sexta-feira, julho 17, 2015
Presidente da Agefis revela que governo vai contratar
empresas para a demolição de prédios construídos irregularmente
Novas construções irregulares surgem a todo instante no
Distrito Federal – para a comprovação, basta um pulo em Vicente Pires. Quem as
vê pode até se perguntar por onde anda a fiscalização. A esse tipo de
questionamento, a presidente da Agência de Fiscalização (Agefis), Bruna
Pinheiro, é clara: obras ilegais, não consolidadas, serão derrubadas
“muito em breve”, e quem pagará a conta da demolição é o próprio invasor da
terra pública.
A promessa é de que essa e outras medidas estão a caminho. “Não
temos a intenção de derrubar todos aqueles (prédios) que já estão construídos,
mas pretendemos regularizar cobrando muito caro o metro quadrado da
irregularidade”, assegura Bruna, que é servidora pública da agência há 21 anos.
O objetivo, diz a gestora, é coibir as irregularidades em todo o DF, do Setor
Sol Nascente aos lagos Sul e Norte. Aliás, a desobstrução da orla do espelho
d´água é outra garantia dada pela presidente da Agefis, que reforça: “A política
desse governo é não permitir novas invasões”.
Qual o balanço dos primeiros seis meses de trabalho?
A primeira coisa que fizemos foi mudar a metodologia de
trabalho da Agefis, que vinha trabalhando do mesmo jeito nos últimos 20 anos.
Claramente, isso se demonstrou falível, porque só vimos as irregularidades e os
problemas crescendo, principalmente em relação à grilagem de terras.
Mudamos
completamente. Os auditores eram divididos em trechos, ficavam ali entre
três e seis meses e, dentro daquela área, tinham total autonomia para decidir o
que seria feito. Isso até funcionou bem no começo, quando tínhamos uma
grande quantidade de auditores. Então, mudamos essa questão drasticamente.
Não
trabalhamos mais com trechos, mas, sim, com programação fiscal pré-estabelecida.
Levantamos temas prioritários, ações que são mais graves, aquilo que faz mais
mal à cidade e soltamos uma programação para uma ação em conjunto. O
planejamento é ter começo, meio e fim. Resolveu aquele problema, vamos para o
próximo.
1.A Agefis fez uma ação no Sol Nascente, que retirou
ocupantes de uma área necessária para a construção da infraestrutura. Esse tipo
de operação vai ocorrer sempre?
Infelizmente, sim. Poderíamos usar a fiscalização para
trabalhar muito mais com a educação fiscal, proteger o tombamento. Mas a
indústria da grilagem praticamente se descontrolou nos últimos quatro
anos. Temos invasões enormes. Mas não é simplesmente retirar pessoas que
têm necessidade de moradia. Elas estão ocupando áreas de preservação de
nascente, áreas que podem comprometer o abastecimento de água.
Outro problema
sério é Vicente Pires. Veja o que aconteceu com aquela região, com o
trânsito, o abastecimento de energia, o transtorno para população daquela
imediação. Brasília não suporta mais isso. A política desse governo é não
permitir novas invasões. A data limite que colocamos é julho de 2014, porque,
no período eleitoral, a fiscalização praticamente não aconteceu. Fizemos
a ação no Sol Nascente, que parecia impossível, já que se tratava de 500
barracos. Politicamente, é muito ruim, mas é muito pior deixar. Deixar aquelas
edificações prejudicaria as três mil pessoas que estão no Trecho 1 do
Sol Nascente. Já existe um contrato para rua pavimentada, água canalizada,
passeio público e, na área de baixo, locais para creches, escolas, hospitais.
Aquela população precisa muito de um posto de saúde e onde isso seria
construído?
E a gente não pode esquecer também que existe uma máfia, um crime
organizado, pessoas vendendo o que não lhes pertence e usando um pouco da
ingenuidade da população. Um pouco, porque as pessoas já sabem o que é ou não
regular. Mas a população mais carente ainda é um pouco mais ingênua em relação
a isso. A grilagem se beneficia também da omissão do governo, da demora em
agir. Existia um critério nas últimas gestões de que casa habitada não era
derrubada. Então, era muito fácil. Se você conseguia cobrir e botar alguém lá
dentro, aquilo ficava consolidado. Esse critério nós eliminamos. Habitada ou
não, se for recente, em área de interesse social, ecológico, área prioritária
do governo, vai ser removida.
2.Muita gente comparou os métodos do governo no Sol
Nascente em relação às invasões da orla no Lago Sul. Como a Agefis lida com
esse tipo de crítica?
Esse governo foi o primeiro que enfrentou o problema da
orla. No primeiro mês, assumimos um acordo com a Justiça que estava sendo
protelado desde 2011. Nós assumimos que faríamos a desobstrução.
