CASO QUE INQUIETA O PODER
Claudio Savoia
A falta
de balanços da empresa, os quartos vazios, a sombra da lavagem de
dinheiro. O que se investiga na causa que afeta a presidente da
Argentina.
(O endereço da empresa de Cristina, nos documentos, é um lugar de fachada)
Hotesur é o nome de uma empresa que pertence à presidente. Mas há alguns dias, é também o apelativo de um expediente judicial que, após a ordem de busca e apreensão do juiz federal Claudio Bonadio aos seus escritórios portenhos, ainda estremece os alicerces do governo.
O caso foi iniciado com uma investigação jornalística que a deputada federal do partido opositor GEN, Margarita Stolbizer, transformou em denúncia judicial. Após ver as declarações de renda de Cristina e os esquálidos dados sobre essa firma que podiam ser encontrados no Diário Oficial, Stolbizer enumerou uma série de irregularidades, dúvidas e incongruências que a Justiça deveria investigar.
O caso levou a presidente e políticos governistas a criticarem o juiz. Na sexta, 28, ele já tinha as declarações de renda da presidente, dos seus filhos, Máximo e Florencia, e do empresário amigo deles, Lázaro Báez. O gesto deixa claro que o juiz não se intimidou com as críticas.
Veja aqui os dez pontos decisivos deste caso:
1. Falhas na declaração juramentada de Cristina.
Na Declaração Juramentada Patrimonial Integral de 2013, a presidente admite ser a titular de ações da firma Hotesur S.A., embora não mencione em que quantidade ou porcentagem. Ela diz que o montante desse patrimônio é de 9.367.528,85 pesos e depois reconhece uma dívida com essa mesma sociedade pelo montante de 4.683.848,68 pesos, sem esclarecer conceitos ou razões desse endividamento.
2. Alto Calafate, um "alojamento fantasma".
Hotesur é a proprietária do hotel Alto Calafate, situado nessa lindíssima localidade da província de Santa Cruz. Para a deputada, existem suspeitas de que se trata, na verdade, de um alojamento fantasma usado pelo casal presidencial para fazer negócios obscuros com Lázaro Báez. "Surge de todos os manuais e trabalhos técnicos e jurídicos que o ramo de hotelaria é um dos mais usados e eficazes para operações de disfarce dos números ou lavagem de ativos".
3. Uma empresa sem balanços nem inscrição de autoridades.
Hotesur não cumpre com a obrigação legal de apresentar seus balanços perante a Inspeção Geral de Justiça desde 2011. Quais são as consequências dessa omissão? Que não se sabe quais são os ativos e os passivos da empresa, nem quem são hoje seus sócios nem os integrantes do diretório.
4. Máximo Kirchner e a sombra de Lázaro Báez.
Embora o estatuto de Hotesur diga que as autoridades teriam mandato de três anos, a empresa as modificou todos os anos até a morte de Néstor Kirchner. Desde então, não se sabe quem são. Mas em 2009, o Diário Oficial publicou que a diretora titular era Romina Mercado - filha de Alicia Kirchner -, seu suplente era Roberto Saldivia, advogado de Lázaro Báez, e o presidente era Osvaldo Sanfelice, sócio de Máximo Kirchner na imobiliária de Río Gallegos.
5. Rua Lavalle 975, na cidade de Buenos Aires, a sede de fachada.
A última sede de Hotesur inscrita nos registros públicos e publicada no Diário Oficial está localizada na rua Lavalle 975, 4º andar, apartamento A, da cidade de Buenos Aires, o que obriga a firma a se apresentar perante a Inspeção Geral de Justiça, que depende do Ministério da Justiça. Mas quando o juiz Bonadio inspecionou esses escritórios, eles estavam vazios.
6. Os singulares aluguéis de Lázaro.
Hotesur alugou à empresa Valle Mitre, do empresário amigo e sócio da família Kirchner – ganhador de licitações milionárias de obras públicas com o governo de Santa Cruz e com o governo nacional – quartos no hotel Alto Calafate por um total de 10,1 milhões de pesos (6,3 milhões em 2010 e 3,7 milhões em 2011). Mas esses quartos quase nunca foram ocupados.
7. Cristina e uma estranha dívida consigo mesma.
Em sua última declaração juramentada a presidente declarou um aumento de sua dívida com Hotesur S.A., a empresa que pertence a ela mesma e aos filhos. Devido a alterações na apresentação das declarações juramentadas, que foram aprovadas a pedido do governo, já não é possível saber o movimento real de dinheiro, nem como a dívida foi contraída, nem qual foi a contraprestação, nem quais são os planos de pagamento para quitá-la.
8. Qual é a porcentagem de Hotesur que pertence a Cristina?
A presidente declarou em 2013 que sua participação na firma valia 9.367.528,85 pesos. Para começar, é impossível checar esse dado porque Hotesur não apresenta seus balanços desde 2010. Também não se pode comprovar a variação no valor das ações. E o mais importante: nem sequer se pode saber se Cristina é dona de 10%, 50% ou 100% da empresa.
