sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Aécio e Marina têm de se aliar contra Dilma, diz FHC


Entrevista. Fernando Henrique Cardoso

Ex-presidente vê cenário eleitoral ‘instável’ e já fala em união de PSDB e PSB contra Dilma em um eventual 2º turno



Débora Bergamasco
03 Outubro 2014 | 03h 00
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) afirmou nesta quinta-feira, 2, que o cenário eleitoral no momento está “muito instável” e com “possibilidade real” de o candidato tucano Aécio Neves ir para o 2.º turno. E, segundo ele, havendo 2.º turno Aécio e a candidata do PSB, Marina Silva, têm que estar juntos para derrotar a presidente e candidata à reeleição, Dilma Rousseff (PT). Em entrevista ao Estado, FHC comentou o enfraquecimento de Marina na disputa: quando ela entrou, parecia um tufão avançando. Agora, virou uma “ventania com cara de vento”.
ROBSON FERNANDJES/ESTADÃO-5/8/2014
Para FHC, eleitores ‘se juntarão independentemente das decisões da cúpula’

Como o senhor avalia hoje o cenário eleitoral?
Muito instável. Estamos vendo uma flutuação de opinião que leva a crer na possibilidade real de Aécio ir para o segundo turno. Isso em consequência de uma campanha desleal que foi feita pelo PT em cima da Marina que, de alguma maneira, a afetou. E o Aécio teve a virtude de se manter com muita energia, nos piores momentos. Quando começou (a onda Marina) eu disse: precisa avaliar se isso é vento, ventania ou tufão. Se for um tufão, acabou. Se for ventania, pode ser que vire vento.

Às vésperas da eleição, Marina é vento, ventania ou tufão? 
Neste momento, é ventania com cara de vento. Temos de ser prudentes com esse movimento de opinião pública, porque ele muda muito rapidamente. Eu não quero dizer que está escrito que Marina vai virar vento. Pode ser que não. Mas está parecendo que vai.

Marina e Aécio vão se juntar em um 2.º turno? 
Se houver 2.º turno, e acho que vai haver, necessariamente os que estão na oposição terão de apoiar uns aos outros. E quem mais necessitaria seria Marina, para mostrar que tem capacidade de, juntado-se a outros, governar. O Aécio não precisa mostrar isso, o partido dele já governou.

Mas o PSDB precisa dos votos.
Acho que os eleitorados dos dois lados se juntarão independentemente das decisões da cúpula. Mas, para poder dar mais firmeza e mostrar que governa, aí precisa de decisão da cúpula também. O PSDB, como partido, tem de dizer de que lado está. Estamos elegendo governadores, uma bancada, essa gente toda vai ter de se pronunciar. E o PSDB é um partido que sempre assumiu sua responsabilidade.

Quando Aécio começou a cair nas pesquisas e Marina subir, a campanha do PSDB passou a associá-la ao PT. O sr. concorda?
Eu não sou favorável a insistir que a Marina é PT porque ela não é mais. Dizer isso é dar crédito ao PT. Essa ideia não partiu de mim. Eu valorizo mais o fato de ela ter deixado de ser do que ter sido. Mas a desconstrução da Marina foi muito mais a questão de banco, (de dizerem) que ela vai servir aos ricos e não aos pobres, que é a tecla do PT. O que é uma infâmia gritante. Por que a Marina, o que é? É pobre, negra, vem da floresta e sempre foi uma lutadora, só mesmo com muita propaganda para estigmatizá-la como agente do capital financeiro. Não cabe.

Há chance de o PSDB não ir ao 2.º turno, após mais de 20 anos. O que significaria para o partido?
Nos tira dessa condição de polarização do debate político de ideias neste momento e, eventualmente, pode ser mais difícil a reeleição dos nossos governadores que forem para o 2.º turno. A eleição atual está mostrando uma independência curiosa do eleitorado que vota diferentemente para deputado, para governador e presidente. O que mostra que o sistema político partidário eleitoral fracassou, está falido. Se quisermos ter maior consistência no sistema político, medidas terão de ser tomadas.

Mas esse não seria um momento de avaliar internamente o papel do PSDB em termos de representatividade, de bandeiras? 
Sem dúvida. Mas estamos falando do PSDB e dos demais partidos. Houve uma perda de confiabilidade no sistema partidário que afeta a todos. O PT não é mais a mesma coisa. Tenho propagado que sejam mudadas algumas regras no sistema eleitoral, como voto distrital e etc. Mas mesmo sem isso, só com o financiamento eleitoral do jeito que é hoje, por exemplo, a eleição em si já fica corrompida.

Por quê? 
Veja a lista de quem dá dinheiro: empreiteiras, bancos e algumas grandes empresas. Para quem? Para todos. Cabe isso? Ao dar para todos, está claro o que está querendo. Teve uma empresa que deu R$ 90 milhões, algo assim. Cabe em algum lugar do mundo uma empresa dar R$ 90 milhões? Alguma coisa está por trás disso. Também é preciso votar uma lei de barreira. Ninguém aguenta mais falsos partidos, que se organizam só para ter um pedaço do Orçamento. Tem que ter um limite para se ter acesso ao Fundo Partidário.

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