O Ministério do Exterior da China não divulgou uma agenda detalhada, mas se sabe que o chefe da diplomacia chinesa, Wang Yi, visitará Brasil, Cuba, Venezuela e Argentina entre os dias 18 e 24 de abril.
O fornecimento de matérias-primas deve dominar a agenda. Outros assuntos em pauta devem ser o acesso de produtos chineses ao mercado latino-americano e o interesse de Pequim em investir na região.
Já há algum tempo, a China se consolidou na América Latina como potência econômica. Entre 2000 e 2012, o comércio bilateral cresceu, em média, mais de 30% ao ano. Em 2013, atingiu um volume de 261 bilhões de dólares.
Em muitos países da região, a China ocupa a segunda ou terceira posição entre os principais parceiros comerciais — em geral atrás dos Estados Unidos ou de nações vizinhas. No Brasil, a maior economia da região, a China conseguiu ultrapassar os EUA e ficar na primeira posição.
Para o Brasil, o apetite chinês por commodities foi uma importante fonte de financiamento para sua ascensão econômica nos anos 2000. Também outros países do continente latino-americano faturaram alto com o alto interesse de Pequim por matérias-primas. Neste mesmo período, Europa e Estados Unidos amarguravam as consequências da crise financeira global iniciada em 2007.
PROBLEMA ANTIGO
Mas por mais positiva que tenha sido a ajuda da moeda chinesa aos cofres públicos, porém, as consequências são vistas de forma crítica por observadores.
A América Latina voltou a cair na mesma armadilha da qual, na verdade, nunca saiu completamente desde que foi conquistada por espanhóis e portugueses: o subcontinente é fornecedor de matérias-primas, que são processadas em outras regiões. Sendo assim, não há valor agregado.
Com exceção de Brasil e Argentina, não há país entre Tijuana e Terra do Fogo com uma indústria digna de menção. Mesmo a competitividade de São Paulo — um dos maiores parques industriais do mundo— é restrita no mercado brasileiro em relação a empresas chinesas.
As exportações da indústria brasileira se limitam praticamente à Embraer e a algumas empresas de tecnologia da informação. As razões para isso são problemas na infraestrutura e a educação deficiente de muitos brasileiros. Ainda que hoje em dia o dinheiro resultante de commodities não fique mais exclusivamente nas mãos de uma pequena elite, ele raramente é aplicado em investimentos sustentáveis.
Não apenas governos populistas como os da Argentina, do Equador e da Venezuela, compram apoio da população pobre através de alimentos subsidiados ou moradias públicas. Também uma democracia estável como a do Brasil gasta bilhões em projetos não sustentáveis. Agora, o governo federal está gastando mais de oito bilhões de euros para a Copa do Mundo em vez de, por exemplo, ligar os portos marítimos à rede nacional de transportes.
CAPITAL CHINÊS NA AMÉRICA LATINA
Isso é de interesse dos chineses, pois afinal também lá os custos da produção subiram sensivelmente nos últimos anos. E obviamente Pequim não está interessado apenas em negócios de curto prazo na América Latina, mas também quer participar a longo prazo do desenvolvimento da região.
Segundo estudos do think-tank Diálogo Interamericano, em Washington, e da Universidade de Boston, desde 2005 a China concedeu créditos de mais de 100 bilhões de dólares a países e empresas latino-americanos. Só em 2010, foram 37 bilhões de dólares? mais do que o subcontinente recebeu naquele ano em empréstimos do Banco Mundial, do Banco Interamericano de Desenvolvimento e do Banco de Importação e Exportação dos Estados Unidos juntos.
Ao contrário de outras análises, os autores do estudo concluem que aqui não foi simplesmente trocado dinheiro barato por futuras remessas de petróleo. A China investe em infraestrutura. Por exemplo, a Venezuela recebeu de Pequim mais de 50 bilhões de dólares para reconstruir a infraestrutura da indústria petrolífera.
PARCERIA CHINA-AMÉRICA LATINA
Este pensamento de longo prazo se reflete na diplomacia chinesa. Desde 2001, o país asiático mantém cinco parcerias estratégicas na América Latina, com Brasil, Argentina, México, Venezuela e Peru.
Trata-se de uma reação de Pequim ao aumento da influência dos Estados Unidos na Ásia, diz Marc Szepan, do Instituto Mercator para Estudos da China. "Vale, por assim dizer, a máxima 'se você procura amigos na minha vizinhança, eu vou procurar amigos na tua'", explica.
Só que nesta busca os chineses são muito mais cautelosos do que Washington foi no século passado: "Em vez de se intrometer em assuntos internos, a China busca plataformas multilaterais de diálogo", explica Ana Soliz, do Instituto Giga de Estudos Latino-Americanos, de Hamburgo. A meta seria, segundo ela, impor interesses comuns em organismos internacionais como o G20 e a Organização Mundial do Comércio.
Este comportamento pode ser vantajoso para a China. Mas alguns céticos temem que a América Latina possa se livrar da dependência dos Estados Unidos para cair na da China.
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