Atualizado em 2 de setembro, 2014 - 10:25 (Brasília) 13:25 GMT
A busca por um novo tipo de
tratamento para um câncer no cérebro está no centro de uma polêmica
sobre o garoto Ashya King, pivô de um incidente internacional após ser
retirado por seus pais de um hospital no sul da Inglaterra e levado para
a Espanha.
Em um vídeo divulgado pelo YouTube, a família de Ashya justificou a ação, dizendo que buscava para o garoto um tratamento conhecido como "protonterapia", ou terapia com feixe de prótons, um tipo de tecnologia que não seria oferecida a ele pelo sistema de saúde público britânico, o NHS.
Segundo relatos obtidos pela BBC, o casal aparentemente pretendia vender um apartamento de veraneio que possui na Espanha para poder custear a terapia em um centro médico na República Tcheca.
Feixe de Prótons
Considerado por alguns especialistas como uma alternativa mais efetiva e que gera menos efeitos colaterais do que a radioterapia convencional - que utiliza feixes de fótons, ou raios-X - a protonterapia é também consideravelmente mais cara.
Atualmente, só é oferecida pelo sistema de saúde público britânico a pacientes que sofrem de câncer ocular, embora eventualmente pessoas que sofram de outras enfermidades também possam ter a aplicação da terapia aprovada.
Entre as maiores vantagens do tratamento com feixe de prótons está o fato de que ele atinge tumores de forma mais concentrada do que a radioterapia tradicional. Além disso, a ação dos prótons cessa após atingir seu alvo principal, afetando muito menos as células saudáveis e, consequentemente, causando menores danos a tecidos e abrandando os efeitos colaterais.
De acordo com Matthew Crocker, consultor em neurocirurgia clínica St. George's Healthcare, em Londres, a radioterapia convencional tem uma série de "efeitos colaterais, em parte devido ao modo como a energia é distribuída", enquanto a protonterapia pode ser potencialmente bem-sucedida no tratamento de tumores no cérebro e no sistema nervoso central.
Em um artigo publicado no jornal britânico The Guardian, o físico Jon Butterworth, da University College London, explica que essa diferença entre as terapias está nas características da radiação utilizada em cada uma delas.
Já os prótons são partículas mais pesadas, que perdem energia mais rapidamente. Quando direcionados diretamente a tumores, eles acabam por atingir de maneira mais acentuada os tecidos doentes, causando danos menores a outras partes.
Preço
Mas embora existam evidências de que a protonterapia possa ser especialmente benéfica no tratamento de crianças com câncer – cujos corpos são especialmente sensíveis à radiação –, assim como em casos mais raros de tumores no cérebro, a utilização do feixe de prótons também tem limitações.
De acordo com um artigo publicado por Keith Epstein na revista científica BMJ, a terapia mostrou-se menos eficaz no tratamento de cânceres de próstata, levando inclusive a efeitos colaterais severos.
Mas aquele que talvez seja o maior empecilho para a adoção generalizada da terapia é o seu preço. No caso do tratamento de cânceres de próstata, segundo Epstein, a utilização do feixe de prótons é duas vezes mais cara que a radioterapia convencional e quatro ou cinco vezes mais cara que uma cirurgia.
De acordo com o NHS, o gasto médio da terapia de prótons por paciente é de cerca de 100 mil libras, o equivalente a R$ 371 mil.
Independente disso, o caso de Ashya King continua a mobilizar opiniões na Grã-Bretanha.
Nesta terça-feira, o vice-primeiro-ministro britânico, Nick Clegg, fez um apelo para que seus pais sejam soltos e reunidos com o garoto, contrariando a ordem de prisão contra o casal obtida pela polícia de Hampshire, o condado onde fica Portsmouth.
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