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CB, Cidades, p.32
18/07/2004
Cachorros: terror do Parque
Cachorros, Terror do Parque
Acuados por cerca de três mil cães, animais silvestres da Água Mineral correm o risco de desaparecer Estudo mostra que pelo menos dez espécies nativas sofrem ataques dos invasores
Guilherme Goulart
Eles andam em bandos, montam tocaias. Perseguem, mutilam, matam. Seguem seus instintos. A gangue canina que invade o Parque Nacional de Brasília (Água Mineral) coloca em risco a vida no cerrado. Hoje, são três mil. Espalham doenças como a raiva, perigosas para o bicho e o homem. Na disputa por espaço, abandonam os hábitos domésticos. Invadem o ambiente reservado aos animais silvestres e em risco de extinção.
" Já podemos considerá-los uma praga. A presença dos cães atrapalha a fauna da região', avalia Ana Cristina Lacerda, técnica do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Por dois anos, a bióloga viveu na área de 30 mil hectares. Concluiu que pelo menos dez espécies nativas sofrem ataques dos invasores. Algumas delas ameaçadas de desaparecer, como o tamanduá-bandeira, veado-campeiro, tatu-canastra e onça.
Com o estudo - desenvolvido para uma tese de mestrado -, descobriu que a maioria dos cachorros da Água Mineral tem comportamento errante. Protege-se em matilhas de até cinco bichos. Acuados, os animais silvestres deixam a reserva ambiental. Quando não morrem em decorrência dos ferimentos provocados pelos cachorros, acabam atropelados nas rodovias ou viram vítimas dos homens.
Os cães não agridem para comer. Mutilam pá instinto ou demarcação de território. "A caça é instintiva. Preferem economizar energia e se alimentar onde é confiável, como o Lixão da Estrutural", explica Ana Cristina. A descoberta foi feita após o abate de 18 cães, entre 2000 e 2002. Havia lixo nos estômagos dos animais.
Entra-e-sai
A invasão da Estrutural é o berçário de quase todos os cães que invadem a Água Mineral. São vira-latas de comportamento semelhante ao de adolescentes das gangues. Ganham coragem em bandos. Atacam de surpresa. A matilha aumenta do outro lado da Água Mineral, o Lago Oeste. De lá, vêm bichos de raça labradores, filas, rotweillers, dálmatas. São fugitivos ou abandonados pelos donos. Sem a proximidade do Lixão, comem pequenos mamíferos.
0 restante da fauna chega de áreas rurais e semi-urbanas ao redor do Parque Nacional. Do fim da Asa Norte, do Setor de Oficinas Norte e do acampamento do Movimento de Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), próximo à Floresta Nacional. As matilhas entram e saem da área de preservação todos os dias. O movimento foi identificado a partir de um método simples. A bióloga espalhou caixas de areia a cada quilômetro. Distribuiu 173 delas, que fixaram as pegadas dos habitantes do Parque Nacional.
Os sinais revelaram a marca da invasão dos cães: um corte de até dois quilômetros mata adentro. "Onde há cachorro, não há loboguará. 0 mesmo ocorre com o tamanduá, o mão-pelada (guaxinim) e a anta", diz a bióloga. 0 chamado efeito de borda empurra os animais silvestres para o centro do Parque.
O perímetro de conflito aumenta a cada ano. E respinga em uma das espécies mais ameaçadas de extinção da fauna brasileira: a onça-pintada. O felino de hábitos solitários precisa de pelo menos 14 mil hectares para sobreviver. Existem três indivíduos no Parque. Um casal e seu filhote.
A invasão dos cachorros carrega ainda um mal invisível. São doenças como raiva e tuberculose. Fatais para os seres humanos e os animais nativos. Operação de retirada realizada há quatro anos afastou da Água Mineral mil caninos. Seis deles estavam com raiva.
