Florença,
Itália - Noaldo Dantas, de saudosa memória, não cansava de repetir, para
deleite da plateia, quando via um colega com o rei na barriga: “O
jornalista é um miserável importante”. Frasista dos bons, não sei se
posso atribuir-lhe a autoria dessa pérola mas que é verdade não há
dúvida. Lula, quando fala que “se juntar todos os jornalistas da Veja e
da Época não dão 10% da minha honestidade”, não quer atingir apenas os
profissionais dessas duas revistas, mas também os jornalistas que usaram
seus veículos de comunicação para levá-lo ao poder. Fala de cadeira
porque muitos ele cooptou para o seu governo. Portanto, conhece a
vulnerabilidade de cada um dos seus seguidores.
Na verdade, dois
candidatos à presidência da república contaram com os teclados submissos
e generosos de muitos jornalistas no Brasil: Collor e Lula. O primeiro
atraiu muitos colegas de redação com a guerra contra os marajás.
Convidava-os em lote para visitar Alagoas, onde uma estrutura de
comunicação se encarregava de encantá-los com os projetos de moralização
do seu governo garantindo a mídia favorável nos jornais e revistas.
O
Lula apareceu como líder dos trabalhadores do ABC e logo virou atração
de modernidade para a esquerda festiva e burguesa e dos jornalistas
deslumbrados que viram no PT a marca da contestação ao regime militar e o
rompimento ideológico com antigos partidos, como o PCB, por exemplo.
Veja
que o vermelho não é diferente do colorido. A prova disso é que ambos
estão juntos hoje em dia. E partiu de Lula a iniciativa de se aproximar
de Collor para que ele ajudasse o PT a se estabilizar no poder, postura
tão diferente daquela quando incentivou o Zé Dirceu e seus militantes
caninos a provocar a CPI do PC Farias que terminou com o impeachment do
seu atual amigo. Lula não se conformava ter perdido a eleição para
Collor em um debate desastroso em que gaguejou durante todo o tempo,
mesmo acostumado aos grandes confrontos.
Pois bem, Lula fala de
cadeira quando direciona seus mísseis para os jornalistas. O único
equívoco é quando generaliza. Nem todos os profissionais comem ou
comeram no seu cocho de mandioca. Mas uma boa parte sim, diga-se. Com a
sua chegada ao governo, muitos dos seus adeptos largaram as redações e
seguiram o mestre na sua escalada ao poder. Foram coerentes: defenderam
as ideias de Lula nas redações às custas dos patrões que os remuneravam e
depois foram se aboletar nas repartições a soldo do erário público.
Lula
aparelhou o estado distribuindo estrategicamente os jornalistas que
lhes prestavam obediência nos órgãos estatais. Aos colunistas políticos
mais conhecidos, ele deu posição de destaque no seu governo. Entregou a
alguns, inclusive, os cargos de comando nas empresas de comunicação do
governo. Usou e abusou de todos eles e depois descartou-os como rolete
chupado. Muitos, desiludidos e frustrados, hoje estão na oposição.
Coisa feia.
Cospem no prato que comeram. Uma indelicadeza com o chefe. Agora, doze
anos depois, surge uma nova geração de jornalistas independentes nas
redações que só conhece de Lula e do PT os atos de corrupção. É para
esses jornalistas novos, apartidários, que Lula se lança ao ataque com
seu contingente de guerrilheiros vermelhos da comunicação na rede dos
blogs chapas-brancas financiados pelos órgãos públicos.
Na
trincheira de Lula, tentando erguer envergonhadamente a bandeira da
moralidade, estão muitos jornalistas medíocres que foram se abastecer
nas tetas do governo. São dessas tetas que provêm seus sustentos. Nada
seria demais se o trabalho desses profissionais visassem apenas a
divulgação isenta da notícia dos órgãos estatais.
O que se vê,
porém, é a utilização da máquina do governo para difamar e ameaçar
autoridades constituídas que investigam a corrupção ou pessoas de bem
que divergem do caminho desastroso que os petistas levam o país.
É
assim, diante dessa submissão e do servilismos doentio de alguns
profissionais de imprensa, que vivem à sombra das benesses petistas, que
o jornalista brasileiro deixa de ser um miserável importante, para se
transformar, infelizmente, apenas em miserável.
14 de maio de 2015
14 de maio de 2015
Jorge Oliveira, jornalista, dois Prêmios Esso, foi diretor do Sindicato dos Jornalistas do Rio, diretor da Fenaj e da ABI, entre outras entidades da categoria.
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