A oposição no Congresso
demonstrou ceticismo em relação ao ajuste gradual anunciado nesta
quinta-feira pelo futuro ministro da Fazenda Joaquim Levy. O sucessor do
atual ministro Guido Mantega afirmou que o governo irá buscar uma meta
de superávit primário de 1,2% do PIB no próximo ano e de "não menos que
2%" em 2016 e 2017. "O anúncio vai na direção certa, mas resta saber se o
Levy combinou isso com o PT e a presidente Dilma Rousseff. O fato dela
não estar à frente do anúncio dos novos nomes é estranho. Este é o nó da
questão", disse o presidente nacional do DEM, senador José Agripino
Maia (RN).
Candidato derrotado à presidência, o senador Aécio Neves (PSDB-MG),
presidente nacional do PSDB, se manifestou em uma nota dura contra
Dilma, a quem acusou de mentir ao país durante a campanha eleitoral com
seu "discurso recheado de bondades". Lembrou que Levy faz o anúncio de
ajuste gradual no momento em que o governo tenta aprovar uma alteração
das metas de superávit para este ano. "Afinal, qual é o verdadeiro rosto
do novo governo Dilma Rousseff? Refém de tantas contradições, o governo
corre o risco de não ter nenhum", diz Aécio na nota.
Os líderes da oposição reconheceram que a política anunciada por
Levy, calcada na redução de gastos públicos, não é essencialmente
diferente da defendida pelo PSDB durante a campanha presidencial. Mas
realçaram a fragilidade política do futuro ministro. "Joaquim Levy irá
andar no fio da navalha", afirmou o senador Aloysio Nunes Ferreira Filho
(PSDB-SP), líder da bancada na Casa e candidato a vice na chapa de
Aécio. "O maior inimigo do novo ministro será o próprio PT. Perto do que
o PT fará com ele, a nossa oposição será suave", comentou o deputado
Mendonça Filho (DEM-PE), líder do partido na Câmara.
Segundo Aloysio, " a própria Dilma disse no passado que uma meta
plurianual de superávit primário era uma proposta rudimentar", em uma
referência à proposta feita em 2005 pelo então ministro da Fazenda,
Antonio Palocci, que institucionalizava a politica fiscal superavitária
do governo. "O que temos por enquanto no Congresso é uma proposta para
ser votada eliminando a menção ao superávit primário este ano, como
forma de se escapar de sanções legais no futuro", disse o senador. Na
próxima semana, o plenário do Congresso deve votar a proposta de
alteração da LDO que elimina a menção à meta de superávit em 2014.
No Rio, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso preconizou que o
futuro governo da presidente pode enfrentar "um tremendo problema
político" e até a judicialização de decisões importantes porque "não tem
condições efetivas de hegemonia no Congresso", onde constituiu sua base
calcada não em afinidade de propostas mas sobre "troca de favores".
Para ele, até agora foi possível empurrar a governabilidade com a
barriga porque a situação econômica não era aflitiva. Mas Fernando
Henrique previu que, se a situação social e econômica se agravar, "é
possível que a saída seja a judicialização das decisões". (Valor)
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