Impeachment é
muito demorado, presidente reincidente. O Brasil já deu um basta à
desgraça petista. Peça para sair, por favor. Quer cinco milhões de
pessoas batendo panelas?
Acuada pelo maior protesto da história
democrática do país contra um governo, a presidente Dilma Rousseff
decidiu reaparecer, discursar e tentar disfarçar o abatimento em uma
entrevista em Brasília. Tanto no pronunciamento, destinado à cerimônia
de sanção do novo Código de Processo Civil, quanto nas respostas às
perguntas de jornalistas, a única novidade foi a mudança no tom: a
exemplo da fala de ministros
mais cedo, palavras como "humildade" e "diálogo" foram incorporadas no
vocabulário da petista nesta segunda-feira. Dilma voltou a defender a
aprovação do ajuste fiscal, prometeu entregar seu pacote atrasado
anticorrupção e fez um apelo: "Vamos brigar depois".
Durante
suas falas, a presidente visivelmente se esforçou para transmitir uma
imagem mais leve: sorriu, brincou com jornalistas e até ensaiou admitir
erros. Mas não tardou para algumas contradições surgirem: Dilma não
resistiu, cutucou a oposição e tentou equiparar a passeata promovida
pelos seus aliados - muitos pagos para comparecer ao ato - na
sexta-feira aos milhares de brasileiros que foram às ruas no domingo.
A
confissão parcial de que seu governo errou foi feita em entrevista
coletiva, quando a petista analisava o cenário de instabilidade
econômica. Dilma lembrou que o governo aplicou todos os recursos, no
primeiro mandato, para enfrentar a crise financeira internacional, e
disse que agora é preciso fazer um ajuste para corrigir os rumos. Quando
questionada sobre a responsabilidade do governo sobre o desequilíbrio,
ela chegou afirmou: "É possível que a gente possa ter até cometido algum
[erro]. Agora, qual foi o erro de dosagem que nós cometemos? Nós
gostaríamos muito que houvesse uma melhoria econômica de emprego e de
renda. Tem gente que acha que a gente devia ter deixado algumas empresas
quebrarem e muitos trabalhadores se desempregarem. Eu tendo a achar que
isso era um custo muito grande para o país. Agora que é possível
discutir se podia ser um pouco mais, um pouco menos, é possível
discutir", disse ela. Mas em seguida fez um contraponto: "Ninguém pode
negar que nós fizemos de tudo para a economia reagir".
Crise
política - Em sua entrevista, como havia feito minutos antes no discurso
que fez ao sancionar o novo Código de Processo Civil, a presidente
afirmou que o governo está disposto a fazer um diálogo amplo e com
"humildade".
Embora
tenha dito que as manifestações são um direito do regime democrático,
Dilma também fez uma espécie de apelo pela união nacional: "Vamos brigar
depois. Agora vamos fazer pelo bem do Brasil tudo aquilo que tem que
ser feito pelo bem do Brasil", declarou. No mesmo tom, ela disse que é
preciso evitar a desestabilização das instituições: "Tem regras do jogo e
elas têm que ser seguidas. Se você instabiliza um país sempre que lhe
interessa, uma hora essa instabilidade passa a ser algo que ameaça a
todos. A escalada é a pior situação que tem", afirmou.
A
presidente também fez elogios ao PMDB e ao vice-presidente, Michel
Temer. O partido de Temer tem se distanciado do PT e reclama da falta de
espaço no governo: "Longe de nós querer isolar o PMDB", afirmou a
petista.
Dilma
Rousseff comentou ainda a afirmação, dada pelo presidente da Câmara,
Eduardo Cunha (PMDB-RJ), segundo quem a corrupção está no Executivo, e
não no Legislativo. A presidente discordou: "Eu acho que essa discussão
não leva a nada. A corrupção não nasceu hoje. Ela não só é uma senhora
bastante idosa nesse país como ela não poupa ninguém. Pode estar em tudo
quanto é área, inclusive no setor privado", declarou.
Economia -
Diante da crise econômica, Dilma adotou um discurso otimista. Ela
afirmou que não é possível manter as políticas anticíclicas no formato
que foram adotadas no primeiro mandato, mas disse que o ajuste fiscal
vai fazer efeito. "Esse esforço vai ser ao longo deste ano, mas o Brasil
tem todas as condições de sair em menos tempo do que em qualquer outra
circunstância", afirmou.
Duque e
Vaccari - A presidente da República disse não acreditar que a prisão do
ex-diretor da Petrobras Renato Duque e o indiciamento dele e do
tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, tenham reflexos sobre o governo.
"Eu não acredito. Esses acontecimentos mostram que todas as teorias a
respeito de como é que o governo interferiu sobre o Ministério Público
ou quem quer que seja para investigar ou fazer qualquer coisa com quem
quer que seja são absolutamente infundadas", afirmou.
Fies -
Além de reconhecer a possibilidade de erros na economia, Dilma admitiu
que o governo errou na condução do Fies, o programa de financiamento
estudantil. Segundo ela, foi inadequado ceder às universidades o
controle sobre a contabilização das matrículas. "O governo cometeu um
erro. Passou para o setor privado o controle dos cursos. Nós não fizemos
isso com o Prouni, não fazemos isso com o Enem, não fazemos isso com
ninguém", declarou. A presidente disse que o governo já começou a
resolver a falha.
Ao
comentar a postura de "humidade" prometida pelo governo, Dilma não quis
fazer um mea culpa. "Tem uma certa volúpia da imprensa em querer uma
situação confessional. Não tem na minha postura nenhuma situação
confessional (...) Isso aqui não é um auto de confissões, vocês vã
concordar, é uma entrevista". Depois, completou: "Se alguém achar que eu
não fui humilde em algum diálogo, me diga qual e aí eu tomo
providências. Caso contrário, seria um absoluto fingimento da minha
parte".
A coletiva desta segunda foi a mais longa registrada nos últimos meses: durou quase meia hora. (Veja.com).
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