08/12/2014
às 6:29
Em
alguma medida, Delúbio Soares acertou. O mensalão, diante do petrolão,
acabou mesmo virando, como ele previu, “piada de salão”. É claro que por
motivos diferentes dos antevistos pelo ex-tesoureiro do PT. Certo da
impunidade e de que estava “tudo dominado”, Delúbio fez a ironia
arrogante para indicar que aquela coisa toda não daria em nada.
Não foi
bem assim, embora ele próprio já esteja flanando por aí. Mas houve
punição. Pode-se, no entanto, afirmar que aquele crime acabou perdendo
importância relativa. Uma única personagem do petrolão, Pedro Barusco,
aceitou devolver aos cofres públicos US$ 97 milhões — ou R$ 253 milhões
—, bem mais dos que os R$ 141 milhões que puderam ser identificados
naquele escândalo. Lembrança importante: Barusco era subordinado do
petista Renato Duque; não passava de personagem menor no esquema.
Imaginem quanto dinheiro não foi movimentado pela organização criminosa
só na estatal. Por que isso tudo? Vou falar aqui da pesquisa Datafolha
divulgada neste domingo e discordar de uma afirmação feita pelos
comandantes do instituto.
Neste
domingo, a Folha traz os números que revelam como os brasileiros
enxergam o escândalo da hora. São muito ruins para a presidente Dilma,
embora alguns possam achar, por erro ou interesse político, que a coisa
não é assim tão grave para a petista. Para 43% dos que responderam à
pesquisa, a presidente tem “muita responsabilidade” na roubalheira;
afirmam que ela tem “um pouco de responsabilidade” outros 25%.
Assim,
nada menos de 63% entendem que a governanta, em algum grau, tem de
responder pelos desmandos. Só 20% acham que a mandatária não tem nada
com isso, e 12% não souberam responder. A Folha ouviu 2.896 pessoas em
173 municípios, no dias 2 e 3 de dezembro, com margem de erro de 2
pontos para mais ou para menos.
A despeito
dos esforços do governo e da campanha eleitoral do PT para transformar
em vilões os que apontam a ladroagem, o escândalo da Petrobras “pegou”.
Dizem ter ouvido falar do assunto 84%: 28% se consideram bem informados;
42%, “mais ou menos bem informados”, e 14%, mal informados; só 16%
ignoram o assunto.
Sigamos. Apesar disso, o efeito negativo da
sem-vergonhice na imagem do governo ainda é limitado — mas pode vir a
preocupar (já chego lá). A gestão Dilma segue sendo ótima ou boa para
42%, número idêntico ao do dia 21 de outubro. Cresceram de 20% para 24%
os que a tomam como ruim ou péssima, e caíram de 37% para 33% os que a
veem como regular.
As coisas
podem piorar para a presidente? Há sinais de que sim. No dia 21 de
outubro, às vésperas do segundo turno, 44% achavam que a situação do
país iria melhorar; agora, só 33%; 15% diziam que iria piorar, número
que saltou para 28% em pouco mais de um mês; e permanece praticamente
igual o índice dos que opinam que vai ficar na mesma: de 33% para 34%.
Pois é… O caso Petrobras está longe do fim, e os dias futuros não são
exatamente sorridentes para Dilma. O pessimismo, aponta a pesquisa,
cresceu bastante.
Há um
texto na Folha assinado por Mauro Paulino, diretor-geral do Datafolha, e
Alessandro Janoni, diretor de pesquisas, em que se afirma o seguinte,
prestem atenção: “No caso de corrupção na Petrobras, apesar de a grande
maioria ter ouvido falar do tema e ver a responsabilidade da presidente
no episódio, efeitos mais expressivos na imagem da petista são anulados
pelo reconhecimento por parte dos entrevistados de que, no seu governo,
há investigação e punição dos envolvidos”.
Pois é… O
que leva a dupla a afirmar que uma coisa anula a outra, o que me parece
não ter fundamento nenhum? Vamos ver. Indagados em qual governo houve
mais corrupção, os que responderam a pesquisa puseram o de Dilma em
segundo lugar, com 20% — só perdendo para o de Collor: 29%. Mas 46%
afirmam que a gestão da governanta é aquela em mais se investiga, e 40%
sustentam que é aquela em que mais se pune. Será que isso anula mesmo a
percepção de que Dilma é a responsável pelos desmandos na Petrobras,
como querem os comandantes do Datafolha? Acho que não.
E por quê?
Porque, obviamente, expressiva maioria ou não tem memória de governos
passados — alguns eram bebês, crianças ou nem tinham nascido — ou
simplesmente não se lembram de punições porque os casos de corrupção não
eram tão presentes. Querem um exemplo? Só 1% afirmou que a gestão
Itamar foi aquela em que mais se puniu; esse mesmo 1% entende que foi o
governo em que mais se investigou, mas também ficou em 1% os que
afirmaram que foi o governo mais corrupto.
Assim, uma
coisa não anula outra. A estarem certos os números — e não entendi por
que nem a Folha nem o Datafolha deram visibilidade aos dados —, no dia
21 de outubro, era de 29 pontos o saldo favorável ao governo entre os
que achavam que a situação econômica do país iria melhorar (44%) e os
que achavam que iria piorar: 15%. Agora, os dois grupos estão bem
próximos, e o saldo caiu para 5 pontos: apenas 33% dizem que vai
melhorar, mas 28%, que vai piorar.
Com margem de erro de 2 pontos para
mais ou para menos, é quase empate técnico. Tudo o mais constante — as
notícias sobre a roubalheira e o mau desempenho da economia —, é só uma
questão de tempo para que os dois fatores incidam negativamente na
popularidade da presidente.
Dilma viverá, fiquem certos, dias mais difíceis do que sugerem os comandantes do Datafolha.
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