sábado, 29 de novembro de 2014

Na Argentina e no exterior processos judiciais angustiam o governo

Do editor ao leitor


Ricardo Kirschbaum

Se existe alguma utilidade em escutar o chefe de Gabinete Jorge Capitanich todos os dias de manhã é medir a temperatura do poder.
Buenos Aires, 24 de novembro de 2014

Isso, com algumas objeções porque também há dúvidas de quanto o chefe de gabinete diz em nome da presidente e quanto ele acrescenta por conta própria para agradar Cristina Kirchner e seu estreitíssimo grupo de assessores.

Além disso, a acusação de "golpistas" aos juízes foi uma reiteração de um roteiro conhecido: qualquer fato que contradiga o pensamento oficial é suspeito e faz parte de alguma conspiração.

Simultaneamente, o advogado Eduardo Barcesat, de cuja simpatia pelo governo ninguém pode duvidar, apresentou uma denúncia por "sedição" contra os senadores opositores que anunciaram que não votarão nenhum substituto para o juiz Zaffaroni, quando ele deixar a Corte Suprema.

Barcesat, um conhecido advogado de longa militância na esquerda e em órgãos de direitos humanos, anunciou o recurso judicial em uma entrevista com Víctor Hugo Morales, que o instou a incluir na denúncia de sedição os veículos de comunicação que publicaram a notícia. A sugestão de Víctor Hugo não foi uma ingenuidade, mas até Barcesat percebeu a inconveniência e pisou no breque.

Tanto Capitanich quanto Barcesat, que expressa o pensamento do núcleo mais duro do governo, reagem assim em momentos em que as investigações envolvem a presidente e seu grupo familiar.

O nervo está ficando exposto e isso é o que mais inquieta o governo. Apesar do empenho de Capitanich em qualificar juízes por atitudes golpistas, existem outros juízes que têm feito da lentidão nas investigações uma característica relevante. As causas contra o suposto testa de ferro do kirchnerismo Lázaro Báez na Suíça, por exemplo, podem cair se a Justiça argentina não demonstrar interesse. A mesma coisa acontece com o Uruguai, um elo importante na rota do dinheiro K. Em ambos os casos o Ministério das Relações Exteriores foi apontado como responsável por dilações, algumas sem explicações, embora o ministério tenha rejeitado essas acusações.

A verdade é com formalidades, pedidos judiciais não respondidos e outros artifícios, o objetivo é mostrar à Justiça suíça e à uruguaia que não existe nem interesse nem vontade de que essas investigações por lavagem de dinheiro prosperem.

No entanto, a preocupação central continua sendo uma: que informação os fundos abutres têm sobre as contas de Lázaro Báez e de membros da família Kirchner?

Dizem que o governador de Buenos Aires Daniel Scioli escutou o ministro da Economia Axel Kicillof falar que não haverá acordo com os abutres depois de janeiro, como se supunha até poucos dias atrás.

Se for assim, vai haver muitos problemas.

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