Questionada sobre casamento gay, ela disse que é a favor da união civil.
Ao Jornal da Globo, candidata também falou de pré-sal e preço da gasolina.
"Todos nós agimos em base na relação realista dos fatos, mas os seres humanos, eles têm uma subjetividade. Uma pessoa que crê, obviamente que tem na Bíblia uma referência. Assim como tem na referência a arte, a literatura. Às vezes você pode ter um 'insight' assistindo um filme. O quanto nós já avançamos, do ponto da ciência, da tecnologia, pela capacidade antecipatória que você encontra, enfim, na indústria cinematográfica...", disse.
"Mas a senhora toma decisões lendo a Bíblia aleatoriamente, é verdade isso?", questionou a jornalista Christiane Pelajo.
"Olha, isso é uma forma que as pessoas foram construindo, ou estão construindo, para tentar passar uma imagem de que eu sou uma pessoa que é fundamentalista, essas coisas que muita gente de má-fé acabam fazendo", afirmou Marina.
"Qual é o tamanho desse amparo que a senhora toma em preceitos religiosos, frente ao que a senhora pretende ser, que é governante de todos os brasileiros, tomando decisões nacionais?", indagou então o jornalista William Waack.
"O mesmo amparo que você pode tomar a partir de outros referenciais. A Bíblia é, sem sombra de dúvida, uma fonte de inspiração para qualquer pessoa que é cristã ou que é um judeu, enfim, e que não vai negar que é uma fonte de inspiração, mas existem outras fontes de inspiração, às quais eu já me referi. As decisões são tomadas com base racional pra todas as pessoas", respondeu Marina.
A candidata disse em seguida, porém, que "dificilmente você vai encontrar uma pessoa que diga que ela é 100% racional".
A candidata do PSB à Presidência, Marina Silva,
Os principais candidatos à Presidência foram convidados para a entrevista ao Jornal da Globo. Candidata à reeleição, Dilma Rousseff (PT) decidiu não participar. Na quarta-feira (3), será a vez de Aécio Neves (PSDB).
Casamento gay e homofobia
Na entrevista, Marina também foi indagada sobre o "recuo" no programa de governo do PSB, que retirou, em menos de 24 horas, a defesa de propostas para tornar lei o casamento entre pessoas do mesmo sexo e para criminalizar a homofobia. Marina reiterou que a mudança no programa foi motivada por um "erro de processo", e explicou que, por uma "falha", o documento inicialmente divulgado continha as reivindicações do movimento LGBT e não a "mediação no debate", referindo-se ao texto final aprovado pelo PSB.
"Mas os direitos civis da comunidade LGBT, o respeito à sua liberdade individual, o combate ao preconceito, isso está muito bem escrito no nosso programa, melhor do que dos outros candidatos", emendou a candidata.
Em seguida, questionada sobre sua posição em relação ao casamento gay, Marina evitou dizer que era contra. Disse ser a favor da "liberdade individual das pessoas" e que "vivemos em um Estado laico". "O que nós defendemos é a união civil entre pessoas do mesmo sexo [...] Marina Silva é a favor da união civil entre pessoas do mesmo sexo", concluiu.
Marina também foi questionada se a religião a impedia de ser a favor da lei que equipara a homofobia ao racismo. Ela respondeu que o projeto de lei em tramitação no Congresso sobre o assunto "não faz a diferenciação adequada em vários aspectos". "Por exemplo, ninguém pode defender homofobia, qualquer forma de preconceito, discriminação. Por outro lado, você tem os aspectos ligados à convicção ou à manifestação de uma opinião. Você tem que separar isso. E na lei isso não está adequadamente claro", argumentou.
Democracia representativa e participativa
Marina também foi indagada sobre o que pensava do decreto, assinado neste ano pela presidente Dilma Rousseff, que regulamenta a participação de movimentos sociais na formulação, execução e avaliação de políticas públicas dos órgãos do governo.
Marina sustentou ser possível "uma combinação" da democracia representativa – levada a cabo por meio do Congresso e outras instituições – com a democracia participativa – que leva em conta a participação dos cidadãos nas decisões do Estado.