0 estudo da bióloga Ana Cristina não identificou cachorros selvagens com moradia exclusiva no Parque Nacional. Mas para Christiane Horowitz, analista ambiental da área de conservação, algumas matilhas já se adaptaram ao cerrado. São canídeos residentes no local desde 1966, recém-chegados ao lado de migrantes do Entorno. "A situação piorou com o desenvolvimento de novas áreas próximas ao Parque e o isolamento do lugar" afirma Christiane.
Ordem é exterminar
0 avanço dos cães é combatido com medidas extremas. A direção orienta os guardas florestais a matar. A tiros. "Fazemos isso com base na lei. Eles estão acabando com a fauna silvestre", justifica o chefe do Parque Nacional de Brasília, Elmo Monteiro Júnior.
A ação emergencial é para evitar danos irreversíveis ao cerrado. Em uma região de proteção ambiental de Minas Gerais, as matilhas reduziram a apenas três a população de muriquis, os maiores macacos das Américas. No DF, as invasões ocorrem também nas outras duas áreas de preservação ambiental: a Estação Ecológica de Águas Emendadas e a Área de Proteção Ambiental Cabeça-de-Veado, no Lago Sul. Ali, o cerrado também é refém dos invasores: as plantações, os homens e os cães.
Ameaçados de Extinção
TAMANDUÁ-BANDEIRA (Myrmecophaga tridactyla) - O animal de pelagem cinza e diagonal preta bordejada de branco tem garras longas capazes de escavar formigueiros e cupinzeiros. A língua pode medir até 40cm. Um indivíduo adulto pesa cerca de 23 kg.
ANTA (Tapirus terrestris) - O maior mamífero brasileiro se alimenta de folhas e ramos. De hábitos noturnos, a anta tem uma pequena tromba móvel na ponta do focinho e uma cauda curta. Adultos atingem até 2m e 300kg.
TATU-CANASTRA (Priodontes giganteus) Conhecido também como tatu-açu e tatu-carreta, é o maior da espécie. Vive em pequenos bandos. Usa as unhas de até 20cm para escavar o solo em busca de alimentos, como cobras, aranhas e insetos. Tem hábitos noturnos.
LOBO-GUARA (Crysocyon brachyurus) O canídeo habitante de campos e cerrados é tímido e arredio. Alimenta-se de pequenos mamíferos, aves e frutas. A pelagem é avermelhada. Enquanto as pernas e os dorsos são pretos, a ponta da cauda é esbranquiçada.
CUTIA (Dasyprocta aguti) - O roedor vive em áreas com árvores grandes, rios e zonas pantanosas. De hábitos noturnos, se alimenta de sementes e frutos. Tem patas longas e finas e cauda pequena. A pelagem é curta e áspera.
CAPIVARA (Hydrochoerus hydrochoeris) O roedor típico da América do Sul vive em manadas e tem hábitos noturnos. Os dentes incisivos são grandes e podem atingir até 7cm de comprimento por 1 cm de largura. Em tupi-guarani, o nome do animal significa comedor de capim.
VEADO-CAMPEIRO (Ozotocerus bezoarticus) - O animal herbívoro alimenta-se de ervas, gramíneas e frutas. Prefere áreas de campos abertos, cerrados, veredas e banhados. Tem chifres de três pontas que alcançar até 30cm de comprimento. Atingem velocidades de até 70km/h.
ONÇA (Panthera onca) O maior mamífero carnívoro do Brasil tem hábitos solitários e noturnos. Excelente caçadora e nadadora, alimenta-se de capivaras, veados, catetos, pacas e até peixes. Necessita de área de até 14 mil hectares para sobreviver.
MÃO-PELADA OU GUAXIMIM (Procyon lotor) -Tem hábitos noturnos e carnívoros. Tem focinho longo, olhos e orelhas grandes. As características principais dos guaxinins são os rabos com anéis pretos e uma máscara no olho. Tem o costume de molhar tudo o que come.
LAGARTO TÉIU (Tupinambis teguixin) - O réptil de cor preta e manchas brancas come aves, roedores, lagartos e serpentes. O lagarto mais comum em cativeiros pode alcançar até 1,5m. As mandíbulas são fortes e escondem grande número de dentes pontiagudos.