Não porque
existe a decisão judicial, mas porque entendemos que é o certo, que a orla
precisa ser democratizada. A ação foi toda planejada, organizada e foi
momentaneamente suspensa pela Justiça. Então, não existem dois pesos e duas
medidas. Assim como algumas casas em áreas de menor renda conseguem liminares,
em uma proporção muito menor, porque não podem pagar bons advogados, não
conhecem todos os meandros da lei, mas também acontece e nós respeitamos do
mesmo jeito.
Recentemente, tivemos uma operação no SIA, onde fizemos uma
demolição de um monte de casas e deixamos uma no meio, porque essa conseguiu
uma liminar. Esse governo teve a coragem de enfrentar e pretende fazer a
desobstrução assim que a Justiça finalizar o processo.
3.O cercamento geralmente invade a área pública. Essas
construções podem ser derrubadas com o mesmo tipo de operação que foi feita no
Sol Nascente?
Sim. Mas, por exemplo, algumas pessoas construíram
quadras de tênis, píeres. A ideia não é derrubar, mas abrir para que a
população utilize as construções. Até porque o dano ambiental de
demolição é muito maior do que deixar esses equipamentos como estão e abri-los
para a população.
4.Em Vicente Pires, que ainda está longe da regularização,
os prédios começaram a se multiplicar. Vai ser possível coibir esse tipo de
grilagem?
Para você ver como não existe limite para irregularidade.
É possível e vamos reverter. Tivemos uma reunião com a Associação Comercial de
Vicente Pires para dizer que não permitiríamos novos prédios. São duas coisas
distintas. Uma é a ação administrativa.
Essa já está em andamento. As obras
estão embargadas, estamos aplicando multas semanais, inscrevendo em dívida
ativa. E um outro processo, que já foi montado, é a demolição dos novos
prédios. A data limite de construção também vale para eles. Não temos a
intenção de derrubar todos aqueles que já estão construídos, mas pretendemos
regularizar cobrando muito caro o metro quadrado da irregularidade. O governo
está trabalhando em uma legislação para isso, mas não vamos permitir novos
edifícios.
Estamos preparando um termo de referência para contratação de uma
empresa especializada para demolição de prédios. E todo custo dessa demolição
vai ser cobrado do infrator que edificou aquele prédio. Até porque é uma
situação extremamente injusta. Além de ser um problema de iluminação, água,
esgoto, trânsito, do outro lado da EPTG, você tem, em Águas Claras,
empreendedores que demoram, às vezes, três anos para conseguir Habite-se.
Aquele que está agindo certo está sofrendo muito mais do que o que age
errado. Estamos batendo duro na construção de prédios em Vicente
Pires e as pessoas verão, muito em breve, a demolição de algumas dessas
construções.
5.Como ficariam os proprietários dos apartamentos?
Com o decorrer do tempo, é possível que alguns prédios
sejam regularizados, mas também é possível que não, que talvez eles nunca
consigam escritura definitiva. A demolição daquilo que já está consolidado é
que provavelmente não ocorra. Pelo jeito, as pessoas não estão muito
preocupadas com a escritura, porque investiram muito dinheiro, até R$ 150 mil.
6.A Lei de Uso e Ocupação do Solo (Luos) não saiu do papel.
A Agefis tem dificuldade de trabalhar sem esse instrumento?
Muita dificuldade, porque a cidade é viva, dinâmica. E as
pessoas, o comércio e a indústria agem de acordo com a demanda. Se o mercado
precisa de um determinado setor comercial em uma área, o empresário que tem
visão vai se instalar. E Brasília é uma cidade muito engessada com
relação ao uso e à ocupação. É tudo muito setorizado e as pessoas têm
dificuldade de se organizar. Por exemplo, no Setor de Indústrias Gráficas,
não pode restaurante. Mas as pessoas que trabalham lá não podem comer?
Parte dessas empresas está aqui por conta de liminares. São empresas que
não prejudicam em nada, que fazem a economia girar, que ocupam prédios
que provavelmente estariam vazios ou sendo invadidos. Então, a Luos é muito
importante para a Agefis, porque existe uma quantidade grande de
estabelecimentos necessários para a cidade e estão sem condições de ter
alvará.
Muitos no comércio de pequeno porte estão irregulares por
uma morosidade em aprovar as leis e fazer com que elas se enquadrem nas
necessidades. Estamos trabalhando na redação desse projeto, assim como na
revisão do código de obras, para que a Agefis possa trabalhar protegendo a
cidade e não perseguindo um comerciante que tenta
ganhar a vida licitamente.
