Discordo de Rodrigo Constantino quanto à iguaria que serve de exemplo aos nossos socialistas. Explico o porquê.
A
classe-média não é odiada por ninguém, a não ser por (parte de) si
própria. E todos esses odiadores são socialistas – essa regra, como sói
quando o levantamento é realizado pelo DataEu, jamais falha.
Já falei
sobre isso aqui e aqui. E também expliquei o porquê de o povo não ser de esquerda. Quem não leu, dê uma olhadinha.
Sigamos.
Discordo de Rodrigo Constantino, que recentemente lançou
o livro “A Esquerda Caviar” (sucesso editorial, para desespero
justamente dos esquerdistas). Não apostaria minhas fichas nessa coisa de
ovas de esturjão – no máximo, naquela mistureba fake usando sagu
salgado. Nossa esquerda é menos aquela iguaria e mais este
acepipe-gambiarra.
E
digo isso exclusivamente porque os socialistas, salvo exceções
raríssimas, são pessoas de classe-média. Também em grande maioria,
pessoas brancas e majoritariamente com sobrenomes europeus. É muito
verdadeira aquela piada segundo a qual socialista se chama Sacchetto,
Chevallier ou Blonovski, nunca Severino Cimento.
Os
raros esquerdistas realmente ricos são, invariavelmente, figuras que
muito mais se valem da ideologia para ganhar dinheiro que qualquer outra
coisa (não que estejam errados, haja vista a quantidade de idiotas
disponíveis nesse pormenor, a ponto de doarem milhões em vaquinhas pra
criminosos condenados). Esses talvez até sejam “caviar”, mas são casos
excepcionais. Falo aqui da turma majoritária: a esquerda “sagu salgado”.
São
os que riem do pessoal que paga uma fortuna por um iPhone, mas tomam
chope de dez reais ou drinques caríssimos feitos com refrigerante de
segunda nos “botecos descolados”, nos quais, usando camisas “retrô”
caríssimas de times obscuros, fazem piada dos que torram uma grana em
algo só por ser “gourmet”. São aquilo que odeiam.
E
quase todos cursaram alguma faculdade de humanas, nem sempre em
universidades públicas, “militando” em geral nas redes sociais, centros
acadêmicos e botecos da Bela Vista ou Vila Madalena (no Rio, posso
chutar, ficariam na Lapa).
Não são, de fato, pessoas ricas, mas
definitivamente (de novo, salvo exceções bem raras) tiveram MUITAS
oportunidades, muito mais que qualquer pobre.
Mas
por que odeiam a classe média, já que ninguém consegue ter raiva dela?
Os pobres querem chegar a esse patamar e os ricos, ora, por que diabos
vão ter ódio? A própria classe média, vale lembrar, em sua maioria tem
muito (e justo) orgulho de si própria, já que quase todos chegaram lá e
ali se mantêm por conta de muito esforço e sacrifício.
Fica
difícil explicar, especialmente porque nossos socialistas tem raiva da
classe à qual pertencem. Seria algo como aquele comportamento
adolescente, por meio do qual o jovenzinho de 16 anos tem raiva extrema
justamente daquilo de que faz parte (a própria família)? Essa tese faz
algum sentido, haja vista que o esquerdismo em quase todos os casos é
curado ao longo do amadurecimento. Mas seria arriscar no campo da
psicanálise, coisa que não conheço bem.
Fato
é que nossa esquerda não é caviar. Está longe disso. E essa constatação
não se faz no campo estético (até poderia ser), mas no social. Nossos
socialistas levam aquelas vidinhas tacanhas e repletas de rotinas,
exatamente o que dizem odiar nos que pertencem à classe média – e, de
forma equivocada, pensam ser “o outro”, “o inimigo”.
Na
verdade, são eles próprios. No fundo, odeiam a si próprios. Dessa
forma, sugiro um pouco mais de leveza para encarar o mundo e boa dose de
paz de espírito para seguir com a vida, porque o “ódio do espelho” é
coisa séria e exige meditação; em determinados casos, tratamento mais
profundo.
Um
exercício: leiam, de forma impessoal, suas próprias timelines nas redes
sociais e vejam se não são a cara daqueles comentaristas de portal (às
vezes, com sinal trocado; noutras, nem isso). Pois é. Vocês são iguais e
ocupam a mesma mesa no almoço de domingo – tanto que muitos reclamam de
familiares que seriam como os odiados comentadores de notícias. Vale
indagar: adivinha o que eles pensam de vocês?
Socchettos,
Sinclaviers, Annesteins, Menigjians, vocês não são proletários (estes,
aliás, discordam de vocês em quase tudo, estando muito mais próximos
daqueles que vocês odeiam, seja a comentarista da TV ou os comentaristas
de portal). Desta feita, deixem de birrinha supostamente ideológica e
façam as pazes consigo, perdoem e aceitem seus pais. Cresçam um pouco.
Alguns aí já passaram da idade, né?
ps. Anos atrás, um grande pensador de classe média (hoje milionário) já falava algo parecido, então nada de brigar comigo.
20 de fevereiro de 2014
Gravatai Merengue Lorotas políticas e verdades efêmeras
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