O GLOBO - 13/10
A situação do grupo de Vilma e Mula era insustentável. Havia podridão para todo lado, e a gestão temerária fazia a empresa sangrar uma verdadeira hemorragia
Brasilis era uma empresa cheia de potencial, mas muito mal administrada. Tinha um orçamento gigantesco, que se perdia num imenso mar de desvios e corrupção, além de incompetência. Gerida há mais de uma década por um grupo totalmente incapaz, ela afundava em uma grave crise financeira, com risco até de ir à falência.
Foi quando um gerente, Edvaldo Alcunha, resolveu enfrentar a turma no comando. Como ele liderava os demais gerentes, tinha um grande poder e passou a ser a pedra no sapato dos executivos. Começou a embarreirar projetos e a ameaçar até mesmo com um pedido de demissão da presidenta, Vilma Youssef. Tornou-se a verdadeira oposição ao grupo no controle da empresa.
Como tinha um monte de parasitas que viviam das benesses da companhia, em troca de falar bem dela por aí, a reação foi imediata. Toda a fúria dos dependentes da Brasilis se voltou contra Alcunha. Eles nunca reclamaram da falta de ética dos executivos, dos escândalos que eclodiram em quantidade e magnitude jamais vistas. Mas viraram os paladinos da Justiça quando souberam que Alcunha tinha roubado um chocolate da diretoria!
Fizeram protestos pedindo a cabeça de Alcunha, em nome da ética. Onde já se viu, desviar um chocolate? Alguns tentaram argumentar que aqueles acima de Alcunha tinham desviado umas cem fábricas de chocolate inteiras, e que a prioridade dos justiceiros estava um tanto desfocada. Em vão: aquela gente não queria saber de coerência, apenas dos “pixulecos”. Alcunha precisava sair, para que Vilma pudesse continuar, com toda a trupe de bandoleiros atrás.
Alguns gerentes e até diretores, percebendo que a empresa perderia todos os clientes se continuasse assim, passaram a pedir a cabeça de Vilma, a lutar por sua demissão. Ainda que, para tanto, tivessem que se unir taticamente a Alcunha. Era o mal menor no momento. Afinal, qual o sentido de perseguir o ladrão de galinha e deixar solto o mafioso? Todos os criminosos merecem punição, sem dúvida, mas como explicar aos filhos a escolha bizarra dessas prioridades?
A controladoria acabou preparando um relatório sobre as contas da empresa na gestão de Vilma, e o resultado foi chocante: trilhões de reais haviam sido desviados em “pedaladas”, ou seja, foram jogados para baixo do tapete para não aparecer nos balanços, o que necessitaria da aprovação do Conselho. Vilma alegou que o dinheiro serviu para comprar lanche para os filhos dos funcionários, mas foi pouco convincente. Todos sabiam que ela tinha comprado mesmo era apoio para continuar no comando da empresa.
No mais, o ex-presidente Louis Acácio da Silver, mais conhecido como Mula, passou a levar uma vida de nababo, o que levantou inúmeras suspeitas. Ele continuava influenciando a gestão de Vilma, e passou a vender serviços de “consultoria” para outras empresas, como a Old & Beth, amealhando verdadeira fortuna. Só era visto em jatinhos particulares ou tomando vinhos caríssimos. Um ex-diretor importante, seu braço-direito Josué Liceu, acabou preso, acusado de roubo na empresa.
A situação do grupo de Vilma e Mula era insustentável. Havia podridão para todo lado, e a gestão temerária fazia a empresa sangrar uma verdadeira hemorragia. Só dava vermelho no balanço. A bancarrota era um fantasma que se aproximava rapidamente. Todos os funcionários e acionistas estavam apavorados, vendo a desgraça chegando mais perto. Os serviços prestados pela Brasilis ficariam ainda piores, e muitos perderiam seus empregos. Ninguém conseguia imaginar mais três anos de gestão Vilma, prazo para terminar seu contrato.
Foi nesse contexto que Alcunha virou quase um herói para todos que desejavam a recuperação de Brasilis. Sim, eles sabiam que o homem não era flor que se cheira. Sabiam do caso do chocolate roubado. Mas quando pesavam os prós e os contras, e avaliavam o que estava em jogo, Alcunha passava a ser um instrumento necessário para impedir a completa destruição da empresa. Sem ele no caminho da máfia de Vilma, tudo estaria perdido. Brasilis seria em pouco tempo como a Vuvuzela, empresa vizinha que beijara a lona de vez.
Drástico o quadro dos que queriam salvar Brasilis. Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. Os mais lúcidos coçavam a cabeça perplexos, pensando em como foi possível terem colocado Vilma no comando para começo de conversa. Uma presidenta que queria estocar vento, louvar a mandioca, e que não tinha meta alguma, mas queria dobrá-la assim mesmo. Se Alcunha fosse a única saída, paciência. Por trás de toda criança há sempre um cachorro oculto...
