província de Nampula, no Norte de Moçambique. Olha que eu contactei ao Ex
ministro das obras públicas em Moçambique, o Felicio Pedro Zacarias, e este
acaba de informar-me o seguinte: Sim que a Odebrecht realizou uma obra em
Nacala que é construção de um aeroporto que cuja inauguração será feita no
próximo sábado, dia 13-12-14, pelo presidente Armando Guebuza.
Mas a tal obra não terminou ainda, e será só finalizada, segundo está previsto, no fim do primeiro semestre de 2015. Ele mesmo como ex ministro de obras públicas está no estado de assombro! Como se pode fazer uma inauguração de um projecto antes de ser finalizado?".
Mas a tal obra não terminou ainda, e será só finalizada, segundo está previsto, no fim do primeiro semestre de 2015. Ele mesmo como ex ministro de obras públicas está no estado de assombro! Como se pode fazer uma inauguração de um projecto antes de ser finalizado?".
A indagação pode ser respondida facilmente. No Brasil, é
muito comum tal trambique de inaugurar uma obra que não ficou pronta ainda. O
que fazemos agora é apenas exportar o trambique para Moçambique. A obra do
aeroporto (que não ficará totalmente pronta) foi ganha sem licitação. Certamente,
quando se fala em "inauguração" da obra, supõe-se que a empreiteira
terminou seu trabalho e já fica pronta para receber pelo serviço - financiado
pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social do Brasil - e não pelo
banco de fomento dos Moçambicanos.
O projeto de Nacala é lindíssimo. Trata-se de uma obra
prima do Escritório Fernandes Arquitetos Associados. O mesmo que fez o projeto
do novo Maracanã - obrinha que saiu por R$ 1 bilhão e 300 milhões de reais,
apesar de orçada, originalmente, em 2009, por R$ 859.472.464,54. Seu valor
ainda não foi inteiramente pago. De repente, para as Olimpíadas de 2016, novas
obras sejam necessárias. Nada que termos aditivos ao contrato inicial não
resolvam, com tudo pago, sempre, com dinheiro público.
(Um longo parêntesis é necessário sobre a
"reforma" do Maraca: este valor bilionário, segundo especialistas,
daria para fazer três estádios... A obra do Mário Filho foi tocada pelo
Consórcio Maracanã Rio 2014. Ganhou a licitação por "menor preço e regime
de empreitada por preço unitário. Faziam parte dele as construtoras Andrade
Gutierrez e Odebrecht Infraestrutura. O Tribunal de Contas do Estado do Rio de
Janeiro apontou um superfaturamento de R$ 67,3 milhões na obra que começou
tocada, também, pela empreiteira Delta, afastada depois de escândalos até agora
não resolvidos, envolvendo seu presidente Fernando Cavendish, amigo e parceiro de importantes políticos).
Agora, uma perguntinha cínica: Já pensou se a obra do
Maracanã figurar entre as 747 obras de infraestrutura, tocadas por 170
empresas, no valor total de R$ 11,5 bilhões, listadas na planilha do doleiro
Alberto Youssef, que o juiz Sérgio Fernando Moro, da 13a Vara Federal em
Curitiba, está usando como documento comprobatório no julgamento de vários
processos ligados à Operação Lava Jato? Outra indagação: Já imaginou se a
obrinha de Moçambique também figurar na mesma listagem do ilustre colaborador
premiado?
Antes que as respostas venham, vale lembrar um detalhe importante. O
novo aeroporto moçambicano, se ficar pronto agora ou depois, tem uma
importância estratégica. Ele se torna o mais próximo do paraíso fiscal mais
seguro, onde nossos ilustres PEPs (Politically Exposed People) adoram guardar
seu rico dinheiro (geralmente obtido em falcatruas milionárias entre empresas e
o poder público). Nacala operando com pompa e circunstância facilita a vida de
quem precisa ir de jatinho para o moderno aeroporto internacional de Mahé, na
cidade de Victória, capital do duplo paraíso fiscal e estético das Ilhas
Seychelles, na costa africana do Oceano Índico.
Nossos corruptos precisam de conforto...
Nossos corruptos precisam de conforto...
