O acordo começa a ser visto como uma contraposição ao Mercosul, considerado muito centrado no papel do Estado
Felipe Vanini
São Paulo
10 FEV 2014 - 20:28 BRST
Carros no pátio do Porto de Paranaguá, no Paraná. / Asscom/Appa
A Aliança do Pacífico, que zerou nesta segunda-feira a tarifa de mais de 90% dos produtos comercializados entre os quatro países integrantes, põe em xeque a liderança regional capitaneada pelo acordo do Mercosul, que foi criado há 23 anos, mas ainda patina entre os sócios locais.
O professor do MBA em Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Oliver Stuenkel, diz que o acordo entre Peru, Chile, Colômbia e México, fechado há apenas 20 meses, representa uma possibilidade de um modelo regional com uma ideologia menos centrada no papel do Estado e mais focada no pragmatismo. “É um experimento interessante que se contrapõe ao modelo de Brasília e nos próximos anos vamos ter uma chance maior de avaliar quem vai se sair melhor no comércio global. Seria o mesmo que quatro das economias mais pujantes da Europa se reunirem sem a presença da Alemanha”, compara.
Na avaliação do professor de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (USP), Alberto Pfeiffer, o projeto da Aliança do Pacífico se mostra como unidade econômica forte não apenas por números como esses, mas pela agilidade com que acordos como o que zera as tarifas foram atingidos.
“Em teoria, o Mercosul deveria também funcionar como uma zona de livre comércio entre os Estados membros. Mas, até hoje, em razão de uma chamada paciência estratégica brasileira, diversos movimentos de retenção comercial, praticados com uma alta frequência pela Argentina, são tolerados e impedem um avanço econômico do bloco”, diz.
Adicionalmente, uma cláusula do Mercosul que prevê que os acordos feitos devem ter a aprovação de todos barra uma aproximação maior com os Estados Unidos, que seria essencial para deslanchar os negócios. “Não existe um consenso na região de que uma integração maior com os Estados Unidos seria benéfica, pois prevalece uma visão de que o Estado deveria operar como uma espécie de escudo contra os efeitos maléficos da globalização”, diz Pfeiffer.
A integração trazida pelo fortalecimento da Aliança é analisada, ainda, como mais um golpe para a combalida indústria brasileira. Para o empresário Rommel Barion, da fabricante de alimentos que leva seu sobrenome, o Mercosul está perdendo terreno para vizinhos menos focados na ideologia.
“Esse fortalecimento deixa mais claro como o Brasil e o Mercosul vão mal na costura de novos acordos. Ao mesmo tempo, está mostrando o colapso dessa união. Hoje, é mais fácil exportar para países árabes do que dentro do Mercosul”, diz ele, cuja empresa vende produtos para 14 países.
Segundo a Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), de 1985 até 2012, a indústria viu sua fatia de participação no PIB brasileiro cair de 27,2% para 13%. "Há anos está ocorrendo um processo de desmantelamento industrial no país e as perspectivas só pioram", diz Barion.
Em Brasília, porém, onde está sediado o Governo Federal, a ideia estaria sendo mais interpretada como uma jogada de marketing para atrair investimentos internacionais do que uma ação que gerará efetivamente um verdadeiro aumento do fluxo comercial.
De acordo com Welber Barral, que foi secretário de Comércio Exterior durante o governo Lula, como medida para promoção de seus patrocinadores, o bloco já está tendo sucesso. “A repercussão internacional é um reflexo de como esse objetivo foi alcançado. Mas o que existe de concreto até agora é que esse movimento pode aumentar as negociações com os países asiáticos, ao explorar a proximidade geográfica com esses mercados, otimizando as cadeias de gestão de cadeia logística”, diz ele.
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