Artigo no Alerta
Total – www.alertatotal.net
Por Milton Pires
Não deixa de ser
cômico e, acima de tudo, trágico que os últimos meses do governo petista
no Brasil sejam marcados por uma crítica contundente dos rumos da economia
nacional. Reparem que o incipiente movimento de oposição, fazendo uma força
imensa para nascer, apega-se imediatamente àquilo que do ponto de vista revolucionário
é, nesse momento, menos significante - a Economia.
Não poderia ser
mais irônico observar que os chamados liberais ou "libertários" que
agora se opõem ao PT cometem exatamente o mesmo erro dos militares que, a
partir de 1964, deixaram nossa cultura a mercê de um projeto gramsciano que
colheu seus frutos em 2003. É esse o fato que explica posições capazes de
sustentar, ao mesmo tempo, o "Estado Mínimo" e o casamento gay, o fim
das cotas raciais mas a liberação do aborto, a continuação do Programa Mais
Médicos e a derrubada do decreto 8243..e por aí vai...
Essa é, meus
amigos, a verdadeira confusão, a verdadeira salada de frutas, que tomou conta
do pensamento dos que pretendem opor-se ao Partido-Religião no Brasil e o
singelo objetivo desse artigo é, simplesmente, alertá-los para o fato de que
permanece atenta a essas contradições toda a inteligência petralha que vai
debochar dos adversários nas eleições de outubro.
Quando se pensa no
movimento revolucionário é preciso, antes de tudo, atentar-se para uma
silenciosa unidade do discurso... para uma coerência, muito discreta e ao mesmo
tempo muito poderosa, que é capaz de reduzir ao ridículo e designar como
retrógrada ou conservadora tudo aquilo que se opõem ao seu projeto de poder.
Afirmo que existe,
dentro de cada manifestação sobre economia, de cada projeto na área da saúde ou
na educação, uma linguagem comum... Uma codificação poderosa capaz de funcionar
como uma espécie de cola que "gruda de maneira perfeita" tudo aquilo
que precisa chegar até a população comum. São nesses momentos que se torna
possível perceber o marxismo como aquilo que chamei de cosmovisão... como uma
maneira muito específica de entendimento da realidade e que se debruça sobre
ela (realidade) antes de tudo como uma linguagem moral... como uma poderosa
crítica do ethos supostamente ausente nas sociedades capitalistas ou, como
preferem os revolucionários tupiniquins, "neoliberais".
Venho,
recentemente, manifestando minha preocupação naquilo que diz respeito a essa
falta de coragem, a essa incapacidade crônica de apresentar-se como um
adversário ideológico e não somente eleitoral do PT no Brasil. Percebo na
classe política um medo imenso... uma covardia infinita que torna impossível a
mínima discordância no que vem sendo santificado... naquilo que vem sendo
dogmatizado e apresentando à sociedade como sendo praticamente inerente ao seu
tecido moral.
Tantos foram os
anos de "bolsas"... tantas foram as ONGS e tão inúmeras as
"inclusões sociais" que praticamente impossível tornou-se questionar
sua mera continuidade... São, como se diz na linguagem popular, coisas que
"vieram ficar"... "avanços sociais" ou "conquistas das
classes oprimidas"que candidato algum ousa dizer abertamente que vai
extinguir... "Não pode"... é "burrice"... é "perder
voto" ... e assim por diante - desculpas e mais desculpas por parte
daqueles que querem em primeiro lugar eleger-se e, só depois e se necessário
for, dizer definitivamente o que vem fazer no governo.
Mais de uma vez eu
já disse a vocês que não sei em quem vou votar... Não sei sequer se vou votar
em alguém mas sei, antes de tudo, em quem NÃO vou votar: não pretendo dar meu
voto a nenhum relativista de última hora... a nenhum adepto da teoria de que
"o inimigo do meu inimigo é meu amigo" e a nenhum apóstolo do
pragmatismo que repete como um papagaio - "o importante é tirar o
PT"...
Tirar o PT de onde,
meus amigos? Do governo ou do poder? A preocupação de vocês é com o governo?
Acalmem-se: algo me diz que esses próprios bandidos estão, eles mesmos,
convencidos das vantagens de afastar-se do Palácio do Planalto em 2015 e
entregar o Brasil destruído economicamente ao PSDB, mas se a ideia de vocês diz
respeito àquilo que me interessa (a luta pelo poder) aí a coisa muda de figura.
Querem isso?
Preparem-se para dizer não inclusive às pessoas de sua convivência diária no
que diz respeito ao senso comum, ao politicamente correto e à covardia nacional
que hoje nos caracteriza como brasileiros.
Aprendam a
diferença e preparem-se para pagar o preço sentindo antes de tudo a solidão dos
considerados loucos... dos paranoicos e dos obcecados que discordam de Reinaldo
Azevedo bradando em público que vamos todos rumo a uma ditadura
comunista.
Governo e Poder não
são a mesma coisa e o PT sabe perfeitamente a diferença entre os dois. Conhece
tanto e tão bem esse assunto que já é capaz de aceitar o eterno revezamento no
governo com os picaretas do PSDB e garantir, para sempre, sua eterna
permanência no poder.
Milton Simon Pires
é Médico.
Nenhum comentário:
Postar um comentário