"A Constituição brasileira assegura as duas coisas. Nós não podemos achar que uma coisa é em prejuízo da outra. Pelo contrário. Há um processo de retroalimentação entre a participação do cidadão dos diferentes setores que enriquece o processo democrático e, obviamente, que temos que ter instituições que passam a ser o polo estabilizador da democracia", explicou.
Ela lembrou que, como senadora por 16 anos e depois como ministra, conseguiu aprovar leis ambientais "dialogando com todos os parlamentares" e "transformando boas ideias em políticas públicas, dos movimentos sociais, da academia, do próprio Congresso e dos gestores públicos".
"Hoje não tem mais essa ideia de que você faz as coisas pura e simplesmente para a sociedade. Você faz com a sociedade. Fazer com é diferente de fazer para. Conheço muitas pessoas que estão dizendo ai que é um perigo dizer que vai governar com a participação da sociedade. Mas também não é bom achar que vai governar apenas para os partidos", concluiu.
Na segunda parte da entrevista, Marina repetiu que, se eleita presidente, vai recuperar o "tripé da política macroeconômica brasileira": meta de inflação, câmbio flutuante e superávit fiscal. Ela criticou a condução da política econômica pela presidente Dilma Rousseff, que, segundo ela, deixou o país sem crescimento, com inflação aumentando e juros subindo.
"É fundamental que o país tenha estabilidade econômica para que a gente não perda [sic] as conquistas que já alcançamos, inclusive as conquistas sociais, e que a gente possa aumentar o investimento", afirmou. Disse que para haver mais investimentos, é necessário retomar a confiança no governante e "combinando os instrumentos de política macroeconômica com os instrumentos de política microeconômica".
Questionada se aumentaria impostos para manter e criar programas sociais, Marina respondeu: "O nosso compromisso é de não aumentar impostos".
Explicou que tem compromisso em "dar eficiência ao gasto público", diminuindo a corrupção e fazendo o país voltar a crescer. Depois, criticou escolhas feitas pelo governo. "Se conseguiu R$ 500 bilhões para ungir empresas que recebem esses recursos a juros subsidiados e depois se vem com os argumentos de que não é possível alocar os recursos para atender os brasileiros na saúde, na educação, na segurança?"
Energia, pré-sal, preço da gasolina
Na parte final da entrevista, Marina foi questionada se deixaria o pré-sal "caminhando de maneira morna", por ter dito que a exploração da camada de petróleo, que tem uma das maiores reservas do mundo, "é uma prioridade entre outras".
"Se eu estou dizendo que o pré-sal é uma prioridade entre outras, eu estou dizendo que nós vamos explorar os recursos do pré-sal, mas também vamos dar um passo à frente", disse, defendendo que também deve-se investir em fontes renováveis e limpas de energia, como biomassa, o uso do vento e do sol.
"Não faz sentido termos a maior área de insolação do planeta e termos a quantidade de energia solar que nós temos [...] Nós temos um enorme potencial de biomassa e nós não estamos fazendo os investimentos. [...] E o mundo inteiro está correndo atrás da ideia de uma economia de baixo carbono", argumentou. Reconheceu, porém, que o petróleo é uma necessidade do Brasil e do planeta e ainda "não se conseguiu a fonte de geração de energia que vai substituir esse combustível fóssil".
Ela também defendeu o investimento em energias limpas como forma de diminuir a necessidade de acionar as termelétricas em épocas de seca nas hidrelétricas, o que encarece a conta de luz. "Nós não podemos prescindir dessa fonte auxiliar, mas nós temos que buscar os novos investimentos", pontuou.
Disse esperar "que os preços administrados pelo governo possam ser corrigidos pelo próprio governo", em referência ao represamento do preço do combustível, também praticado em relação às tarifas de energia. Atribuiu o esforço em não aumentar os preços a interesse eleitoral. "Eu fico impressionada como é que se sacrifica os recurso de milhares de anos por apenas uma eleição", afirmou, voltando a prometer que, se eleita, não concorrerá à reeleição.
"Vou ter um mandato de quatro anos, porque eu não quero governar pensando no que eu vou fazer para a próxima eleição. Eu quero governar pensando o que eu quero deixar para as futuras gerações", afirmou.
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