Morte da girafa Yvelise aos 7 anos alerta Zoológico de Brasília
Yvelise morreu devido a uma necrose no cólon causada pela torção de uma das alças intestinais. Defensores dos direitos dos animais querem uma interdição no Zoológico de Brasília, alegando mau gerenciamento e falta de cuidados
postado em 26/03/2018 06:00 / atualizado em 26/03/2018 07:44
Após enfrentar uma cirurgia para tratar uma necrose no cólon, a girafa Yvelise, do Zoológico de Brasília, morreu na noite de sábado. O problema de saúde foi causado pela torção de uma das alças intestinais do mamífero, segundo veterinários da unidade de conservação. Primeiro animal da espécie nascido da capital brasileira, ela tinha 7 anos e era filha de Léo, que morreu em 2011, aos 17 anos, e de Yaza, que nasceu em Belo Horizonte em julho de 2003 e chegou ao Distrito Federal em agosto de 2004.
O material genético de
Yvelise foi coletado para a inclusão no banco de germoplasma do
zoológico, para a preservação da informação genética e para possível
inseminação artificial. A girafa será taxidermizada, procedimento que
preserva a pele, os pelos e toda a estrutura do animal com fins de
exibição ou de estudo da espécie.
De
acordo com os veterinários do zoo, Yvelise começou a demonstrar apatia e
falta de apetite na quarta-feira. Na quinta, os profissionais optaram
por adiantar o exame clínico anual do animal, que seria feito em julho, e
detectaram alterações renais e desidratação, o que poderia ser
consequência de uma obstrução no intestino.
Por meio de boletim, a fundação que cuida do zoo afirmou que o caso não tem similaridades com o quadro do elefante Babu, morto em janeiro.
No caso de Babu, foi detectada uma intoxicação de origem externa. O
zoológico lamentou ainda a morte da girafa, informando que “toda a
equipe se encontra sentida com o acontecimento”. A instituição reiterou
“o compromisso com o bem-estar animal e com a conservação das espécies
com as quais trabalha”. O diretor do zoo não foi encontrado para
entrevista.
“Negligência”
Para a presidente da
Federação de Animais do Distrito Federal e da Confederação Brasileira
de Proteção Ambiental, Carolina Mourão, a morte de Yvelise, assim como a
do elefante Babu, é consequência de uma falta de cuidado da instituição
com os animais. “Acredito que existe muita negligência no cuidado com
os mamíferos do zoológico. A perda de animais está fora da curva da
normalidade. A Secretaria de Meio Ambiente e o zoológico jogam a
responsabilidade um para o outro e esses animais ficam esquecidos”,
afirma.
Carolina avalia que o problema da
possível falta de cuidados aos animais ocorre pela “ausência de gestores
que se preocupem verdadeiramente com o bem-estar das espécies que vivem
no zoológico”. Ela diz que o loteamento de vagas na instituição por
parte dos partidos acaba colocando pessoas sem vocação para exercer tais
funções. “É um problema político no qual os prejudicados são os
animais, pois ficam sem tutela. São profissionais que não são indicados
para o cuidado com eles. Não dá para esconder por muito tempo porque os
animais começam a morrer.”
Alimentação
A ambientalista
denuncia ainda as condições de alimentação das espécies. Carolina
afirma haver evidências de que os animais têm alimentação controlada e,
eventualmente, reduzida. “Se eles passam fome, não tem como saber se a
girafa teve o problema de constipação porque comeu algo que não deveria
ou comeu rápido demais quando teve a oportunidade. É inadmissível essa
sucessão de mortes no zoo de Brasília”, reclama.
A
Confederação Brasileira de Proteção Ambiental move uma ação contra a
Fundação Zoológico de Brasília pela criminalização da morte do elefante
Babu e promete lutar também por Yvelise. A Justiça deve julgar esta
semana um pedido de interdição do zoo.
Carolina
Mourão explica que as ações não visam fechar o zoológico, mas modificar
o modelo de gestão. “O Zoológico de Brasília tem um modelo de coleção e
o ideal é que se torne transitório, no qual os animais da fauna possam
receber os cuidados necessários e que possam ser reabilitados para
soltura”, defende.
Suspeita de envenenamento
O
elefante Babu morreu em 7 de janeiro, aos 25 anos, após uma parada
cardiorrespiratória. Existe a suspeita de que o animal tenha sido vítima
de envenenamento. Os resultados preliminares dos exames apontam
indícios de intoxicação por agentes externos, o que pode ter causado a
pancreatite aguda. Nos testes, foram encontrados chumbo, arsênio,
mercúrio e elementos cumarínicos (composto químico tóxico ao animal). O
zoo afirmou que os elementos não fazem parte da rotina do local e por
isso não descarta ação criminosa. O caso é investigado pela Polícia
Civil, com colaboração do Ibama e do Ministério do Meio Ambiente.
Problemas genéticos do próprio elefante também estão entre as possíveis
causas de morte.
Memória
Interdição em Goiânia
Em
2009 e 2010, 148 animais morreram no Zoológico de Goiânia. A reserva
foi interditada após a morte do sétimo animal de grande porte, um
jacaré-açu — já haviam morrido dois hipopótamos, um leão, uma onça e
duas girafas. Peritos da Polícia Civil concluíram que os óbitos não
tinham correlação.O zoo goianiense está funcionando, mas com menos
animais em exposição.
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