terça-feira, 2 de setembro de 2014

Presidente da CNBB diz que igreja não faz ‘curral eleitoral’ em templo





Cardeal afirmou que igreja não toma posição partidária, mas orienta fiéis.
Conferência promove debate com oito presidenciáveis em 16 de setembro.

Lucas Salomão Do G1, em Brasília
O presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e cardeal arcebispo de Aparecida (SP), Dom Raymundo Damasceno, disse nesta sexta-feira (29) que a igreja Católica deve orientar fiéis no período de eleições, mas não deve fazer dos templos “curral eleitoral”. Segundo o arcebispo, a igreja não deve fazer “discriminação a nenhum candidato”.

"Não fazemos nos nossos templos nenhum curral eleitoral. Nós orientamos, falamos, mas não fazemos comitês eleitorais nos nossos templos", disse Damasceno, sem detalhar que tipo de orientação é feita pela igreja. A declaração foi dada em entrevista coletiva na sede da CNBB, em Brasília.

Questionado sobre a participação de dois evangélicos nas eleições para presidente da República (Marina Silva, do PSB, e Pastor Everaldo, do PSC), Dom Damasceno afirmou que o eleitor é livre para escolher seu candidato e que deve analisar o projeto de governo cada um. Apesar disso, ele defendeu a participação de cristãos na política.

"O eleitor é livre de escolher o seu candidato e ele deve, ao fazer a sua escolha, fundamentá-la no sentido de que ele está exercendo o seu direito de uma maneira consciente, conhecendo o candidato, sua experiência, seu passado, seu projeto de governo [...]. O cristão é como qualquer cidadão e, como tal, tem direitos e obrigações e deve também participar da vida política", sugeriu o arcebispo de Aparecida.
 

Não fazemos nos nossos templos nenhum curral eleitoral. Nós orientamos, falamos, mas não fazemos comitês eleitorais nos nossos templos"
 
 
Dom Raymundo Damasceno,presidente da CNBB
 
 
Debate e reforma política
A CNBB vai promover debate entre candidatos à Presidência da República no dia 16 de setembro, no Santuário Nacional de Aparecida - maior templo católico do país. "[A intenção] É proporcionar aos eleitores que nos acompanharem a oportunidade de conhecer melhor os candidatos para que possam exercer com liberdade, responsabilidade, consciência a escolha. A CNBB não toma posição político partidária", afirmou o presidente da CNBB.

O presidente da CNBB também falou sobre a reforma política no Brasil. Segundo Dom Raymundo Damasceno, a conferência apoia um projeto de lei de iniciativa popular que prevê a reforma política e que já conta com quase 500 mil assinaturas.



O projeto, apoiado por centenas de entidades, como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e o Movimento Contra a Corrupção Eleitoral (MCCE), prevê a reforma em quatro eixos: a proibição do financiamento privado de campanhas; a eleição divida em duas etapas, nas quais o eleitor votaria primeiro em um programa partidário e depois no candidato; o aumento de candidaturas femininas nas eleições; e uma maior participação popular por meio de plebiscitos e referendos, mesclando a democracia representativa e a democracia participativa.


"Esse é o projeto apoiado pela CNBB e que está em andamento coletando assinaturas através das paróquias, entidades. Já temos de 400 a 500 mil assinaturas, e queremos chegar a um milhão e meio de assinaturas para levar para o Congresso Nacional [...]. Nós sabemos as consequências que isso [campanha financiada por empresas] gera após as eleições", ressaltou Damasceno.

Revista íntima em presídios    
Durante a entrevista coletiva, a CNBB também divulgou nota na qual se posiciona pelo fim da revista íntima para visitantes em presídios, classificada pela conferência como "vexatória". A entidade se refere à prática das prisões de solicitar aos visitantes que fiquem nus durante a revista.

No último dia 19, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB-SP), promulgou a lei que proíbe revistas íntimas nas unidades prisionais. Com isso, fica proibido obrigar o visitante a se despir, fazer agachamentos, dar saltos ou se submeter a exames clínicos invasivos.

"O Conselho Episcopal Pastoral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) vem manifestar seu repúdio à inaceitável prática da revista vexatória aplicada na maioria dos presídios brasileiros. Esse procedimento desumano submete as pessoas que visitam os encarcerados à humilhação do desnudamento, da manipulação de suas partes íntimas por agentes do Estado e a outras práticas degradantes", diz trecho da nota.



Para a CNBB, a prática deve ser substituída por artefatos "mais eficientes e compatíveis com a dignidade humana", como scanners corporais e detectores de metais.

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