terça-feira, 2 de setembro de 2014

Carlos Chagas DUROU POUCO A ILUSÃO?



Marina Silva   continua favorita nas eleições presidenciais por conta da imagem que construiu  anos a fio, como alguém que enfrentou o poder econômico, defendeu a reforma agrária,  a preservação das florestas, o desenvolvimento sustentável, a co-gestão, a participação dos empregados no lucro das empresas,  o imposto sobre grandes fortunas e a multiplicação do salário mínimo. 


Essencialmente porque integrou-se aos anseios do  cidadão comum e aos reclamos da  massa desfavorecida que  a identifica como alguém igual à maioria.  Ainda mais por ter nascido  e sido criada  no meio do mato, passado fome, aprendido a ler e escrever aos dezesseis anos e  adquirido doenças que até hoje a atormentam,  além de ser negra.


Trata-se de um  patrimônio para ninguém botar defeito, mas a um mês das eleições,  depois de haver empolgado  o país inteiro com sua meteórica ascensão,  eis que Marina começa a    recuar e a fazer média com as elites de sempre. Talvez imagine, como o Lula imaginou depois de perder por três vezes as  eleições, que só conquistaria o poder compondo-se com as classes mais  favorecidas.  


A candidata arrisca-se a  cometer o mesmo  erro, desligando-se de suas origens e integrando-se aos  mesmos de sempre. Joga suas características fundamentais, que poderá perder, sem a contrapartida de ganhar qualidades que nunca possuiu. Basta notar a simpatia com que é  recebida pelos sociais-democratas e a chamada grande imprensa.


Acaba de fazer as pazes com o agro-negócio e com os usineiros,  plantadores de cana. Nada contra ele num sistema como o que vivemos,   não fosse a evidência de que rejeitam cada um dos  propósitos antes enunciados por Marina. Não querem ouvir falar de reforma agrária, muito menos de preservação das florestas. 


Podem estar certos, dentro dos conceitos do capitalismo selvagem que nos assola, mas exultaram  ao ouvir da candidata a negativa de suas convicções passadas.   Preferem Aécio, talvez Dilma, mas ficaram felizes ao perceber que exorcizaram um fantasma. Porque vão  pegar Marina na palavra, caso ela  confirme na corrida a pole-position hoje conquistada. Poderão criar problemas, como tem criado há séculos, desde que algum presidente da República tentou  voltar-se para as necessidades populares.  Foram os donos da terra que derrubaram Getúlio Vargas e João Goulart.


Mas tem mais, nesse recuo que os pronunciamentos de Marina tem  revelado. Ela acaba de  posicionar-se  pela autonomia do Banco Central,  a entrega aos bancos privados do controle do mercado de crédito,  a minimização do pré-sal, como também contra a energia nuclear,  o casamento civil  dos homossexuais, assim como em  favor do aumento  nos preços da gasolina e da energia elétrica. 


Até pela inclusão de Fernando Henrique Cardoso no seu futuro governo. Que programa é esse batendo de frente com suas anteriores promessas sociais? No texto distribuído à imprensa no fim de semana, como programa da candidata, nada de  distribuição da terra aos que dela necessitam, de imposto sobre grandes fortunas, de participação dos empregados no lucro das empresas, de co-gestão e de  duplicação do salário  mínimo. Podemos estar errados, tomara que estejamos, mas por aí  Marina, Aécio e Dilma são peças do  mesmo tabuleiro.  Durou pouco  a ilusão…

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