quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Lula vai a Cuba contra efeito dominó da Venezuela

247 – O ex-presidente Lula está envolvido de corpo e alma, como é do seu estilo, na talvez mais difícil missão diplomática que já se impôs. Ele quer salvar o regime constitucional da Venezuela, chavista e à esquerda no quadro político global, especialmente na América do Sul.

Lula foi o principal articulador da nota do Mercosul em apoio ao governo do presidente Nicolás Maduro, numa decisão discutida com o presidente do Uruguai, José Pepe Mujica, no Palácio Presidencial, em Motevideo, na segunda-feira 17.

Como noticiou 247, eles trataram de organizar a resistência da esquerda ao que consideram ser um possível rompimento constitucional a partir de numerosas manifestações de rua em todo o país. Temem que o recrudescimento da violência civil desperte apetites golpistas, como sempre acontece na dividida Venezuela.

Nesta segunda-feira 24, dando seguimento a seu roteiro de chefe da esquerda latino-americano e seu principal líder político, Lula aos Castro, Raúl e Fidel, em Cuba, avaliar todos os ricos para o regime socialista no caso de fim abrupto do chavismo. Qual seria a reação americana à ilha de Fidel? 

Alguma chance de crescimento repentino da oposição interna? Como compensar o governo de Raúl pela perda anunciada de milhões de barris de petróleo nas relações comerciais? E, por último mas não menos importante, o que a sabedoria dos Castro prevê como efeito para o Brasil em meio à crise do regime bolivariano.

A situação de Nicolás Maduro vai sendo duramente fustigada não apenas pela oposição, com seus comícios e manifestações de rua, mas também pela ação de grupos paramilitares que se dizem fiéis ao governo e ao chavismo. 

Em despacho de Caracas, Agência Reuters anota que presidente estaria perdendo o controle sobre a ação desses grupos de mascarados violentos. 

Foi com um tiro disparado de uma motocicleta, como é característica dessas falanges. Numa manifestação, a miss Turismo Genêsis Camona, de 22 anos, foi morta com um tiro disparado por um homem em uma motocicleta.

O governo prendeu o chefe dos manifestantes, Leopoldo Lopez. A Fiscalía, equivalente ao Ministério Público brasileiro, pode pedir a prisão dele pelo crime de organização da delinquência, o que poderia render pena de 10 anos de prisão.

Dos Estados Unidos, o presidente Barack Obama manda recados. Ele disse que o governo Maduro "não está sabendo ouvir o povo da Venezuela", depois de três diplomatas expulsos do país sob acusação de conspiração.

A partir do encontro com Mujica, Lula fez chegar ao Mercosul o desejo de que uma nota de solidariedade ao "governo constitucional" da Venezuela fosse divulgada pelos países membros. 

O intento foi conseguido, mas a frustração de Lula, até aqui, é com a tímida, praticamente inexistente, reação oficial do governo brasileiros aos acontecimentos. Não se deu a conhecer nenhuma palavra do chanceler  ou uma nota do Palácio do Itamaraty, quanto mais do Palácio do Planalto ou da presidente Dilma Rousseff. Uma tuitada.

Não é a primeira vez que os Castro assistem a uma crise política na Venezuela. Eles são craques em avaliar possibilidades e efeitos, com informações frescas de dentro do regime, a partir do diálogo com o próprio Maduro. Com Hugo Chávez, porém, havia mais estabilidade, ainda que os tempos de seus governos tenha sido turbulentos.

O sucesso Maduro assumiu o governo em meio a denúncias de que teria perdido a eleição para Capriles, mas até mesmo pela solidariedade de país do subcontinente, tomou posse - e passou a fazer das suas. 

O ex-caminhoneiro que tem visões de Hugo Chávez semana sim semana não, acelerou nas trombadas que o antigo presidente gostava de dar com a mídia do país, considerada golpista pelo regime. 

Quinze dias atrás, Maduro, na prática, interrompeu o fornecimento de papel jornal, com brutal elevação de tarifas de importação. 

A provocação desaguou numa série de manifestações estudantis, reprimidas com violência pelas forças de segurança. Nesse meio, grupo paramilitares voltaram a se organizar, promovendo arruaças em suposta defesa do governo.

Entre o fogo dos paramilitares encapuzados e as multidões de oposicionistas que estão nas ruas, Nicolás Maduro não tem para onde correr neste momento. Se perder o controle do exército, ele precisará de muita solidariedade internacional para se manter no poder sem a convocação de eleições ou concessões do tipo uma assembleia nacional constituinte. 

O momento, no entanto, é tão conturbado, que nenhum diálogo é possível agora.

Será que Lula pode salvar a Venezuela do caos e evitar um efeito dominó sobre a esquerda da América Latina?


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