27/02/2014
às 15:30 \ Tema Livre
DRONES E ROBÔS, OS NOVOS REIS DOS ANIMAIS
Aparelhos não tripulados semelhantes aos de uso militar reinventam a luta contra a caça ilegal nas reservas da África e da Ásia
O olhar altivo, de elegante beleza, dos três leões da imagem acima, os reis de uma região conhecida como Serengeti, entre o norte da Tanzânia e o sudoeste do Quênia, faz supor que nada os incomoda — nem mesmo a câmera do fotógrafo que os registra.
Na verdade, não há mesmo ninguém diante dos animais. Para flagrá-los, o americano Michael Nichols e seu assistente, contratados pela National Geographic Society, usaram um robô e um drone comandados por wi-fi a partir de um computador.
Nos primeiros encontros entre bicho e máquina, os felinos chegaram a se esconder — com o tempo já não estavam nem aí com o robô, de pouco mais de 30 centímetros de altura e 50 centímetros de diâmetro na base.
Leões são animais que sabem guardar a energia para as presas que realmente interessam. Fosse uma manada de elefantes, estariam todos alvoroçados. “Leões são mais contemplativos e confiantes, não veem robôs e drones como ameaças”, diz Nichols.
É bom que o restante da turma que foi salva por Noé aprenda a conviver com seus pares de alumínio e silício. Na África e na Ásia é cada vez mais frequente o uso de equipamentos não tripulados, terrestres ou aéreos, para combater a caça ilegal. Todos os anos, o comércio irregular de animais selvagens movimenta 19 bilhões de dólares.
Em 2013, pelo menos 1 000 rinocerontes — cujos chifres são muito cobiçados — foram mortos apenas na África do Sul, número recorde desde o início da contagem, nos anos 90. Para caçarem os caçadores, os parques e as reservas têm investido nessas novíssimas tecnologias de rastreamento.
Os objetos eletrônicos, especialmente os voadores, funcionam como os olhos das equipes de vigilância. Há vantagens em relação aos métodos anteriores de patrulha — os jipes de antigamente, helicópteros ou satélites. Nesses casos, ou se assustavam os animais, ou a distância impossibilitava acompanhar detalhes de comportamento da fauna e da ação do homem.
“Ao estudarmos os leões-marinhos no Ártico, não podemos voar muito baixo porque os animais mergulham ao ouvir o barulho, mas também não podemos voar muito alto, porque encontramos nuvens carregadas e muita neve”, diz o engenheiro Gregory Walker, diretor do centro de drones da Universidade do Alasca.
Outro problema, segundo ele, é levar o helicóptero dentro de um barco para as regiões estudadas, já que não há aeroportos próximos. A solução? Drones. Com menos barulho, é possível aproximar o equipamento dos animais, o que pode ser mais seguro também para o ser humano que comanda a operação.
Há, naturalmente, desvantagens, como o fato de a autonomia de voo ser muito pequena — não mais do que vinte minutos — e a fragilidade das peças. São vulnerabilidades compensadas por uma condição imbatível: não paira sobre os drones e robôs usados no controle da caça ilegal a selvageria do embate ético que cerca os badalados aparelhos não tripulados usados para ataques militares.
Os primeiros são vistos com doçura, como aliados do zelo com o meio ambiente. Já os pequenos objetos bélicos conquistam inimizades, por ferirem tanto soldados em guerra como civis. Na última década, os drones foram responsáveis por mais de 3 000 mortes no Paquistão — entre as vítimas, 683 eram civis.
Em 2012, a ONU começou a investigar os resultados de 25 artilharias feitas por drones americanos no Paquistão, no Iêmen, na Somália e no Afeganistão, respondendo a acusações de que os tiros mataram também crianças.
É discussão que se perpetua, dado que a fabricação de drones pode gerar até 100 000 postos de trabalho nos EUA nos próximos dez anos, com faturamento de 82 bilhões de dólares.
Some-se a essa indústria em crescimento o fato de os preços caírem assustadoramente — um drone pequeno, manufaturado a partir de uma impressora 3D e comandado por um banal aplicativo de smartphone, custa meros 76 000 dólares, 10% do valor dos similares desenhados pelas Forças Armadas americanas.
Chegará o dia, e ele talvez nem esteja tão longe assim, em que teremos guerras travadas apenas entre drones.
REFORÇO AÉREO NA ÁFRICA
A caça a elefantes no Quênia é ilegal desde 1973 — e, no entanto, desde 2010 pelo menos 1 092 animais foram mortos por caçadores. O Parque Nacional Masai Mara, que abriga mais de 1 000 elefantes em seus 1 510 quilômetros quadrados — o equivalente ao tamanho da cidade de São Paulo —, começou a utilizar drones no fim do ano passado para vigiar e proteger os animais
1- A equipe responsável pela segurança dos animais usa um programa similar ao Google Earth para traçar o percurso que o drone deve fazer, levando em conta a localização dos poucos elefantes que já têm coleira com GPS
2- O drone, de 60 centímetros de diâmetro, equipado com câmera de foto e vídeo de alta resolução, decola e começa a percorrer o caminho previamente determinado
3- A equipe de segurança analisa as imagens captadas para monitorar os animais e detectar a presença de caçadores
4- As imagens flagradas pelos drones são armazenadas e depois analisadas por especialistas do parque, que assim podem determinar quais áreas devem ser mais policiadas
5- Caso o elefante se aproxime de alguma pessoa suspeita, ou de áreas em que haja registros de caça ilegal, a equipe desloca alguns dos guardas do parque para o local e aproxima o drone do elefante. Afugentado pelo barulho da aeronave, o animal ruma para longe do perigo
Um comentário:
Uma tecnologia que foi criada para ser usada contra soldados inimigos durante a guerra, está sendo utilizada agora para o bem.Para a proteção dos animais, para combater a caçada ilegal.Gostei da reportagem.
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