Rodrigo Constantino é economista e presidente do Instituto Liberal
A situação do grupo de Vilma e Mula era insustentável. Havia podridão para todo lado, e a gestão temerária fazia a empresa sangrar uma verdadeira hemorragia
Brasilis era uma empresa cheia de potencial, mas muito mal administrada. Tinha um orçamento gigantesco, que se perdia num imenso mar de desvios e corrupção, além de incompetência. Gerida há mais de uma década por um grupo totalmente incapaz, ela afundava em uma grave crise financeira, com risco até de ir à falência.
Foi quando um gerente, Edvaldo Alcunha, resolveu enfrentar a turma no comando. Como ele liderava os demais gerentes, tinha um grande poder e passou a ser a pedra no sapato dos executivos. Começou a embarreirar projetos e a ameaçar até mesmo com um pedido de demissão da presidenta, Vilma Youssef. Tornou-se a verdadeira oposição ao grupo no controle da empresa.
Como tinha um monte de parasitas que viviam das benesses da companhia, em troca de falar bem dela por aí, a reação foi imediata. Toda a fúria dos dependentes da Brasilis se voltou contra Alcunha. Eles nunca reclamaram da falta de ética dos executivos, dos escândalos que eclodiram em quantidade e magnitude jamais vistas. Mas viraram os paladinos da Justiça quando souberam que Alcunha tinha roubado um chocolate da diretoria!
Fizeram protestos pedindo a cabeça de Alcunha, em nome da ética. Onde já se viu, desviar um chocolate? Alguns tentaram argumentar que aqueles acima de Alcunha tinham desviado umas cem fábricas de chocolate inteiras, e que a prioridade dos justiceiros estava um tanto desfocada. Em vão: aquela gente não queria saber de coerência, apenas dos “pixulecos”. Alcunha precisava sair, para que Vilma pudesse continuar, com toda a trupe de bandoleiros atrás.
Alguns gerentes e até diretores, percebendo que a empresa perderia todos os clientes se continuasse assim, passaram a pedir a cabeça de Vilma, a lutar por sua demissão. Ainda que, para tanto, tivessem que se unir taticamente a Alcunha. Era o mal menor no momento. Afinal, qual o sentido de perseguir o ladrão de galinha e deixar solto o mafioso? Todos os criminosos merecem punição, sem dúvida, mas como explicar aos filhos a escolha bizarra dessas prioridades?
A controladoria acabou preparando um relatório sobre as contas da empresa na gestão de Vilma, e o resultado foi chocante: trilhões de reais haviam sido desviados em “pedaladas”, ou seja, foram jogados para baixo do tapete para não aparecer nos balanços, o que necessitaria da aprovação do Conselho. Vilma alegou que o dinheiro serviu para comprar lanche para os filhos dos funcionários, mas foi pouco convincente. Todos sabiam que ela tinha comprado mesmo era apoio para continuar no comando da empresa.
No mais, o ex-presidente Louis Acácio da Silver, mais conhecido como Mula, passou a levar uma vida de nababo, o que levantou inúmeras suspeitas. Ele continuava influenciando a gestão de Vilma, e passou a vender serviços de “consultoria” para outras empresas, como a Old & Beth, amealhando verdadeira fortuna. Só era visto em jatinhos particulares ou tomando vinhos caríssimos. Um ex-diretor importante, seu braço-direito Josué Liceu, acabou preso, acusado de roubo na empresa.
A situação do grupo de Vilma e Mula era insustentável. Havia podridão para todo lado, e a gestão temerária fazia a empresa sangrar uma verdadeira hemorragia. Só dava vermelho no balanço. A bancarrota era um fantasma que se aproximava rapidamente. Todos os funcionários e acionistas estavam apavorados, vendo a desgraça chegando mais perto. Os serviços prestados pela Brasilis ficariam ainda piores, e muitos perderiam seus empregos. Ninguém conseguia imaginar mais três anos de gestão Vilma, prazo para terminar seu contrato.
Foi nesse contexto que Alcunha virou quase um herói para todos que desejavam a recuperação de Brasilis. Sim, eles sabiam que o homem não era flor que se cheira. Sabiam do caso do chocolate roubado. Mas quando pesavam os prós e os contras, e avaliavam o que estava em jogo, Alcunha passava a ser um instrumento necessário para impedir a completa destruição da empresa. Sem ele no caminho da máfia de Vilma, tudo estaria perdido. Brasilis seria em pouco tempo como a Vuvuzela, empresa vizinha que beijara a lona de vez.
Drástico o quadro dos que queriam salvar Brasilis. Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. Os mais lúcidos coçavam a cabeça perplexos, pensando em como foi possível terem colocado Vilma no comando para começo de conversa. Uma presidenta que queria estocar vento, louvar a mandioca, e que não tinha meta alguma, mas queria dobrá-la assim mesmo. Se Alcunha fosse a única saída, paciência. Por trás de toda criança há sempre um cachorro oculto...
Rodrigo Constantino é economista e presidente do Instituto Liberal
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