28/10/2014
às 6:55
O governo
está em plena, como dizer?, “ofensiva de mídia”. Nesta segunda, a
“represidenta” concedeu duas entrevistas: uma ao “Jornal da Record”, da
TV Record, e a outra, quase em seguida, ao “Jornal Nacional”,
da TV Globo.
De substancial — ou quase isso — disse a mesma coisa em
ambos, repetindo não apenas fragmentos de raciocínio, mas também
expressões: “o recado das eleições é a mudança”; vai investigar a
Petrobras “doa a quem doer”, vai fazer um governo inclusivo, com
especial atenção “às mulheres, aos negros, aos jovens”; será a
presidente de todos os brasileiros… E vai por aí.
No JN, ela se mostrou calma e pacífica, mas se irritou, foi visível, com a repórter Adriana Araújo, da Record, que conduziu a entrevista com
extrema competência e correção. Não tem jeito: a represidenta gosta é
que lhe abram o microfone para falar. Qualquer tentativa de diálogo
verdadeiro, ainda que absolutamente pacífico, é logo rechaçada ou com
grosserias intimidadoras ou com raciocínios tortos. Todos sabem que age
desse modo com subordinados — os tais dos seus “homens meigos”. A
entrevista com Adriana, muito mais reveladora, teve o condão de deixar
claro, por culpa exclusiva de Dilma, que a disposição para o diálogo da
governanta é conversa para boi dormir. Já chego lá. Antes, algumas
considerações.
Os
mercados derreteram ontem, e o dólar subiu às alturas. Não foi surpresa
para ninguém. Ou foi: se isso acontecia com o boato de que Dilma poderia
ganhar a eleição, veio o fato. É possível que, em movimentos de curto
prazo, haja uma subida ou outra? É. Mas o que importa é a trajetória,
que é descendente. Guido Mantega, o único ministro demitido no cargo de
que se tem notícia, disse não ver nada demais e afirmou que as Bolsas
caíram no mundo inteiro, bobagem que Dilma repetiu na entrevista da
Record.
Falso, é claro! Houve quedas mínimas mundo afora, nada
comparável à despencada havida no Brasil.
Criativo na análise, não apenas na contabilidade, Mantega afirmou que a
reeleição de Dilma significa aprovação da política econômica do
governo. Fazer o quê? O país não está nessa pindaíba por acaso. Foi
preciso, ao longo dos anos, uma incompetência verdadeiramente metódica,
determinada, convicta.
Como os
mercados derretem, então é preciso falar. Mas falar o quê? Dilma, claro,
não adiantou que medidas pretende tomar na área econômica. Até porque,
gente, quando ela tiver alguma ideia, talvez revele. De resto, nesse
caso, “o que fazer” está intimamente atrelado a “quem vai fazer”. E já
está claro que não será Guido Mantega, aquele que afirmou que a política
econômica foi aprovada nas urnas.
Adriana
cumpriu a sua obrigação e perguntou qual será o perfil do próximo
ministro da Fazenda, citando, por exemplo, Luiz Trabuco, presidente do
Bradesco, lembrado frequentemente como um possível nome. Dilma ficou
irritada e tentou ridicularizar a repórter: “Você está lançando um nome,
Adriana?”. Falando certamente com os, como direi?, serviçais que
estavam fora da câmera, ironizou: “Ela está lançando nome…”. Ouve-se um
pequeno alarido de solidariedade com a chefia, como a dizer: “Oh, que
absurdo!”. Sabem como é aquela truculência burocrática da servidão… A
repórter reagiu muito bem e deixou claro que seu papel era perguntar.
Perfeito.
Mas
furiosa mesmo Dilma ficou quando Adriana tocou nos quase oito milhões de
votos a mais que Aécio Neves teve em São Paulo. Por que teria
acontecido no estado com a maior economia
do país, com a maior população?… Dilma disse, então, coisas realmente
estupefacientes. Indagou por que a repórter não lhe perguntava sobre os
11 milhões de votos a mais que teve no Nordeste, ao que respondeu a
jornalista: “Eu lhe pergunto então…”.
A Dilma
que até ali vinha falando em diálogo, em inclusão, em superar as
diferenças, descambou para o eleitoralismo mais tosco e afirmou que não
podia compreender que São Paulo vivesse a maior crise de água do Brasil e
ninguém tocasse no assunto, sugerindo, o que é uma mentira descarada,
que a imprensa estaria a proteger o governo do Estado. E emendou para
espanto dos fatos e da língua portuguesa: “Fosse com qualquer governo da
situação, nós seríamos criticados diuturna e noturnamente”. Sugiro a
vocês que façam uma pesquisa nos arquivos na imprensa paulista sobre o
assunto. A insistência beirou o terrorismo.
A
represidenta que diz querer a união, que afirma ser preciso superar as
divergências do período eleitoral, que anuncia ser a palavra “diálogo” a
mais importante do seu segundo mandato, decidiu pautar a imprensa
contra um governo de oposição, atribuindo a sua derrota no Estado, vejam
vocês!, às deficiências do jornalismo — esse mesmo, diga-se, que a
protege das barbeiragens cometidas, aí sim, no setor elétrico.
Vale
dizer: Dilma acha que fez tudo certo; que os que não votaram nela só
estavam mal informados e que o papel da boa imprensa é atacar seus
adversários. Mais: para a represidenta, ela venceu no Nordeste em razão
dos méritos do seu governo, e a oposição deu uma lavada em São Paulo em
razão dos deméritos do que os petistas chamam “mídia”. Ou por outra: a
sua reeleição é prova de sabedoria da população; já as vitórias
estrondosas de Geraldo Alckmin, José Serra e Aécio Neves em São Paulo
provam a ignorância do povo paulista.
Digamos, o
que é escandalosamente falso, que a imprensa realmente tivesse omitido
informações sobre a crise hídrica. Será que os paulistas não teriam
percebido ao abrir a torneira? O PT perdeu, em São Paulo, três turnos da
eleição insistindo nessa tecla: o primeiro e único para o governo do
Estado e os dois outros para a Presidência. Dilma está querendo disputar
o quarto turno.
Eis a
presidente que afirma querer o diálogo. Fica evidente: a exemplo de seu
partido, ela também não esquece nada nem aprende nada.
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