Nada mais velho do que a tentativa de
nossa esquerda monopolizar as virtudes e os fins nobres, como se somente
ela se preocupasse com os mais pobres e defendesse seus interesses. Na
incapacidade de debater focando em argumentos e fatos, de rebater as
acusações de seus “malfeitos” no poder, de responder sobre os
infindáveis escândalos nos quais se vê envolvida, essa esquerda apela
para o velho bordão de que faz tudo em defesa dos pobres e, portanto,
goza de um salvo-conduto para o crime.
“Não somos ladrões”, disse o ex-ministro
Gilberto Carvalho. É o brado dos corruptos que banalizaram a corrupção.
Escândalos milionários quase não ganham mais destaque, uma vez que os
bilionários assumiram seus lugares. Desvios que destroem as maiores
empresas estatais do país e, no caminho, deixam “comissões” de US$ 100
milhões na Suíça para subalternos. Ladrões? Claro que não. Essa palavra
seria suavizar demais, amenizar demais o que significa montar um
verdadeiro sistema de corrupção em toda a máquina pública.
E não é “só” isso! Crimes mais bisonhos,
como o até hoje inexplicado assassinato de Celso Daniel, ex-prefeito
petista, assombram certas figuras do partido, que alguns preferem chamar
de “ajuntamento mafioso”. Ladrão parece uma figura menor, quase
insignificante quando se analisa o currículo de alguns membros da alta
cúpula do PT. Ladrão nos remete ao sujeito que furtou um objeto de uma
loja, não ao mais corrupto governo da história deste país.
Diante de tudo isso, resta apelar para o
monopólio da defesa dos pobres. A “quadrilha dos pobres”, eis a única
quadrilha a que pertencem. E são atacados pela “elite” pois esta não
suportaria a ascensão dos mais pobres. Só há um “detalhe”: ninguém mais é
pobre na quadrilha. Todos ficaram ricos, frequentam o hospital privado
mais caro do país, circulam de jatinho por todo canto, compram
coberturas triplex em locais de luxo, bebem dos melhores vinhos. Pobres
são aqueles manipulados pelos corruptos, usados como massa de manobra,
como inocentes úteis para seu projeto de poder.
O populismo precisa dos pobres como o
poeta necessita da dor. Sem eles, os populistas não conseguem se
perpetuar no poder, falando em nome dos pobres, enquanto enchem os
bolsos e as contas no exterior de dinheiro sujo, desviado do orçamento
público. Para que os populistas transformem a “coisa pública” em “cosa
nostra”, faz-se necessária a existência de uma gama de pessoas carentes e
ignorantes, desesperadas por esmolas.
O trabalho sujo de forjar um elo
artificial entre uns e outros fica a cargo dos “intelectuais”, que se
vendem por migalhas ou em busca do ópio para apaziguar sua alienação
perante a sociedade “burguesa”, que detestam com todos os músculos de
seus corpos. Assim nasce a falácia de que essa esquerda corrupta,
carcomida, autoritária e indecente, a tal elite vermelha, luta pelos
direitos dos pobres. Nada mais falso.
O pobre é só seu mascote, seu instrumento
de “trabalho”, sua argila a ser moldada de forma a permitir o
enriquecimento e o acúmulo de poder por parte da quadrilha. A quadrilha
dos ricos que exploram os pobres, usando o socialismo, o discurso
igualitário, o populismo, a retórica messiânica, como entorpecentes para
garantir sua permanência no poder.
Usurpam a esperança dos incautos e abusam
de sua estupidez para viverem como os nababos capitalistas que condenam
nos discursos hipócritas. Agem como os piores coronéis nordestinos do
passado – e do presente. Ladrões? Não são “apenas” ladrões. São muito
mais do que isso. São muito piores!
Rodrigo Constantino
Rodrigo Constantino
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