Do editor ao leitor
Ricardo Kirschbaum
Se existe alguma utilidade
em escutar o chefe de Gabinete Jorge Capitanich todos os dias de manhã
é medir a temperatura do poder.
Isso, com algumas objeções porque também há dúvidas de quanto o chefe de gabinete diz em nome da presidente e quanto ele acrescenta por conta própria para agradar Cristina Kirchner e seu estreitíssimo grupo de assessores.
Além disso, a acusação de "golpistas" aos juízes foi uma reiteração de um roteiro conhecido: qualquer fato que contradiga o pensamento oficial é suspeito e faz parte de alguma conspiração.
Simultaneamente, o advogado Eduardo Barcesat, de cuja simpatia pelo governo ninguém pode duvidar, apresentou uma denúncia por "sedição" contra os senadores opositores que anunciaram que não votarão nenhum substituto para o juiz Zaffaroni, quando ele deixar a Corte Suprema.
Barcesat, um conhecido advogado de longa militância na esquerda e em órgãos de direitos humanos, anunciou o recurso judicial em uma entrevista com Víctor Hugo Morales, que o instou a incluir na denúncia de sedição os veículos de comunicação que publicaram a notícia. A sugestão de Víctor Hugo não foi uma ingenuidade, mas até Barcesat percebeu a inconveniência e pisou no breque.
Tanto Capitanich quanto Barcesat, que expressa o pensamento do núcleo mais duro do governo, reagem assim em momentos em que as investigações envolvem a presidente e seu grupo familiar.
O nervo está ficando exposto e isso é o que mais inquieta o governo. Apesar do empenho de Capitanich em qualificar juízes por atitudes golpistas, existem outros juízes que têm feito da lentidão nas investigações uma característica relevante. As causas contra o suposto testa de ferro do kirchnerismo Lázaro Báez na Suíça, por exemplo, podem cair se a Justiça argentina não demonstrar interesse. A mesma coisa acontece com o Uruguai, um elo importante na rota do dinheiro K. Em ambos os casos o Ministério das Relações Exteriores foi apontado como responsável por dilações, algumas sem explicações, embora o ministério tenha rejeitado essas acusações.
A verdade é com formalidades, pedidos judiciais não respondidos e outros artifícios, o objetivo é mostrar à Justiça suíça e à uruguaia que não existe nem interesse nem vontade de que essas investigações por lavagem de dinheiro prosperem.
No entanto, a preocupação central continua sendo uma: que informação os fundos abutres têm sobre as contas de Lázaro Báez e de membros da família Kirchner?
Dizem que o governador de Buenos Aires Daniel Scioli escutou o ministro da Economia Axel Kicillof falar que não haverá acordo com os abutres depois de janeiro, como se supunha até poucos dias atrás.
Se for assim, vai haver muitos problemas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário