segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Avaliação: debate na Record em 19/10



derecord
Eu esperava algo completamente diferente hoje. O ideal seria que Aécio tivesse aumentado o tom em relação ao debate do SBT, mas denunciando o vitimismo de Dilma.

O fato é que durante a semana muitos jornalistas (a maioria pró-PT) resolveram ludibriar Aécio dizendo que “ocorreu uma pancadaria generalizada” no debate do SBT. Mentira: na verdade finalmente Aécio começou a reagir. Ele deveria ter sido firme negando que “agrediu” Dilma, quando na verdade apenas mostrou fatos contundentes que desmascaravam seu discurso.

Sejamos francos, pois este é um blog focado em guerra política, não em discursos feitos para iludir a turma. Eu não estou aqui para falar o que as pessoas querem ouvir, mas a verdade sobre o que deve ou não ser feito, em termos de guerra política, para se obter resultados.
Essa história de “debate propositivo”, nesta altura do campeonato, é uma ilusão. Todos já conhecem as propostas de um ou de outro.
Uma das coisas mais importantes neste momento deveria ser aumentar a taxa de rejeição do oponente. Para isso é preciso partir para o confronto.
Infelizmente, hoje Aécio decidiu optar pelo “debate propositivo”. Dilma, ao contrário preferiu executar o seu modelo de atuação padrão. O modus operandi é simples:
  1. Há ricos
  2. Há pobres
  3. dois projetos de governo: aquele que governa para os ricos, e o que governa para os pobres
  4. O governo do oponente INTENCIONALMENTE prejudica a vida dos pobres
  5. A mensagem é clara: eles se “comprazem” com o sofrimento dos pobres
  6. Repetir isso do início ao fim
E lembremos os seis princípios da guerra política, de Horowitz:
  1. Política é guerra conduzida por outros meios
  2. Política é guerra de posição
  3. Na guerra política, o agressor geralmente prevalece
  4. Posição é definida por medo e esperança
  5. As armas da política são símbolos que evocam medo e esperança
  6. A vitória fica do lado do povo
Prefiro avaliar o debate por esses dois modelos. Note que o modelo usado pela Dilma é feito para atender os princípios da guerra política.

Sempre que Aécio apresentava alguma informação, ela dizia que no governo de FHC “era pior”. Em seguida, ela “empacotava” um discurso comparativo e daí concluía que “intencionalmente” FHC queria o sofrimento dos pobres. Daí jogava esses símbolos sobre a cabeça de Aécio.
Enquanto Aécio continuava com seu “debate propositivo”, Dilma atacava o tempo todo. Veja alguns momentos:
  • Ela disse que “Aécio ouviu o galo cantar e não sabe onde”
  • Disse duas vezes que Aécio “não tinha moral para falar” (pois fez pior e blá blá blá blá)
  • Usava o termo “estarrecedor” para simular espanto diante de uma declaração do oponente
  • Sempre comparava com números distorcidos, para usar o seu modelo dizendo governar para o povo, ao contrário do oponente (o “ao contrário” deu a tônica de seu discurso)
E foi assim do início ao fim. Sempre usando o framework da guerra política.

Tudo isso levaria a uma vitória por goleada de Dilma, não? Tecnicamente sim, não fosse o fato de que todos os temas foram repetitivos.Simplesmente não existiu quase nada de novo.
O maneirismo de Dilma, especialmente em relação ao termo “estarrecedor”, também pode ser ridicularizado, como já vimos na Internet:
estarrecedor
Enfim, Dilma bateu e não apanhou. O truque de se fingir vítima funcionou.
Para que não digam que estou sendo exigente demais, alguns momentos de Aécio foram bons:
  • mencionar que o povo que comprou ações da Petrobrás perdeu dinheiro (falou ao coração)
  • citar que quando Dilma diz que “manda investigar” se comporta como ditadores de países com os quais o governo do PT se alia (nesse momento surgiram palmas)
Mas há um momento em especial onde ele lançou um forte shaming sobre Dilma por ela falar sobre “o meu programa Bolsa Família”. Ele disse que o programa é do Brasil, não dela.
Infelizmente, foram poucos momentos de brilho, em um debate morno de ambos os lados.

Como de costume, Aécio precisa perder a terrível mania de deixar ataques sem resposta. Já dei a dica antes e repito: Aécio deve anotar tudo em um caderno enquanto Dilma fala para não deixar ataques sem resposta. Fortes ataques de Dilma (sem resposta) ocorreram umas quatro ou cinco vezes em todo o debate.

No geral, lembremos os placares dos debates anteriores: Aécio venceu por 7×5 no debate da Band e por 9×4 no debate do SBT. Aqui digamos que Dilma venceu por 7×5. O placar a favor de Dilma poderia ser maior se ela tivesse usado ataques diferentes dos que já tinha feito anteriormente. Como se repetiu demais, mesmo sendo muito superior em termos de guerra política, ela não chegou a “golear”.

Há discussões dizendo que todo o bom mocismo de Aécio foi uma estratégia para que ninguém pudesse falar mal dele durante a semana. Capaz. Mas eu acho bastante arriscado desperdiçar tanto tempo assim, principalmente por que o arsenal para atacar o PT é infinito. Para que economizar munição infinita? Na verdade, o grande problema é arrumar tempo suficiente para atacar Dilma e usar a melhor munição disponível.

Por exemplo, Aécio poderia ter citado Maria Corina Machado, que teve o nariz quebrado por tiranetes venezuelanos. Também poderia ter citado o pedófilo Eduardo Gaievski, assessor de Gleisi Hoffman, que estuprou meninas. Poderia ter mencionado que Palocci elogiou Armínio Fraga. Poderia ter mencionado que o governo do PT foi contra o Plano Real, pois queria manter o povo na pobreza. Poderia ter dito que a taxa de desemprego do governo de 5% é um embuste, pois o DIEESE aponta o dobro do valor. Eu poderia me estender aqui e escrever um ensaio só com essas munições, que os líderes do PSDB já possuem. Então o papo de “guardar munição” não me convence.

Aguardemos o debate da Globo, pois este foi uma decepção para ambos os lados. Para Dilma, por que ela poderia ter goleado e optou pela repetição de tudo que já havia sido dito (além deste debate ser o de menor audiência de todos). Para Aécio, por que ele optou por ser um bom moço, o que não serve em termos de guerra política.

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