ZERO HORA - 09/03
Não é o Brasil, senhores, mas é Lula, Dilma e seus companheiros!
Dize-me a quem admiras. E eu te direi que isso me basta.
Não é o Brasil, senhores, mas é Lula, Dilma e seus companheiros!
Dize-me a quem admiras. E eu te direi que isso me basta.
Muito tem sido escrito
sobre as afeições do governo brasileiro no cenário internacional.
Eu
mesmo já escrevi sobre a carinhosa saudação de Lula na 10ª Reunião do
Foro de São Paulo, em Havana, no ano de 2001: “Obrigado, Fidel, por
vocês existirem!”.
E, não satisfeito com tão derretida manifestação de
afeto, Lula arredondou o discurso com esta faiscante pérola: “Embora o
seu rosto esteja marcado por rugas, Fidel, sua alma continua limpa
porque você não traiu os interesses do seu povo”.
Que coisa horrível! E
note-se: é uma adoração coletiva. Interrogue qualquer membro do governo
sobre violações de direitos humanos, prisões de dissidentes, restrições
às liberdades individuais na ilha dos Castro.
Verá que ele,
imediatamente, passa a falar de ianques em Guantánamo. Essa afinidade
entre nossos governantes e os líderes cubanos é carnal, como unha e
dedo.
Quando se separam, dói. Noutra perspectiva, parece, também, algo
estreitamente familiar.
Filial, como quem busca a bênção do veterano e
sábio pai, fraternal na afinidade dos iguais, e crescentemente paternal,
pelo apoio político, moral e financeiro à velhice dos dois rabugentos
ditadores caribenhos. E haja dinheiro nosso para consertar o estrago que
a dupla já leva mais de meio século produzindo.
Um pouco diferente, mas ainda assim consistente e comprometida, solidária e ativa, a relação do nosso governo com o delirante Hugo Chávez e seu fruto Maduro. Ali também se estendeu _ e estendida permanece, resolutamente disponível _ a mão solidária do governo brasileiro.
Pode faltar dinheiro para as
penúrias humanas do nosso semiárido, para um tratamento menos indigno
aos aposentados e pensionistas do país, para os portos e aeroportos
nacionais, mas que não faltem recursos para pontes, portos e aeroportos
na Venezuela e em Cuba.
Parece, também, que entramos num infindável ano
bíblico de perdão de dívidas. Onde houver um tiranete africano ou
ibero-americano em necessidade, lá vai o Brasil rasgar seus títulos de
crédito.
Quando foi deposto o virtuoso Fernando Lugo, com suas camisas
tipo clergyman adornadas com barras verticais que lembravam estolas,
nosso governo experimentou tamanha dor, que preferiu perder a amizade
dos paraguaios.
A parceria se reuniu, expulsou o Paraguai do Mercosul e
importou, não a Venezuela, mas o folclórico Hugo Chávez.
Eu poderia falar sobre o silêncio do Brasil em relação ao que a Rússia está fazendo na Crimeia.
Aliás, haveria muito, mas muito mais, do mesmo. Mas isso me
basta. Percebam os leitores que, em todos os casos, a reverência, o
apreço, a dedicação fluem para as pessoas concretas dos líderes
políticos, membros do clube, e não para os respectivos povos.
Não são os
cubanos, mas os Castro. Não são os venezuelanos, mas os bolivarianos
Chávez e Maduro. Não eram os paraguaios, mas Lugo.
Não são os bolivianos
ou os nicaraguenses, mas Evo e Ortega. Não são os povos africanos, mas
seus ditadores. Há algo muito errado em nossa política externa. Tão
errado que me leva a proclamar: não é o Brasil, senhores, mas é Lula,
Dilma e seus companheiros!
Isso me basta. No entanto, ocorre-me uma investigação adicional e para ela eu peço socorro à memória dos meus leitores: você é capaz de identificar uma nação ou um estadista realmente democrático, uma democracia estável e respeitável, que colha dos nossos governantes uma consideração minimamente semelhante à que é concedida nos vários exemplos que acabo de citar?
Pois é, não tem.
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