Todo cuidado é pouco para quem tenta lavar dinheiro por
lá. Desde março de 2007, agentes do Departamento de Justiça dos EUA investigam
um ilustre deputado federal da base governista, que tem grandes negócios no
ramo agropecuário. Ele é monitorado pelo sistema que rastreia esquemas de
lavagem de dinheiro para financiamento ao terrorismo internacional. O figurão remeteu
US$ 1 milhão e 900 mil dólares para uma conta bancária em Victoria. Os EUA identificaram
quais brasileiros estiveram lá, depois do carnaval daquele ano, para movimentar
a conta milionária da corrupção.
O Alerta Total já antecipou que a turma da Águia está de
olho no grupo que faz bruscas operações de mudança do controle de ações de
empresas dos setores de alimentação e telecomunicações. Também faz muitos
negócios na compra de diamantes africanos. Por aqui, investe em imóveis - uma
burrada, facilmente identificável - e em construção civil. O mesmo grupo
mafioso também têm negócios mapeados em Nevada, nos EUA.
Os picaretas tupiniquins caíram na malha fina de
monitoramento da Drug Enforcement Administration – a agência anti-drogas do
Departamento de Justiça dos EUA. No cruzamento de informações, ficou clara que
uma das práticas comuns da super lavanderia de dinheiro é o financiamento ao
tráfico de drogas – dando um destino supostamente de investimentos em moeda
estrangeira ou ações da grana disponibilizada pelas máfias colombianas e
mexicanas. No meio dos negócios que parecem
lícitos ou "investimento direto estrangeiro", a verba dos traficantes
se mistura com o dinheiro público roubado no Brasil.
A turma tem tudo para figurar entre os 77 deputados
federais e 14 senadores (número especulado nos bastidores dos lobistas dos
empreiteiros) que correm risco de indiciamento pela Lava Jato. Só o
"colaborador premiado" Paulo Roberto Costa revelou que denunciou uns
35 deles ao juiz Sérgio Moro, o Homem de Gelo... Todos devem entrar numa fria,
assim que o Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot, fizer suas tão
esperadas denúncias no começo do ano que vem...
O roubo foi gigantesco. Um relatório do Conselho de Controle
de Atividades Financeiras, o Coaf, registrou uma movimentação atípica de R$
23,7 bilhões, entre os anos de 2001 e 2014, feita por 4322 pessoas físicas e 4298
empresas investigadas pela Lava Jato. Só em dinheiro vivo (espécie) a
movimentação foi de R$ 906,8 milhões. O Coaf mandou 78 relatórios ao procurador
da república Deltan Delagnol e ao delegado federal Márcio Anselmo, que cuidam
das investigações da Lava Jato.
A pressão aumenta absurdamente... Janot ficou pt da vida
com a reportagem de capa da revista IstoÉ, acusando-o de participar de "um
esquemão para abafar a Lava Jato". A publicação revelou que que Janot se
reuniu com empreiteiras e propôs plano para impedir que Planalto seja
investigado no escândalo. Segundo a revista, as empreiteiras também admitiriam
alguns crimes, e em troca poderiam, continuar disputando obras públicas e seus
executivos cumpririam pena em regime domiciliar. À revista, Janot negou que
tenha proposto o acordo. Na nota, ele não faz referência à matéria da revista.
Janot mandou sua assessoria soltar uma nota oficial para
avisar que: "Em respeito à função institucional de defender a sociedade e
combater o crime e a corrupção, o Ministério Público Federal cumprirá seu dever
constitucional e conduzirá a apuração nos termos da lei, com o rigor
necessário. O procurador-geral da República não permitirá que prosperem
tentativas de desacreditar as investigações e os membros desta instituição".
Janot também mandou ressaltar que: "Até o momento, a investigação revelou a ocorrência de graves ilícitos envolvendo a Petrobrás, empreiteiras e outros agentes que concorreram para os delitos, o que já possibilitou ao Ministério Público Federal adotar as primeiras medidas judiciais. A utilização do instrumento da colaboração premiada tem permitido conferir agilidade e eficiência à coleta de provas, de modo a elucidar todo o esquema criminoso". Por fim, o Procurador-Geral da República assegurou que: "Medidas judiciais continuarão a ser tomadas como consequência dessa investigação técnica, independente e minuciosa. O Ministério Público Federal reafirma seu dever de garantir o cumprimento da lei”.
