Água e florestas: tudo a ver
16 de Março de 2018 / Jornalista Aldem Bourscheit
Neste fim de semana, o 8º Fórum Mundial da Água abre suas
portas na capital brasileira para milhares de pessoas de todo o mundo. É
o primeiro evento do tipo no Hemisfério Sul, onde estão as maiores
reservas conhecidas de água doce do planeta.
Os debates prometem ser acalorados quanto ao modelo de gestão das águas,
se público ou privado. Movimentos sociais temem uma mercantilização
dos recursos hídricos. O Fórum é uma iniciativa do Setor Privado.
A legislação brasileira trata a água como um bem público com valor
econômico. Enquanto isso, em inúmeros municípios os serviços de coleta,
de tratamento e de distribuição do recurso são feitos pela iniciativa
privada.
Sendo assim, tão importantes quanto essa questão são as da manutenção e
da restauração das áreas responsáveis pela produção de água. Nessa
nobre tarefa, as florestas e outros tipos de formações naturais são
imbatíveis.
É crescente a quantidade de estudos científicos publicados confirmando
que preservar a vegetação nativa é das melhores iniciativas para
assegurar água em quantidade e qualidade ao longo dos anos.
Sem falar em outros serviços associados à manutenção e recuperação das
florestas naturais, como abrigar animais e plantas silvestres, regular o
clima do planeta e renovar solos produtivos.
As crises de abastecimento, tão comuns na realidade do Semiárido,
alcançaram nos últimos anos os centros econômico e político do país.
Coincidência, ambos viram o desmatamento devorar o verde das regiões que
ajudavam a manter a água vertendo das torneiras e alimentando processos
industriais e agrícolas.
Falta de água também se tornou rotina em regiões dos Estados Unidos,
Austrália, China, África do Sul, Chile e tantos outros países. Ao norte
do Cerrado brasileiro, a seca freia planos de expansão do agronegócio.
Com a pindaíba hídrica global ganhando força na carona do crescimento
demográfico, do desmatamento e da urbanização desenfreados, ampliar e
multiplicar as fontes de água ocuparam páginas de relatório do Banco
Mundial e circulam nos debates entre especialistas.
Aumentar o reuso do recurso, a captação da chuva e o uso de tecnologias
que contenham o desperdício na produção urbana e rural reduzirão a
demanda pela água que corre livre nos rios e outros mananciais.
Mas a água existe em quantidade finita no planeta e tem outras funções
para além do aproveitamento humano. Manter a saúde dos ambientes naturais
com a restauração e manutenção das florestas é jogo onde todos ganham.
Pena que essa lógica é quase sempre driblada nas reformas legislativas
que avançam no Brasil.
O Novo Código Florestal diminuiu fortemente a proteção de
nascentes e de cursos d'água de todos os tamanhos, apesar de alertas da
própria Agência Nacional de Águas sobre os perigos da medida para o
abastecimento no país.
Parques Nacionais e outras Unidades de Conservação seguem ameaçados de
extinção, enquanto o licenciamento ambiental pode se tornar mera
formalidade a ser vencida pelos artífices do desenvolvimento a qualquer
custo.
Além disso, ainda vigora no Brasil uma visão de que a preservação das
fontes de água não depende de um bom manejo do território das Bacias
Hidrográficas.
Nas próximas quatro décadas, a demanda mundial por água pode crescer de
50% a 80%, especialmente pelo avanço da agropecuária nos países em
desenvolvimento.
Sem estratégias concretas pela conservação e restauração efetivas das
florestas nativas, preces para São Pedro poderão se tornar um último
recurso.
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