7.Os alvarás ainda representam um grande problema para as
construtoras mesmo com a criação da Central de Aprovação de Projetos. A Agefis
tem sido compreensiva com essa questão?
Sim. A primeira compreensão é mandar auditores nossos
para compor a central, porque a maioria trabalhou durante muito tempo
nessa área. A segunda, que eu acho que é a maior contribuição da Agefis
nesse processo, é trabalhar junto com a Secretaria de Gestão de Território para
desburocratizar o código de edificações. Hoje, se você for reformar sua casa,
sem acréscimo de área, você precisa entrar na fila de aprovação de projeto. A
gente quer tirar todas essas obras que não têm impacto.
Queremos
desburocratizar totalmente esse processo. A criação da central de projetos é
muito boa, afinal estamos padronizando a análise, todo mundo tem o mesmo
critério. Mas é muito burocrática. Eu não conheço ninguém que conseguiu
aprovar um projeto de primeira. Temos trabalhado na fiscalização,
principalmente nas obras de maior risco para a cidade.
8.Do ponto de vista da Agefis, a regularização dos
condomínios é possível ser feita em um prazo razoável?
A gente faz parte do Conplan, o que era uma distorção que
existia, o órgão de fiscalização não ter assento. Estamos participando de
todo o processo de fiscalização e o Conplan hoje tem trabalhado efetivamente na
regularização de diversos parcelamentos. O novo código de edificações está
propondo um processo simplificado.
9.Os ambulantes têm sido presença constante. O que
aconteceu?
A questão de ambulantes no DF, no Brasil e no mundo é
social. As pessoas estão desempregadas, têm família para sustentar e muitas vão
para o meio da rua. Acredito que não seria diferente se não tivéssemos que dar
de comer para os nossos filhos. Não duvido nada que iria vender salgadinho no
meio da rua. Tratar isso como uma questão de fiscalização é pensar muito
pequeno. Os ambulantes precisam, sim, ser regularizados e aquilo precisa ser
tratado de maneira organizada. Nova York, Paris, Londres e no mundo todo têm
ambulantes. No caso de Nova York, o carrinho é padronizado, o local onde ele
pode ficar é definido e tem limite de vendedores.
Não se pode dizer aqui em
Brasília que não pode mais nenhum ambulante. Precisamos trabalhar com critérios
e regularização. Não é um problema só da Agefis. A gente pode, sim, ocupar o
centro como fizemos. Não dá para tratar só da rodoviária ou só do Setor
Comercial Sul. Fizemos todas as áreas de interesse e ficamos um mês direto. O
ambulante chega às 8h? Chegávamos às 7h30. Então, não teve confronto. Ele
chegava com a mercadoria e era avisado que não podia. Durante esse mês, não
houve praticamente nenhum embate. Querer acabar com os ambulantes é ilusão.
Ninguém no mundo conseguiu fazer isso até hoje.
10.Vocês consideram possível convencer os ambulantes a
ocupar o Shopping Popular?
Sabe porque aquele lugar é vazio? Não é porque é longe. A
Feira dos Importados é longe e é cheia, assim como a Feira do Guará. Vai gente
de Brasília toda nesses lugares. Aquele lugar é vazio porque a implantação
foi feita de maneira equivocada. Eu posso dizer porque participei da
retirada dos ambulantes, em 2008.
Nessa época, estava na Diretoria de
Planejamento da Agefis e montei todo o plano de retirada. É muito mais fácil
você retirar o ambulante e oferecer uma área a ele. O problema é que essa
transição para lá foi muito lenta. Os boxes não estavam construídos, abriram
uma linha de financiamento, começou uma máfia das associações que queriam parte
do financiamento do lojista. Foi tão mal administrado que fez com que as
pessoas não ficassem.
11.O Jornal de Brasília mostrou recentemente que as
apreensões de mercadorias caíram 85% em comparação aos seis primeiros meses de
2014. É falta de pessoal?
Em 31 de dezembro de 2014, encerrou o contrato de apoio
operacional. Toda a apreensão é feita por um pessoal contratado para carregar e
levar para os caminhões. Obviamente, diminuiu bastante nossa capacidade.
Mas não apenas por isso. Também entendemos que esse confronto é a pior maneira
de fazer a fiscalização.
O modo que estamos encarando o trabalho é
diferente em relação à gestão passada. Nosso objetivo não é ir para o
confronto. Meu objetivo é, no final desses quatro anos, diminuir o número de
autos emitidos pela Agefis. Quero que as pessoas estejam regulares, que
trabalhemos muito mais com educação fiscal em vez de repressão.
Fonte: Jornal de Brasília - Com: Daniel Cardozo
BLOG do CHIQUINHO DORNAS
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