Felipe Moura Brasil
Após receber o cargo do paranaense Paulo Bernardo, que não encampava o projeto, o queridinho de Lula e notório defensor do mensaleiro José Dirceu disse que empresários, sindicalistas e representantes de movimentos sociais serão chamados para discutir a proposta que o Executivo apresentará para votação no Congresso.
Inicialmente ela não inclui a regulação de conteúdo pretendida pelo PT, mas o próprio Berzoini admitiu que, “se for bem conduzida”, “pode ser bem sucedida” e “se houver participação popular, tanto melhor.” Um dos focos é a distribuição da receita publicitária aos veículos de informação – o que poderia redundar, no futuro, em controle indireto do conteúdo pelo governo, como, na prática, já acontece, dada a bem-sucedida pressão petista para calar a apresentadora do SBT Rachel Sheherazade em pleno ano eleitoral.
Na gestão Lula, o principal entusiasta do projeto era o ex-ministro Franklin Martins, um dos responsáveis pela baixaria nas redes sociais disseminada pela campanha à reeleição de Dilma. Já a presidente, que mantinha distância da ideia, afirmou em 2014 que pretende abrir um “processo de discussão” sobre a “regulação econômica da imprensa”, porque “isso jamais poderá ser feito sem consultar a sociedade”. Pelas palavras de Berzoini, como apontou Veja.com, a sociedade a ser ouvida são sindicalistas e movimentos sociais aliados do PT.
Negócio da China
No mesmo dia em que Berzoini anuncia a censura petista, o caderno ‘Ilustrada’ da Folha traz a matéria “De Mao a pior“, que mostra a mais recente iniciativa da agência responsável pela censura na China do ditador Xi Jinping: mandar artistas para o campo para que eles se inspirem na vida simples dos trabalhadores a ter uma “visão correta da arte” – uma “arte moral” inspirada no socialismo, como Jinping defende.
Na ditadura chinesa, artistas, meios de comunicação e a internet são alvos constantes da censura, exercida por meio de bloqueios a transmissões televisivas, livros, filmes e páginas on-line com informações incômodas ao regime, como relatos sobre o massacre da praça da Paz Celestial, que vitimou entre 2.000 e 7.000 pessoas em 1989.
A nova medida remonta ao traumático período da Revolução Cultural (1966-1976), quando intelectuais e artistas sofreram perseguição e humilhações e milhões de pessoas foram enviados das cidades para ser reeducados em áreas rurais. É mais um reforço do controle sobre a indústria cultural, marcado por episódios como a censura ao uso de trocadilhos em programas de TV para preservar a “pureza do idioma”.
Jinping apertou o cerco a dissidentes e opositores desde que chegou ao poder, há dois anos. Minutos após chegar ao poder, Berzoini, na prática, prometeu apertar o cerco no Brasil também.
A censura petista é um negócio da China. Melhor aproveitar enquanto é tempo, antes que os trocadilhos acabem proibidos; e nossos artistas, obrigados a cursar o Pronatec do MST.
Felipe Moura Brasil ⎯ http://www.veja.com/felipemourabrasil
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