O presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República,
Alexandre Camanho de Assis (foto), afirmou nesta sexta-feira (28), durante
evento em Maceió (AL),
acreditar que a operação Lava Jato deve ter efeito similar à operação
Mãos Limpas, na década de 90 na Itália, que resultou em prisões,
condenações, extinção de partidos e redução de preços de obras públicas.
"Se Deus quiser, a Lava Jato terá um efeito aqui parecido com a
operação Mãos Limpas da Itália. Se as coisas correrem bem, pode ocorrer
algo aqui igual, ou seja, partidos políticos fechados, com prisões e
condenações. Temos a perspectiva de que isso ocorra", disse Assis, que
participou do 12º Congresso Nacional do Ministério Público de Contas.
Nos anos 90, a operação Mãos Limpas investigou mais de 5.000 pessoas
envolvidas em casos de corrupção na Itália. Um dos punidos no escândalo
foi o líder do PSI (Partido Socialista Italiano) e ex-primeiro-ministro
Bettino Craxi. Alguns suspeitos chegaram a cometer suicídio, como o presidente da
estatal do petróleo ENI, Gabriele Cagliari; e o empresário Raul Gardini.
Estudos apontam que, após a operação, o valor médio das obras públicas
caiu. Partidos também fecharam as portas após o escândalo.
Para o presidente da associação de procuradores, o Brasil caminha nessa
direção ao registrar avanços significativos no combate ao crime de
colarinho branco nos últimos anos. "Nesta última década, a legislação tornou o combate à corrupção uma
coisa mais fácil e com aparelhamento muito maior, prova disso é a
operação Lava Jato", afirmou.
Assis ainda fez uma defesa de uma força maior aos ministérios públicos
do país, que deveriam ser um "novo poder constituído." "Faço aqui um
exercício de futuro. Seria o quarto poder no país um
poder fiscal? No combate à corrupção, como em tantas outras coisas,
pressupõe a necessária instrumentalização para combater o mal, o câncer
público, e que se preserve o Estado funcionando bem com a estrutura de
cidadania", disse.
O procurador fez uma comparação da legislação de outros países e disse
que não haverá avanços sociais plenos sem combate forte à corrupção.
"Não há país no mundo que tenha conseguido melhora suas prestações com a
sociedade que não tenha acordado para o fato de que é preciso
fiscalizar a aplicação do dinheiro, se administração está se
desempenhado bem. Essa tarefa se tornou algo básico nas democracias
contemporâneas. Para isso, é preciso ter um MP à altura dessa imensa
responsabilidade."
Ainda durante os debates, o procurador da República Rodrigo Tenório
ainda criticou o argumento que alguns advogados das empresas acusadas na
Lava Jato usaram para o caso. "É risível que eles aleguem que foram extorquidos. Quer dizer que o
sujeito é extorquido para ficar milionário? Não tem qualquer
fundamento", disse.
Efeito didático do mensalão
O avanço do combate à corrupção no Brasil também foi levantado pelo
procurador da República José Alfredo de Paula Silva --um dos atuaram no
processo do Mensalão. Ele defendeu a tese de "efeito didático" da
condenação dos acusados no escândalo durante o primeiro mandato do
governo Lula.
"O Alberto Yousseff e o Paulo Roberto Costa eram operadores de um
esquema. E eles só abriram a boca porque viram o que aconteceu Marcos
Valério. Ele está preso! E não teve reforma de presídio para ele, que
está comendo o pão que o diabo amassou, como todos os outros presos",
afirmou.
O procurador afirmou ainda como acredita funcionar a mente dos
corruptos. "Nos crimes de colarinho branco, o raciocínio é bem simples: o
pretenso
criminoso faz uma relação de custo/benefício para ver se vale a pena
delinquir. A impunidade entra como um estímulo. O mensalão quebra esse
paradigma, já que a ação tem começo, meio e fim, o que não ocorria nesse
país --nem para uma condenação, nem para uma absolvição", disse.(UOL)
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