Artigo de Carlos Alberto Sardenberg no jornal O Globo analisa a imensa capacidade de Dilma para cometer erros:
Na noite
de 23 de janeiro de 2013, Dilma surgiu triunfante em rede nacional de
televisão para a anunciar uma redução de 18% na conta de luz de todos os
brasileiros, acentuando: “Primeira vez que acontece no país".
Embora já
fosse bastante, a presidente não ficou nisso. Explicou, “com números",
conforme ressaltou, que o “Brasil vai ter energia cada vez melhor e mais
barata".
Foi além.
Desafiadora, atacou os pessimistas e zombou das “previsões erradas"
daqueles que “diziam que não iríamos conseguir baixar os juros e nem o
custo da energia".
De fato,
naquele momento, a taxa básica de juros era de 7,25% ao ano, a mais
baixa na era do Real e a conta de luz caiu no dia seguinte.
Animada
com isso, Dilma informou que os investimentos estavam em alta, empregos
idem, salários subindo, de modo que o Brasil vivia “dos melhores
momentos da história".
Hoje,
todo mundo sabe, os juros estão nas alturas — a taxa vai passar dos 14% —
e a conta de luz não para de subir. Desde 2013, ano em que Dilma
anunciou a redução, já ficou 60% mais cara, na média nacional. E ainda
há vários reajustes previstos para este e o próximo ano. O desemprego
sobe — 500 mil vagas formais fechadas este ano —, o PIB empacou, o
salário perde poder de compra para a inflação e os investimentos
públicos e privados desabaram.
Os pessimistas estavam certos, a presidente, errada, muito errada. Como Dilma pode ter se equivocado tanto?
Começa
que ela não ouve ou não entende as críticas. Ninguém dizia que o governo
não conseguiria ou não podia reduzir juros e tarifas de energia. Os
críticos diziam, sim, que essas medidas eram insustentáveis mesmo no
curto prazo.
Para
resumir o ponto de vista dito pessimista: a redução da conta da luz se
fizera por um artificialismo que desorganizava o setor elétrico; naquele
momento, a tendência do custo da energia, sem truques, era de alta.
Quanto à inflação, já estava alta e, mesmo assim, contida
artificialmente pelo controle de preços administrados, como o da
gasolina.
Era o
ponto de vista correto. Dirá o pessoal da presidente: agora, em
retrospectiva, é fácil falar. Negativo. Como bem apontava Dilma, os
críticos e pessimistas diziam, fazia tempo, que o modelo econômico dela
iria explodir em inflação, baixo crescimento, juros altos, contas
públicas em déficit e desorganização de diversos setores, como o
elétrico, hoje atolado em dívidas, prejuízos para a Petrobrás.
Também
diziam que o aumento do crédito e do consumo era insustentável; que não
havia ambiente para investimento privado. e que o governo não
conseguiria dar conta das promessas de investimentos dos PACs.
Lembram-se do trem bala?
Pois é — e
não foi a primeira vez que a presidente exibiu um triunfalismo
infundado. No início de seu governo, em março de 2011, deu uma
entrevista para o jornal “Valor Econômico", garantindo que em seu
mandato a economia cresceria na faixa de 5% ao ano, com inflação de
4,5%, na meta.
Também
atacou os pessimistas e disse que era adivinhação daqueles que
sustentavam não haver condições para uma expansão sustentada.
A coisa
saiu ainda pior do que imaginavam os pessimistas. A média de crescimento
anual do PIB (2011/14) ficou em 2,2%, só melhor que o período Collor. E
a inflação foi de 6,16%.
Discursos
e entrevistas da presidente Dilma podem ser encontrados no site do
Planalto. Essa exposição não seria um motivo suficiente para a
presidente vir a público e dizer “desculpaí, foi mal"?
Mas não. A
presidente e seus próximos dizem que passamos por um probleminha
passageiro, consequência da crise mundial, e que logo, logo... os
pessimistas serão derrotados.
De novo, como pode se equivocar tão completamente?
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