Artigo
no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por
João César de Melo
Foram
justas as críticas sobre os custos dos estádios em relação às tantas carências
de infraestrutura do país.
Foram
injustos os temores de que haveria caos nos acessos aos jogos, brigas nos
estádios e falta de organização. Injustos porque ignoraram que estavam
previstos esquemas especiais nas cidades dos jogos, da decretação de feriados à
oferta de linhas especiais de transporte; e que o público nos estádios seria
composto por indivíduos, não por torcidas organizadas.
A
Copa do Mundo aconteceu exatamente como previsto por qualquer pessoa livre de
ranços ideológicos. Foi apenas um grande evento esportivo que acontece
periodicamente há quase um século, organizado por uma empresa que, queiram ou
não, sabe fazer o que se propõe – um campeonato de futebol.
Os
“Legados da Copa” são:
1
– A entrega de uma pequena parte das obras de infraestrutura prometidas;
2
- Os estádios que, se forem administrados pela iniciativa privada, serão
utilizados também para outros eventos;
3
– O entendimento por parte da classe política de que hoje, cada passo, gesto,
desvio e lorota têm repercussão por toda a sociedade através internet, e que
para um político ser aplaudido por um público que não seja seus militantes, ele
terá que realmente fazer algo além de discursos e promessas;
4
– A derrota da seleção tirou 90% do discurso populista do PT. Infelizmente, num
país tão pobre e corrompido intelectualmente como o Brasil, só mesmo uma
desilusão no futebol para fazer a sociedade abrir os olhos e ver que não vive
no paraíso no qual pensa viver, nem que as coisas estão sendo construídas neste
sentido.
A
pior coisa da Copa não foi a vergonhosa derrota da seleção nem os
superfaturamentos das obras, mas sim o PT incitando publicamente a distinção
racial e social como forma de se defender das críticas e das vaias que estão
longe, muito longe de serem injustas.
Esta
Copa expôs claramente que indivíduos convivem em harmonia mesmo com todas as
diferenças que possam ter entre si. As festas nas ruas reuniram milhões de
pessoas, ricos e pobres, negros e brancos, vestindo as mais diversas camisas,
mas nem por isso querendo matar uns aos outros. Os poucos casos de violência
foram causados quando grupos de torcedores que se organizaram. Ou seja:
enquanto indivíduos se respeitam, grupos tendem a desafiar uns aos outros.
A
lição é que a sociedade deve ser moldada para se reconhecer como um agrupamento
de indivíduos, não de grupos ou classes; e que o papel do Estado não é o de
incitar a distinção de grupos, mas sim o de impedir que isso ocorra,
possibilitando que todos se enxerguem e se comportem apenas como indivíduos.
João
César de Melo é Arquiteto e artista plástico; autor do livro Natureza Capital.
Especialista do Instituto Liberal.
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