Guilherme Balza
Do UOL, em São Paulo
Do UOL, em São Paulo
O Sindasp (Sindicato dos Agentes Penitenciários do Estado de São Paulo)
convocou greve por tempo indeterminado a partir desta segunda-feira
(10) nas penitenciárias de todo o Estado.
A paralisação ocorre num
momento em que as autoridades de segurança pública estão em alerta a
possíveis ações do PCC (Primeiro Comando da Capital) após o vazamento de um relatório da inteligência do governo do Estado.
O documento revelou suposto plano para retirar de helicóptero quatro
lideranças da facção --entre elas Marcos Herbas Camacho, o Marcola--
detidas na penitenciária 2 de Presidente Venceslau (611 km de São
Paulo).
Após a divulgação do relatório, a segurança no presídio foi
reforçada com atiradores de elite e equipes da Polícia Militar e do GOE
(Grupo de Operações Especiais da Polícia Civil).
Após o vazamento do plano, o secretário de Segurança Pública, Fernando
Grella, anunciou que pedirá a transferência das lideranças da facção ao
RDD (Regime Disciplinar Diferenciado).
Em maio 2006, após a
transferência de líderes do PCC ao RDD, a facção respondeu com diversos
ataques contra forças de segurança pública, o que resultou em dezenas de
agentes mortos.
Em resposta, a polícia matou mais de 400 pessoas nos
dias seguintes aos ataques.
Nos últimos dias, ônibus foram queimados em várias cidades do interior
do Estado, mas a polícia descartou ligação com o vazamento do plano de
fuga.
De acordo com Daniel Grandolfo, presidente do Sindasp, entidade
filiada à Força Sindical, a greve não tem relação com os últimos
acontecimentos. "As assembleias foram realizadas em fevereiro, em 14
regionais.
Estamos negociando com o governo há um ano e não tivemos
avanços."
Reivindicações
A categoria exige
recomposição salarial de 20,6%, aumento real de 5% e redução de oito
para seis no número de classes de agentes para facilitar a ascensão na
carreira.
"Para conseguirmos todas as promoções, é preciso 35 anos.
Queremos reduzir esse tempo para 25 anos", disse Grandolfo.
Os
trabalhadores também exigem o fim da superlotação nos presídios e mais
segurança no trabalho.
A expectativa do sindicato é que haja
adesão dos agentes de 80% das penitenciárias do Estado.
O presidente do
Sindasp afirmou que será respeitado o percentual mínimo de 30% agentes
trabalhando.
A origem do PCC
A facção criminosa PCC foi criada em agosto de 1993, num presídio de Taubaté (a 140 km de São Paulo).
Ela surgiu após o massacre do Carandiru, ação policial que deixou 111 presos mortos na invasão do pavilhão 9 da antiga Casa de Detenção.
O grupo fundador do PCC reivindicava o fim da linha dura e dos maus-tratos contra os presos.
Marcola assumiu a chefia da facção no final de 2002. Ele está preso por roubo a bancos.
De acordo com o Sindasp, haverá uma reunião com a Secretaria de Administração Penitenciária (SAP) na próxima terça-feira (11).
Risco aumenta
Segundo ele, nas penitenciárias que oferecem maior risco de motins ou
rebeliões, como Presidente Venceslau, os presos irão permanecer fechados
nas celas em tempo integral, sem direito ao banho de sol diário.
"Não
vamos soltar os presos pra absolutamente. Funcionará só o serviço
essencial da unidade, como atendimento médico e alimentação dos presos."
Questionado sobre se a greve pode incentivar ações de facções ou
facilitar fugas, Grandolfo admitiu que "infelizmente há risco", mas
disse que a categoria já vive sob tensão há muito tempo por conta das condições de trabalho. "Somos alvos de
atentados e de intimidações o tempo todo. Se não fizermos greve, tudo
vai continuar como está."
Outro lado
A reportagem do UOL
entrou em contato com a SAP no início da noite última quinta-feira (6) e
pediu um posicionamento a respeito da greve dos agentes. A pasta também
foi questionada sobre a adoção de medidas para evitar fugas e motins.
Até o fechamento da reportagem, às 22h de sexta-feira (7), não houve
resposta da secretaria.
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