9. Os dados-chave que os balanços deveriam fornecer.
A lei diz que as sociedades localizadas na capital federal devam apresentar seus balanços perante a IGJ (Inspeção Geral de Justiça) para que os terceiros que eventualmente estabelecerem trato com elas possam saber quem são seus acionistas e em que proporções, se têm dívidas e de quanto, qual é o valor de seus ativos, que negócios fizeram ano após ano, que contas pagaram e quais são seus planos para os próximos anos. Todos esses dados são essenciais, por exemplo, para os juízes que deveriam investigar os negócios de Lázaro Báez com o objetivo de estabelecer se o empresário lavou dinheiro de origem ilegal.
10. A rede de proteção.
Cada uma das irregularidades enumeradas e sustentadas durante pelo menos três anos foi possível graças à omissão da Inspeção Geral de Justiça em fazer seu trabalho de controle. Até esta semana, quando o secretário de Justiça anunciou que aplicaria a Hotesur uma "severa" multa de 3.000 pesos, a empresa não tinha sofrido sanções. A "cumplicidade" da IGJ – como qualificada pela deputada Stolbizer em sua denúncia – nem sequer foi modificada quando a investigação judicial sobre a "rota do dinheiro K" e Lázaro Báez foi iniciada, apesar de o empresário kirchnerista ser suspeito por ter lavado dinheiro de origem ilegal.
Cristina Kirchner
Juiz amplia investigação sobre patrimônio de Cristina e vira alvo do governo
Redação Clarín em Português
Um
juiz determinou, na semana passada, uma blitz em uma empresa da
presidente Cristina Kirchner que estava em falta com o fisco. Cristina
atacou o juiz. Mas ele não recuou. Nesta quinta, 27, o escândalo com a
empresa da presidente cresceu e a reação do governo também.
Buenos Aires, 27 de novembro de 2014
O juiz Claudio Bonadío pediu, nesta quinta, à AFIP (Receita Federal argentina) cópias das declarações de renda da presidente Cristina Kirchner e dos filhos dela, Máximo e Florencia, herdeiros da presidente e do ex-presidente Nestor Kirchner, morto em 2010. Bonadio também solicitou os mesmos documentos do empresário Lázaro Báez entregues à AFIP. Báez tem negócios com a família Kirchner.
O juiz quer saber se a Hotesur, empresa que dos Kirchner que administra um de seus hoteis, o Alto Calafate, é, na verdade, apenas o fio da meada de um esquema de "lavagem de dinheiro", como informou o jornalista Nicolás Wiñazid no jornal Clarin desta quinta.
O caso poderia envolver o hotel mais famoso dos Kirchner, o Los Sauces, perto da casa da presidente na província de Santa Cruz, na Patagônia.
Segundo a reportagem do Clarin, Báez teria recebido dinheiro público para obras e em troca conseguiria hóspedes para os hotéis da família presidencial.
Báez está sendo investigado por contas sem declarar no Uruguai, na Suíça, nos Estados Unidos e na própria Argentina.
Assessores do governo reconheceram que a empresa Hotesur não estava em dia com o fisco e passaram a atacar o juiz do caso. Primeiro, foi a própria presidente e depois parlamentares governistas. O senador kirchnerista Marcelo Fuentes fez uma denúncia judicial contra o juiz por "enriquecimento ilícito" e "abuso de autoridade".
Nesta quinta, o chefe dos fiscais, Ricardo Echegarray, falou sobre outros argentinos com contas na Suíça.
Uma guerra de denúncias que para especialistas e opositores pode ser só o começo de muitos problemas para Cristina explicar sua fortuna.
O juiz Claudio Bonadío pediu, nesta quinta, à AFIP (Receita Federal argentina) cópias das declarações de renda da presidente Cristina Kirchner e dos filhos dela, Máximo e Florencia, herdeiros da presidente e do ex-presidente Nestor Kirchner, morto em 2010. Bonadio também solicitou os mesmos documentos do empresário Lázaro Báez entregues à AFIP. Báez tem negócios com a família Kirchner.
O juiz quer saber se a Hotesur, empresa que dos Kirchner que administra um de seus hoteis, o Alto Calafate, é, na verdade, apenas o fio da meada de um esquema de "lavagem de dinheiro", como informou o jornalista Nicolás Wiñazid no jornal Clarin desta quinta.
O caso poderia envolver o hotel mais famoso dos Kirchner, o Los Sauces, perto da casa da presidente na província de Santa Cruz, na Patagônia.
Segundo a reportagem do Clarin, Báez teria recebido dinheiro público para obras e em troca conseguiria hóspedes para os hotéis da família presidencial.
Báez está sendo investigado por contas sem declarar no Uruguai, na Suíça, nos Estados Unidos e na própria Argentina.
Assessores do governo reconheceram que a empresa Hotesur não estava em dia com o fisco e passaram a atacar o juiz do caso. Primeiro, foi a própria presidente e depois parlamentares governistas. O senador kirchnerista Marcelo Fuentes fez uma denúncia judicial contra o juiz por "enriquecimento ilícito" e "abuso de autoridade".
Nesta quinta, o chefe dos fiscais, Ricardo Echegarray, falou sobre outros argentinos com contas na Suíça.
Uma guerra de denúncias que para especialistas e opositores pode ser só o começo de muitos problemas para Cristina explicar sua fortuna.
Nenhum comentário:
Postar um comentário