CB, 18/07/2004, p.32
Acuados por cerca de três mil cães, animais silvestres da Água Mineral correm o risco de desaparecer Estudo mostra que pelo menos dez espécies nativas sofrem ataques dos invasores
Guilherme Goulart
Eles andam em bandos, montam tocaias. Perseguem, mutilam, matam. Seguem seus instintos. A gangue canina que invade o Parque Nacional de Brasília (Água Mineral) coloca em risco a vida no cerrado. Hoje, são três mil. Espalham doenças como a raiva, perigosas para o bicho e o homem. Na disputa por espaço, abandonam os hábitos domésticos. Invadem o ambiente reservado aos animais silvestres e em risco de extinção.
" Já podemos considerá-los uma praga. A presença dos cães atrapalha a fauna da região', avalia Ana Cristina Lacerda, técnica do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Por dois anos, a bióloga viveu na área de 30 mil hectares. Concluiu que pelo menos dez espécies nativas sofrem ataques dos invasores. Algumas delas ameaçadas de desaparecer, como o tamanduá-bandeira, veado-campeiro, tatu-canastra e onça.
Com o estudo - desenvolvido para uma tese de mestrado -, descobriu que a maioria dos cachorros da Água Mineral tem comportamento errante. Protege-se em matilhas de até cinco bichos. Acuados, os animais silvestres deixam a reserva ambiental. Quando não morrem em decorrência dos ferimentos provocados pelos cachorros, acabam atropelados nas rodovias ou viram vítimas dos homens.
Os cães não agridem para comer. Mutilam pá instinto ou demarcação de território. "A caça é instintiva. Preferem economizar energia e se alimentar onde é confiável, como o Lixão da Estrutural", explica Ana Cristina. A descoberta foi feita após o abate de 18 cães, entre 2000 e 2002. Havia lixo nos estômagos dos animais.
Entra-e-sai
A invasão da Estrutural é o berçário de quase todos os cães que invadem a Água Mineral. São vira-latas de comportamento semelhante ao de adolescentes das gangues. Ganham coragem em bandos. Atacam de surpresa. A matilha aumenta do outro lado da Água Mineral, o Lago Oeste. De lá, vêm bichos de raça labradores, filas, rotweillers, dálmatas. São fugitivos ou abandonados pelos donos. Sem a proximidade do Lixão, comem pequenos mamíferos.
0 restante da fauna chega de áreas rurais e semi-urbanas ao redor do Parque Nacional. Do fim da Asa Norte, do Setor de Oficinas Norte e do acampamento do Movimento de Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), próximo à Floresta Nacional. As matilhas entram e saem da área de preservação todos os dias. O movimento foi identificado a partir de um método simples. A bióloga espalhou caixas de areia a cada quilômetro. Distribuiu 173 delas, que fixaram as pegadas dos habitantes do Parque Nacional.
Os sinais revelaram a marca da invasão dos cães: um corte de até dois quilômetros mata adentro. "Onde há cachorro, não há loboguará. 0 mesmo ocorre com o tamanduá, o mão-pelada (guaxinim) e a anta", diz a bióloga. 0 chamado efeito de borda empurra os animais silvestres para o centro do Parque.
O perímetro de conflito aumenta a cada ano. E respinga em uma das espécies mais ameaçadas de extinção da fauna brasileira: a onça-pintada. O felino de hábitos solitários precisa de pelo menos 14 mil hectares para sobreviver. Existem três indivíduos no Parque. Um casal e seu filhote.
A invasão dos cachorros carrega ainda um mal invisível. São doenças como raiva e tuberculose. Fatais para os seres humanos e os animais nativos. Operação de retirada realizada há quatro anos afastou da Água Mineral mil caninos. Seis deles estavam com raiva.
0 estudo da bióloga Ana Cristina não identificou cachorros selvagens com moradia exclusiva no Parque Nacional. Mas para Christiane Horowitz, analista ambiental da área de conservação, algumas matilhas já se adaptaram ao cerrado. São canídeos residentes no local desde 1966, recém-chegados ao lado de migrantes do Entorno. "A situação piorou com o desenvolvimento de novas áreas próximas ao Parque e o isolamento do lugar" afirma Christiane.