Empreiteiros enrolados na Lava Jato têm tudo para serem indiciados nesta semana pelos crimes de corrupção, fraudes em licitações e lavagem de dinheiro. Todos devem ser enquadrados na Lei Anticorrupção - 12.846, em vigor desde 29 de janeiro de 2014. A bronca, em breve, recairá sobre os políticos de pelo menos três partidos citados nas delações premiadas: PT, PMDB e PP. Dependendo de quem for denunciado, certamente a partir de fevereiro, o governo Dilma Rousseff pode ficar inviabilizado juridicamente. Se ficar provado que a grana da corrupção financiou campanhas, incluindo a presidencial, desde 2010, o caminho do impeachment fica escancarado.
Tem tudo para não acontecer porque a corrupção no Brasil é sistêmica e institucionalizada. Vide o recente indiciamento pela Polícia Federal de 33 pessoas suspeitas de envolvimento no Cartel do Metrô em São Paulo que operou entre 1998 e 2008, durante governos do PSDB. O Ministério Público Federal entrou com uma ação pedindo a anulação de contratos da Companhia Paulista de Trens Urbanos nos anos de 2001 e 2002. Pediu o ressarcimento de R$ 418 milhões ao Estado. Solicitou a dissolução das principais empresas envolvidas no escândalo: Siemens, Alstom, Caf (Brasil), Caf (Espanha), TTrans, Bombardier, MGE, Tejofran, Temoinsa, Mitsui e MPE.
A nazicomunopetralhada, enrolada com Mensalão, Petrolão e, futuramente, com o Eletrolão, comemora a desgraça dos opositores. Ontem, o governador Geraldo Alckmin deu uma resposta política para o caso que, pelas evidências, segue esquemas parecidos com os observados na Lava Jato. Alckmin ponderou: "Se ficar comprovado o cartel, o estado é vítima, e as empresas vão indenizar o estado. Já entramos com uma ação já faz 1 ano e 3 meses. Quem investiga cartel é o Cade, e o Cade já está fazendo o processo investigatório, e nós também. Cartel se faz fora do governo e em prejuízo da licitação. O governo é vítima, já entrou com ação para a indenização e se tiver algum agente público seja ele quem for, envolvido, ele será rigorosamente punido."
A instituição, neste final de ano, da Associação dos Juízes Anticorrupção será um fator de grande pressão contra os ladrões dos cofres públicos no Brasil. Por enquanto, o crime compensa. Os bandidos se locupletam. Seus familiares, com o roubo acumulado até agora, têm fortuna garantida para várias gerações. Mas, se as falcatruas caírem nos tribunais dirigidos pela turma da AJA, disposta a agir com coragem e técnica jurídica, fazendo bom uso da "transação penal" (base jurídica das "colaborações premiadas"), a coisa deve ficar feia para os corruptos.
Lugar de político ladrão é no parlatório da Penitenciária, e não nos parlamentos ou nos governos. Infelizmente, a impunidade abunda por aqui. Os mensaleiros condenados vão passar o Natal com a família, não por indulto, mas porque estão no regime de "prisão domiciliar" (que os lusitanos devem achar uma piada jurídica de brasileiro)...
Vale a torcida. Vamos continuar remando... A maré começa a ficar a favor... Os brasileiros de bem, que estudam, trabalham e produzem, não merecem ser motivo de piada transnacional. É preciso dar um basta ao vexame causado pela corrupção sistêmica.
Por isso, "AJA" disposição para fazer Justiça de verdade. Principalmente em um judiciário que ainda deixa a desejar, atrapalhado por procedimentos processuais que só facilitam a impunidade, com infindáveis recursos nos Processos Penais, sem chegar a uma decisão final de punir ou inocentar quem é processado.
Corruptos, uni-vos na cadeia... Eis o desejo da maioria dos brasileiros e brasileiras que precisam se manifestar mais intensamente, em público e no mundo virtual, para que os bons e corretos exemplos venham de cima, a partir da pressão de baixo.
As manifestações contra o governo continuam, cada vez levando mais gente para a rua, como ontem, em São Paulo. Concretamente, Dilma não cairá por denúncias de corrupção. O risco dela é se a crise econômica se agravar, conforme está previsto.
Impeachment repudiado
Numerologia da pensão
Farofada
Farofa-fá...
Um clássico do cantor Mauro Celso na década de 70:
Farofá-fá
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