Publicado: 5 de janeiro de 2015 às 0:00 - Atualizado às 23:06
A passagem do Lula por Brasília, para a cerimônia da
segunda posse de Dilma, resumiu-se ao abraço que deu na presidente da
República, logo depois dela subir a rampa do Planalto.
Assim como chegou, partiu: meteoricamente. Deixou de assistir a nomeação dos novos ministros para não cumprimentá-los, ficando evidente não ser esse o time dos seus sonhos. Continuará à disposição da sucessora, mas de longe. Se não for procurado, não tomará a iniciativa de procurar. A tutela parece esmaecida e o distanciamento tem um nome: chama-se Aloísio Mercadante.
O chefe da Casa Civil, nas funções de primeiro-ministro de Dilma, vem trabalhando há tempos para afastar a influência do ex-presidente no governo, acometido pelo que se pode chamar de “síndrome do José Dirceu”.
Manobra para vir a ser o candidato em 2018, e conseguiu afastar do núcleo mais denso do poder alguns esteios do Lula, como Jacques Wagner, exilado no ministério da Defesa, Ricardo Berzoini, com a bomba da regulação social da mídia pronta para explodir em suas mãos, no ministério das Comunicações, mais Marco Aurélio Garcia, cada vez mais afastado da política externa, e Gilberto Carvalho, turbinado para a estratosfera.
É evidente ser muito cedo para armar a equação anti-Lula, ainda que Mercadante recite todas as manhãs o velho provérbio árabe, de que “bebe água limpa quem chega primeiro na fonte”. Na medida em que os ministros venham a passar pelo seu gabinete, antes, depois ou mesmo sem ter despachado com a presidente Dilma, o novo “capitão do time” ampliará seu arco de influência. Conta com o apoio de Pepe Vargas, das Relações Institucionais, para dialogar com o Congresso, e de Miguel Rosseto, na Secretaria Geral, antípoda de Gilberto Carvalho.
Em suma, as preliminares estão sendo colocadas, mesmo diante do imponderável. Pelo que se ouve, o Lula está disposto a cultivar o PT a partir de suas bases, dedicando especial atenção às eleições municipais de 2016 e estimulando a renovação de seus quadros. O desgaste do partido ficará por conta do governo Dilma.
OS OCULOS DE TANCREDO
A história já foi contada mas merece ser repetida. Tancredo Neves viajava pelo país, pouco antes de ser eleito presidente da República. Estava assegurada sua vitória sobre Paulo Maluf, no Colégio Eleitoral, mas importava marcar sua presença em todo o território nacional. Os vôos, em jatinhos fretados pelo PMDB, eram longos, quando candidato aproveitava para cochilar. Ao seguir do Rio para Fortaleza, ia com ele Francisco Dornelles, já escolhido ministro da Fazenda, muito preocupado com a situação econômica.
Naquele dia, levava minucioso estudo sobre a política cambial, que passou a Tancredo pedindo sua leitura atenta. Eram mais de cem páginas, que o candidato folheou, depois depositou na poltrona ao lado, lamentando: “que pena. Esqueci os óculos”.
Dornelles passou uma reprimenda no chefe, dizendo que ele deveria ter diversos pares de óculos, um no bolso, outro na pasta, um terceiro em casa e outro no escritório. Com cara de culpado pelo esquecimento, Tancredo fechou os olhos e disse que tentaria dormir um pouco.
Não se passaram dois minutos e o futuro ministro, fingindo repousar, estava de olho em Tancredo, que flagrou botando a mão no bolso, tirando os óculos e pedindo a um assessor: “major, passe-me os jornais”. Dornelles achou melhor não protestar. Conhecia bem as manhas de Tancredo…
Assim como chegou, partiu: meteoricamente. Deixou de assistir a nomeação dos novos ministros para não cumprimentá-los, ficando evidente não ser esse o time dos seus sonhos. Continuará à disposição da sucessora, mas de longe. Se não for procurado, não tomará a iniciativa de procurar. A tutela parece esmaecida e o distanciamento tem um nome: chama-se Aloísio Mercadante.
O chefe da Casa Civil, nas funções de primeiro-ministro de Dilma, vem trabalhando há tempos para afastar a influência do ex-presidente no governo, acometido pelo que se pode chamar de “síndrome do José Dirceu”.
Manobra para vir a ser o candidato em 2018, e conseguiu afastar do núcleo mais denso do poder alguns esteios do Lula, como Jacques Wagner, exilado no ministério da Defesa, Ricardo Berzoini, com a bomba da regulação social da mídia pronta para explodir em suas mãos, no ministério das Comunicações, mais Marco Aurélio Garcia, cada vez mais afastado da política externa, e Gilberto Carvalho, turbinado para a estratosfera.
É evidente ser muito cedo para armar a equação anti-Lula, ainda que Mercadante recite todas as manhãs o velho provérbio árabe, de que “bebe água limpa quem chega primeiro na fonte”. Na medida em que os ministros venham a passar pelo seu gabinete, antes, depois ou mesmo sem ter despachado com a presidente Dilma, o novo “capitão do time” ampliará seu arco de influência. Conta com o apoio de Pepe Vargas, das Relações Institucionais, para dialogar com o Congresso, e de Miguel Rosseto, na Secretaria Geral, antípoda de Gilberto Carvalho.
Em suma, as preliminares estão sendo colocadas, mesmo diante do imponderável. Pelo que se ouve, o Lula está disposto a cultivar o PT a partir de suas bases, dedicando especial atenção às eleições municipais de 2016 e estimulando a renovação de seus quadros. O desgaste do partido ficará por conta do governo Dilma.
OS OCULOS DE TANCREDO
A história já foi contada mas merece ser repetida. Tancredo Neves viajava pelo país, pouco antes de ser eleito presidente da República. Estava assegurada sua vitória sobre Paulo Maluf, no Colégio Eleitoral, mas importava marcar sua presença em todo o território nacional. Os vôos, em jatinhos fretados pelo PMDB, eram longos, quando candidato aproveitava para cochilar. Ao seguir do Rio para Fortaleza, ia com ele Francisco Dornelles, já escolhido ministro da Fazenda, muito preocupado com a situação econômica.
Naquele dia, levava minucioso estudo sobre a política cambial, que passou a Tancredo pedindo sua leitura atenta. Eram mais de cem páginas, que o candidato folheou, depois depositou na poltrona ao lado, lamentando: “que pena. Esqueci os óculos”.
Dornelles passou uma reprimenda no chefe, dizendo que ele deveria ter diversos pares de óculos, um no bolso, outro na pasta, um terceiro em casa e outro no escritório. Com cara de culpado pelo esquecimento, Tancredo fechou os olhos e disse que tentaria dormir um pouco.
Não se passaram dois minutos e o futuro ministro, fingindo repousar, estava de olho em Tancredo, que flagrou botando a mão no bolso, tirando os óculos e pedindo a um assessor: “major, passe-me os jornais”. Dornelles achou melhor não protestar. Conhecia bem as manhas de Tancredo…
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