Ordem é exterminar
0 avanço dos cães é combatido com medidas extremas. A direção orienta os guardas florestais a matar. A tiros. "Fazemos isso com base na lei. Eles estão acabando com a fauna silvestre", justifica o chefe do Parque Nacional de Brasília, Elmo Monteiro Júnior.
A ação emergencial é para evitar danos irreversíveis ao cerrado. Em uma região de proteção ambiental de Minas Gerais, as matilhas reduziram a apenas três a população de muriquis, os maiores macacos das Américas. No DF, as invasões ocorrem também nas outras duas áreas de preservação ambiental: a Estação Ecológica de Águas Emendadas e a Área de Proteção Ambiental Cabeça-de-Veado, no Lago Sul. Ali, o cerrado também é refém dos invasores: as plantações, os homens e os cães.
Ameaçados de Extinção
TAMANDUÁ-BANDEIRA (Myrmecophaga tridactyla) - O animal de pelagem cinza e diagonal preta bordejada de branco tem garras longas capazes de escavar formigueiros e cupinzeiros. A língua pode medir até 40cm. Um indivíduo adulto pesa cerca de 23 kg.
ANTA (Tapirus terrestris) - O maior mamífero brasileiro se alimenta de folhas e ramos. De hábitos noturnos, a anta tem uma pequena tromba móvel na ponta do focinho e uma cauda curta. Adultos atingem até 2m e 300kg.
TATU-CANASTRA (Priodontes giganteus) Conhecido também como tatu-açu e tatu-carreta, é o maior da espécie. Vive em pequenos bandos. Usa as unhas de até 20cm para escavar o solo em busca de alimentos, como cobras, aranhas e insetos. Tem hábitos noturnos.
LOBO-GUARA (Crysocyon brachyurus) O canídeo habitante de campos e cerrados é tímido e arredio. Alimenta-se de pequenos mamíferos, aves e frutas. A pelagem é avermelhada. Enquanto as pernas e os dorsos são pretos, a ponta da cauda é esbranquiçada.
CUTIA (Dasyprocta aguti) - O roedor vive em áreas com árvores grandes, rios e zonas pantanosas. De hábitos noturnos, se alimenta de sementes e frutos. Tem patas longas e finas e cauda pequena. A pelagem é curta e áspera.
CAPIVARA (Hydrochoerus hydrochoeris) O roedor típico da América do Sul vive em manadas e tem hábitos noturnos. Os dentes incisivos são grandes e podem atingir até 7cm de comprimento por 1 cm de largura. Em tupi-guarani, o nome do animal significa comedor de capim.
VEADO-CAMPEIRO (Ozotocerus bezoarticus) - O animal herbívoro alimenta-se de ervas, gramíneas e frutas. Prefere áreas de campos abertos, cerrados, veredas e banhados. Tem chifres de três pontas que alcançar até 30cm de comprimento. Atingem velocidades de até 70km/h.
ONÇA (Panthera onca) O maior mamífero carnívoro do Brasil tem hábitos solitários e noturnos. Excelente caçadora e nadadora, alimenta-se de capivaras, veados, catetos, pacas e até peixes. Necessita de área de até 14 mil hectares para sobreviver.
MÃO-PELADA OU GUAXIMIM (Procyon lotor) -Tem hábitos noturnos e carnívoros. Tem focinho longo, olhos e orelhas grandes. As características principais dos guaxinins são os rabos com anéis pretos e uma máscara no olho. Tem o costume de molhar tudo o que come.
LAGARTO TÉIU (Tupinambis teguixin) - O réptil de cor preta e manchas brancas come aves, roedores, lagartos e serpentes. O lagarto mais comum em cativeiros pode alcançar até 1,5m. As mandíbulas são fortes e escondem grande número de dentes pontiagudos.
CB, 18/07/2004, p.32
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