sexta-feira, 24 de abril de 2015

El Clarin- Adeus ao boom das economias emergentes.O auge das economias emergentes, incluindo a Argentina como ator secundário, dominou boa parte da última década. Mas nas últimas semanas estão se acumulando evidências que respaldam a hipótese do fim de um ciclo.O caso do Brasil é talvez o mais severo e o que mais afeta a Argentina, com uma recessão estimada em 1,25% no primeiro trimestre deste ano.

ANÁLISE



Pablo Maas

Foi bom enquanto durou.
Buenos Aires, 20 de abril de 2015


O auge das economias emergentes, incluindo a Argentina como ator secundário, dominou boa parte da última década. Mas nas últimas semanas estão se acumulando evidências que respaldam a hipótese do fim de um ciclo.


Começando pela região, no começo do mês a Comissão Econômica para América Latina e Caribe (CEPAL) publicou um relatório em que reduz à metade suas projeções de crescimento econômico para a região. O órgão da ONU, respeitado pela qualidade de seus números, assegurou que os países da América Latina e do Caribe crescerão apenas 1% neste ano, na comparação com uma projeção anterior de 2,2%.

Brasil

A estimativa para a Argentina foi rebaixada de 1% para zero. A economia do Brasil, em vez de crescer 1,3% se contrairá 0,9%. E assim com quase todos os países. A América Latina é um dos grandes perdedores do fim do chamado superciclo das matérias-primas. Seja o cobre, a soja, o mineral de ferro ou o petróleo, todos os países da região estão ajustando suas economias de acordo aos novos tempos.

O caso do Brasil é talvez o mais severo e o que mais afeta a Argentina, com uma recessão estimada em 1,25% no primeiro trimestre deste ano.


(Dragão com menos força)

China

A taxa de expansão da economia chinesa também caiu para abaixo de 7%.

O crescimento do conjunto dos países emergentes está hoje em seu menor nível desde 2009. Naquela época, a queda era justificada pelo impacto da crise internacional, com epicentro nos países ricos. Mas agora se trata de fatores internos, aos quais se acrescenta um refluxo de capitais em direção às metrópoles financeiras, impulsionado pela extraordinária força do dólar.

Para o FMI, que se reuniu em Washington com o Banco Mundial para seu encontro anual de primavera, a economia mundial corre o risco de entrar em um período prolongado de baixo crescimento, o que alguns economistas chamam de estancamento secular.

Trata-se de uma consequência da Grande Recessão, mas também de ventos de frente de caráter estrutural, que vêm desde antes do crack financeiro de 2008, como o envelhecimento da população nos países industrializados e menores taxas de produtividade nos emergentes.

Ricos

Na área dos países ricos, a Europa e o Japão não melhoram em termos de nível de atividade e ocupação, a ponto de o Tesouro dos Estados Unidos os exortar no começo de abril a não confiar apenas em estímulos monetários, mas também a tomar medidas fiscais para impulsionar o consumo. Em um relatório, o Tesouro disse que a recuperação da economia dos EUA continua seu caminho, mas que a economia mundial está crescentemente desequilibrada.


Apontou especificamente para a Alemanha, que tem um superávit de conta-corrente descomunal de 7,8% do PIB, e a instou a gastar mais e a não confiar apenas nas políticas monetárias do Banco Central Europeu.



Para a Argentina, esse cenário é adverso e multiplica os desafios para a política econômica a médio prazo. Até agora, o país respondeu prociclicamente aos vaivéns da economia mundial, expandindo-se nos auges e pagando as depressões com recessão interna.

O fim do boom dos países emergentes, com a desaceleração da China e a recessão no Brasil, os dois maiores sócios comerciais, marca a entrada em uma nova etapa, mais difícil e complexa.

Nenhum comentário: